* Flávia Mello, cofundadora do Sororitê, e Marina Ratton, fundadora da Feel
O termo femtech foi criado pela dinamarquesa Ida Tin, que em 2013, lançou, na Alemanha, o Clue – aplicativo de rastreamento de ovulação – e significa empresa ou startup de tecnologia e/ou software desenvolvido para atender as necessidades biológicas da mulher relacionadas à saúde e bem-estar íntimo/sexual, oferecendo melhor qualidade de vida e prazer na intimidade.
As femtechs fornecem soluções para a saúde das mulheres em várias condições específicas, incluindo saúde materna, menstrual, fertilidade, gestação, menopausa, contracepção e até sexual. De acordo com o estudo Femtech Landscape Report realizado em 2021, existem 97 condições de saúde que afetam, exclusivamente ou em maior grau, as mulheres, o que demonstra que empresas e inovações têm um grande mercado endereçável. Considerando que as mulheres representam cerca de 50% da população mundial e gastam aproximadamente US$ 500 bilhões anuais em despesas médicas – segundo a PitchBook – podemos afirmar que existem boas oportunidades de investimento no setor.
Em 2019, a indústria femtech gerou US$ 820,6 milhões em receita global e recebeu US$ 592 milhões em investimentos de capital de risco. Os números impressionam, mas não chegam nem perto do que seria ideal para esse mercado. Embora as projeções de faturamento, globalmente, sejam boas, no Brasil há um caminho para ser desbravado, principalmente na conquista por capital em estágio inicial.
De acordo com o Female Founders Report 2021, apenas 3% das healthtechs brasileiras são voltadas para a saúde feminina. Para dar uma ideia comparativa, o mercado dos EUA tem 763 femtechs e o Brasil, 23. A conclusão é que o país está engatinhando nesse mercado, mas – por outro lado – também quer dizer que ainda há muita oportunidade, tanto para as 23 startups que já existem como para as futuras fundadoras que querem resolver problemas relacionados à saúde da mulher.
A oportunidade de negócio no setor aqueceu a partir da constatação de uma fragmentação quando olhamos para a saúde da mulher – resultado da falta de empresas que ofereçam uma jornada completa de cuidados e tratamentos. A ausência de dados e pesquisas científicas também evidenciam a necessidade de um olhar mais atento para o tema. E assim o mercado de femtechs ganha mais visibilidade no país e assuntos relacionados ao universo da saúde feminina começa a ser tratada com aprofundamento, trazendo a mulher para o centro do desenvolvimento de soluções.
Para acelerar esse movimento é preciso educar investidores sobre esse mercado, que constantemente é desprezado nas estratégias de portfólio. Olhando, por exemplo, só o tema da menstruação, são cerca de 60 milhões de mulheres menstruando todos os meses no Brasil e ainda ouvimos que é um mercado de nicho.