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Alternativas para startups sobreviverem à crise

Venture debt, bootstrapping, crowdfunding, ou mesmo deixar a empresa dormente, mostram-se como algumas respostas

Foto: Canva
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*Luciana Spina, da área de M&A e Societário do VBSO Advogados, e Lucas Magalhães, head de aceleração do Apoema Hub

No cenário atual, com a oferta de crédito limitada, a Bolsa de valores brasileira (B3) com queda anual de 20,5% em volume financeiro e valuations baixos, as startups estão sofrendo – a fonte secou! Segundo relatório divulgado pelo TTR, foram realizadas 101 rodadas de investimento de Venture Capital no primeiro trimestre de 2023, o que resulta em uma queda de 57% no número de transações comparativamente ao período do ano anterior.

Além dos elementos econômicos negativos, é também possível observar o amadurecimento do próprio mercado, que vem se tornando muito mais criterioso, aprendendo com seus próprios erros e aprimorando as métricas de avaliação de negócios. Neste contexto de escassez, o capital passou a priorizar startups com características como resiliência, solidez e capacidade de crescimento orgânico e consistente, ainda que esse tipo de negócio seja menos exponencial do que aquele que depende de rodadas seguidas de investimento para financiar seu crescimento.

Fato é que, mesmo superadas as adversidades econômicas, os anos que marcaram o advento de unicórnios atrás de unicórnios dificilmente se repetirão. Com a desaceleração do mercado, as startups podem encontrar vulnerabilidade na manutenção de seus negócios. Para esse cenário, o Venture Debt, o Bootstrapping, o Crowdfunding, ou mesmo deixar a empresa dormente, mostram-se como algumas respostas diversificadas para a sobrevivência das startups.

Caminhos para sobreviver

O Venture Debt tem se mostrado uma alternativa importante para a escassez e o encarecimento dos investimentos via equity. Trata-se de formato de uma dívida não conversível, e, portanto, sem diluição da base acionária da empresa, mas com taxas de juros altas e prêmios normalmente atrelados à performance financeira da empresa, com garantias reais de recebíveis ou ativos. Essa modalidade de investimento já alavancou empresas de sucesso como Spotify, Uber e Airbnb.

Apesar de tradicional nos EUA, ela vem sendo praticada no Brasil desde 2018, contando atualmente com players relevantes do mercado financeiro e até mesmo fintechs. Entretanto, essa alternativa é apenas viável para empresas que já possuem receita recorrente, o que pode limitar o Venture Debt a algumas startups mais maduras tanto do ponto de vista financeiro quanto jurídico.

Isso porque, muitas vezes os contratos que envolvem esse tipo de investimento determinam mecanismos de proteção aos investidores, que podem interromper o fluxo de financiamento caso indicadores demonstrem a baixa capacidade de liquidez do negócio para pagamento do empréstimo.

Outra opção é o Bootstrapping, que consiste na aplicação dos recursos dos próprios empreendedores ou, ainda, na aplicação dos recursos provenientes do retorno dos primeiros clientes do negócio. Assim, como aspecto positivo, o Bootstrapping proporciona autonomia, uma vez que o empreendedor detém o controle da empresa. Por outro lado, essa autonomia vem acompanhada do risco financeiro da operação e, ainda, o desenvolvimento do negócio pode ser mais lento, dado que os recursos são limitados nessa modalidade.

Para as empresas que já receberam algum tipo de investimento, seja de investidor anjo, seja de fundos de Venture Capital, tem-se observado o movimento de fundadores recomprando tais investidores. A razão disso é o desalinhamento de expectativas e a necessidade, muitas vezes, de mudanças radicais no plano de negócios.

Como esses investidores entraram na empresa com alta expectativa de escalabilidade do negócio, e dado o contexto econômico atual, eles deixaram de estar comprometidos com futuras capitalizações no negócio e os sócios-fundadores, por sua vez, por possuírem uma maior visão a longo prazo, enxergam esse cenário como oportunidade de recomprar essas participações, para ter maior liberdade na gestão e mudança de curso da empresa.

Por fim, e talvez a decisão mais difícil para o empreendedor, há a possibilidade de desacelerar ou de pausar as atividades da empresa – e, assim, reduzir seus custos operacionais, como tributos, obrigações societárias, obrigações fiscais e folha de pagamento – a partir da conversão à condição de empresa dormente. É necessário considerar que desacelerar ou pausar o negócio pode implicar em altos custos a curto prazo, como a demissão de funcionários, mas, a médio prazo, pode ser uma forma de preservar os ativos criados, que ficam no aguardo de um momento econômico mais favorável para o retorno aos negócios e do recebimento de novos investimentos.

Essas são possibilidades que os empreendedores devem avaliar num momento de crise como a que estamos enfrentando, sobretudo para quem busca alternativas criativas em um mercado de crédito e de desenvolvimento de negócios marcado por limitações, como é o caso do cenário nacional.

Seja qual for o caminho escolhido, é indispensável para as startups reconhecerem que a forma como seus negócios estão estruturados passa cada vez mais a ser um fator fundamental para sua continuidade, seja do ponto de vista de negócio a fim de se buscar o máximo de eficiência em sua operação alinhada a uma visão estratégica clara e adaptável a cenários futuros, seja do ponto de vista jurídico, a fim de estar bem-preparada para recepção de investimentos, independentemente de sua natureza.