*Derek Bittar é cofundador da Indicator Capital
De repente, tudo mudou e nada será como antigamente. A tecnologia é assim: muito cedo, ainda cedo e, de repente, tarde. O desenvolvimento de infraestruturas tecnológicas leva tempo, mas uma vez instaladas, a tecnologia invade a sociedade de forma inevitável.
E assim, um dia acordamos e nos deparamos com a discussão sobre os paradoxos do avanço acelerado da inteligência artificial (IA). Todos viramos especialistas no tópico que não pode faltar em um bom repertório de bar. Convenhamos, quem ainda não testou o ChatGPT não sabe o que está perdendo; e dizem as más-línguas que a sua primeira pergunta para o ChatGPT você nunca esquece.
Como de prática, eu busco trazer uma visão simples sobre uma cadeia de transformações digitais que mudarão nossas vidas. A maioria dessas tecnologias passam despercebidas pelo cidadão comum, que apenas usufrui das interfaces finais. Mas, o fato é que essas tecnologias formam camadas profundas de um sistema tecnológico e também são conhecidas como deep tech.
Antes de mais nada, permita me apresentar. Prazer, Derek, geek de paixão e cofundador da Indicator Capital de profissão. Talvez você ainda não tenha ouvido falar da Indicator. Tudo bem, afinal, somos apenas um ator coadjuvante do sucesso dos empreendedores nos quais investimos. Mas hoje, já somos a gestora de venture capital líder nacional no investimento early-stage em startups deep tech. E acredite, com nove anos desde a nossa fundação, estamos apenas no começo!
Inteligência artificial: uma ameaça à humanidade?
Filmes de ficção científica como Matrix ou Exterminador do Futuro, bem como os livros de Isaac Asimov ganharam os holofotes sensacionalistas da discussão atual. Imaginar um futuro no qual uma inteligência artificial generativa (IAG) assume o controle da humanidade é uma narrativa fascinante. Porém, a transformação mais impactante que a inteligência artificial traz não é a sua ameaça para a humanidade, mas sim a sua potencialização.
Esse debate tem se acirrado pois, pela primeira vez após a revolução industrial, a humanidade se depara com uma transformação digital capaz de redefinir completamente a paisagem produtiva mundial. Porém, existe uma diferença fundamental entre ambas revoluções. A inteligência artificial tem um fator de aceleração ainda desconhecido pelos livros de história.
A inteligência artificial é um exemplo proeminente de tecnologia deep tech, podendo ser aplicada em camadas mais profundas de outras tecnologias. O termo “deep” denota que a IA atua como um impulsionador tanto da produtividade individual quanto coletiva. Enquanto os indivíduos podem se beneficiar do uso da IA em suas atividades, ela também pode ser integrada em processos produtivos amplamente.
No entanto, a inteligência artificial generativa possui uma capacidade singular: a habilidade de se autogerar e modificar suas funcionalidades com base em seu próprio poder “intelectual”. Essa característica de autoadaptação implica em um fator de aceleração extraordinário, potencializando ainda mais o seu poder de transformação, fazendo com que muitos especialistas a considerem uma ameaça, um monstro. Mas para se desenvolver, esse “monstro” precisa ser alimentado com dados.
Data is the new oil
A expressão mais cringe da indústria de inteligência de dados demorou, mas sua hora chegou: data is the new oil. Mas como é possível minerar e monetizar esses recursos tão valiosos para depois, então, servi-los de alimento para esse monstro de aceleração produtiva imparável?
Dados não nascem simplesmente dentro do código. Eles precisam ser inputados em um sistema. Talvez, a forma mais rudimentar da originação de dados seja o nosso dedo. A cada swipe & click que fazemos em um aplicativo de mídia social, ocorre o fenômeno singular coleta de um novo dado que será processado. Inúmeros algoritmos ou IA são aplicados para se retornar uma melhor experiência para o usuário, bem como promover um produto com maior taxa de conversão.
O dedo certamente não é a forma mais tecnológica de se coletar informações, muito menos a mais escalável. Afinal, para cada ser humano da Terra existe uma capacidade máxima de swipes & clicks por minuto. O monstro devorador de dados tem fome e precisa ser alimentado de outras formas, além dos cliques. Logo, a cada dia, mais e mais sensores invadem as nossas rotinas para capturar dados do mundo físico, dando uma escala extraordinariamente superior para a mineração de dados.
Sejam máquinas no chão de fábrica, tratores no campo, sinais de trânsito ou instrumentos hospitalares, milhares de sensores estão sendo conectados diariamente para aumentar a produtividade por meio da inteligência de dados. E essa nova rede profunda de informações faz parte de uma vertente deep tech também conhecida como Internet das Coisas (IoT).
A Internet das Coisas onipresente
A Internet das Coisas não é uma tecnologia única, mas sim uma rede de dispositivos interconectados que capturam informações e se comunicam entre si e em nuvem. A estes aplicam-se protocolos de inteligência e de segurança para serem utilizados com inúmeras finalidades produtivas.
Seja em nossas rotinas pessoais ou profissionais, já não percebemos as inúmeras interações que fazemos com os diversos sistemas de internet das coisas. O mercado de IoT tem crescido rapidamente nos últimos anos e deve chegar a 35 bilhões de dispositivos conectados até 2025. Até lá, estima-se que 75% de todos os aparelhos do mundo estarão conectados. Como comparação, esse número era menor que 25% apenas dez anos atrás. E a chegada do 5G serve como espinha dorsal do desenvolvimento destas diversas tecnologias.
Para operar, essas coisas conectadas precisam de uma conectividade ininterrupta, seja dentro ou fora de casa. O maior impacto do 5G na IoT é a sua capacidade de conectar simultaneamente um grande número de dispositivos. A velocidade de conexão rápida e a baixa latência do 5G permitem a transferência e análise de dados em tempo real. Esses insights podem ser utilizados para otimizar operações, aprimorar a experiência do cliente e impulsionar a inovação.
Discretamente, essas tecnologias já nos monitoram 24/7. E a cada dia que passa, mais e mais aplicações surgem, impulsionando um ecossistema nascente de oportunidades. Desde o lançamento do fundo Indicator 2 IoT, já avaliamos mais de 600 startups de Internet das Coisas, conforme mostram os gráficos abaixo:
Diante destas oportunidades tecnológicas, as startups de IoT surfam grandes ondas tecnológicas sobrepostas. Seja a velocidade com a qual inteligências de dados estão se desenvolvendo, ou a chegada do 5G e conectividade de baixa latência, inúmeros pequenos negócios inovadores surgem se aproveitando desta nova economia e precisam de investimento para crescer.
Na Indicator, trabalhamos a quatro mãos com os mais diversos empreendedores para impulsionar estes negócios promissores. A demanda por esta transformação é pujante e atuamos com a certeza de que não faltam oportunidades de crescimento para o segmento. Afinal, se tem uma casa que alimentará essa fome insaciável por dados conectados, esta casa chama-se Indicator Capital.