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Aprendizados sobre gestão financeira após colapso bancário nos EUA

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*Raphael Dyxklay é co-fundador da Barte

Nos últimos dias, presenciamos uma escalada de notícias no setor bancário que nos surpreende pela velocidade dos acontecimentos. A do Silicon Valley Bank (SVB), por exemplo, foi de um banco sólido para um caso de colapso em menos de 48 horas. Poucos dias antes, dois outros bancos americanos (Silvergate e Signature) fecharam as portas. Por último, o Credit Suisse passou a ser alvo de uma ameaça similar. 

Aqui no Brasil, tanto startups quanto pequenas e médias empresas vão sofrer impactos. No caso das startups, abrem-se riscos de liquidez, valuations e uma necessidade maior de enfrentarem objeções em torno de sua solidez e credibilidade. Se tratando das PMEs, o principal risco reside sobre seu fluxo de caixa, uma vez que fatores estruturais podem dificultar seu financiamento.

O centro de pesquisa CB Insights lançou recentemente um estudo a respeito dos desdobramentos em cadeia que a quebra do SVB gera para as startups. Nele, se discute que o intervalo entre rodadas de investimento em 2022 se tornou cerca de 6 meses mais longo do que em 2021. Esse fato fez com que as empresas buscassem opções de financiamento tradicionais. Contudo, a insegurança sobre o setor bancário vai restringir essas mesmas opções de crédito. 

Especificamente no Brasil, os bancos são menos alavancados e, consequentemente, sofrerão pouco. Mas casos como das Lojas Americanas prejudicou sua capacidade de captar recursos para ofertar crédito – além da SELIC alta ser um agravante. Startups e PMEs devem ter menos opções para financiamento. Diante desse contexto, separei dicas para empreendedores minimizarem os riscos financeiros em seus negócios:  

1. Siga essas boas práticas

A gestão financeira da startup precisa seguir boas práticas que evitem exposição a novos casos de colapso. É importante ter conta em diversas instituições dentro e fora do Brasil, distribuir seu caixa e entender o quanto de seus depósitos estão cobertos por seguros (como o FDIC nos Estados Unidos e o FGC no Brasil).  Vale também entender a maturidade do portfólio de investimentos do seu banco – já que o investimento em ativos pouco líquidos foi o gatilho para a quebra do SVB.

Em contrapartida, se uma startup faz seu dever de casa, pode ser que seus concorrentes não tenham a mesma diligência. Atravessar esse vale, portanto, deve permitir com que os investidores a vejam como alternativa mais promissora para a liderança em sua categoria, e esse fator equilibre novamente seu poder de barganha, defendendo termos justos em uma futura rodada de capital. 

2. Escolha financiamentos com algum tipo de garantia

Caso você consiga cobrar do seu cliente no cartão parcelado, por exemplo, a antecipação dessas parcelas fica como um crédito barato em comparação ao empréstimo empresarial sem garantia. Basta buscar um parceiro de pagamentos que entenda a idoneidade do seu modelo de negócio e possa financiá-lo com taxas justas. No mercado, taxas entre 1.8% e 2.5% ao mês são bastante factíveis a depender do porte do seu negócio. 

3. Adote uma estratégia conservadora e transparente com o seu time

Especificamente no caso de startups, que usam rodadas de investimento para expandir seu negócio, as alternativas de empréstimo se tornam mais restritas e caras, aumentando o poder de barganha dos investidores de risco que aportam valores nas rodadas. Isso permite que esses investidores exijam condições mais atraentes para eles. Dois exemplos são: buscar uma fatia maior da empresa por um mesmo valor investido e exigir cláusulas de contrato que protegem os interesses dos investidores.

Uma boa forma do empreendedor reduzir os danos aqui é diluir seu plano de crescimento durante um período maior, focar seus investimentos apenas em iniciativas que possam gerar impacto financeiro anterior a próxima rodada de investimento e sempre alinhar expectativas de produtividade com sua equipe. 

Não é impossível que seja necessário que alguns membros “acumulem chapéus”, ou seja, conciliem mais de uma área ou escopo dentro da empresa. É estressante, mas é melhor que jogar debaixo do tapete. Caso você já tenha investidores, busque um realinhamento sobre a situação de mercado e expectativas a curto prazo.

4. Credibilidade é uma moeda valiosa. Aprenda a negociá-la.

Tanto startups quanto PMEs já começaram a serem questionadas pelos clientes em relação a sua solidez. É natural que momentos de crise impactem principalmente em negócios menores. Essa objeção velada também vai permear a aquisição de novos clientes. Portanto, é preciso pecar pelo preciosismo, tanto com investimentos que geram credibilidade quanto com treinamentos internos para demonstrar essa credibilidade.

Começando pelos investimentos, o gestor pode reforçar seus materiais de depoimentos de clientes, melhorar sua reputação em sites de avaliação, firmar parcerias com empresas de renome, utilizar design que transmita profissionalismo em site e redes sociais, bem como conteúdos em sua estratégia de marketing que busquem refletir intencionalmente como a empresa é respeitada no mercado de forma natural e inteligente. Dessa forma, é possível evitar a sensação de “estar se explicando demais”. 

Esses quatro passos vão garantir uma gestão financeira saudável para minimizar os riscos diante de crises e manter a estabilidade a longo prazo. Aqueles que conseguirem superar esses desafios estarão em uma posição mais vantajosa para se destacar no mercado, conquistando a confiança de clientes e investidores.

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