* Bruno Diniz é cofundador da Spiralem, diretor América Latina na Financial Data and Technology Association (FDATA), e professor nos cursos de MBA da Universidade de São Paulo (USP ESALQ).
Os serviços financeiros nunca estiveram tão democratizados quanto nos dias de hoje. Apesar de ainda haver um número relevante de brasileiros que não dispõem de acesso adequado a produtos básicos para conduzir suas vidas financeiras, dados do Instituto Locomotiva levantados no início de 2021, apontam, por exemplo, que 34 milhões de brasileiros estão desbancarizados ou utilizam suas contas com pouca frequência, é inegável o progresso que presenciamos nos últimos anos nesse quesito.
A evolução da regulamentação do setor, aliada à redução dos custos de tecnologia, promoveram um grande processo de abertura do mercado e alteraram o comportamento do consumidor, fazendo com que os bancos deixassem de ser a principal via para cuidarmos das nossas finanças. Tudo isso possibilitou a chegada não apenas das fintechs, mas também de empresas de setores como varejo, telecomunicações e tecnologia com suas próprias iniciativas, todas almejando uma parte do novo e altamente competitivo mercado financeiro.
Em meu novo livro “A nova lógica financeira”, busquei refletir justamente sobre esse cenário de mudanças que se intensifica ainda mais quando conectado a inovações e conceitos que já fazem parte da vida do cliente, como o Pix, e outros que ainda são novos e se tornarão cada vez mais presentes ao longo do tempo, a exemplo do Open Finance e Banking as a Platform. Os avanços que tivemos até o momento no mercado financeiro graças ao fenômeno fintech, já foram capazes de redefinir aspectos relacionados à eficiência, experiência do usuário e custos dos serviços. Contudo, veremos novas fronteiras sendo desbravadas daqui por diante.
Complexo campo de batalha
A meu ver, estamos diante de uma nova realidade que não se restringe apenas a bancos de um lado e fintechs do outro. Agora, o que se apresenta, é um campo de batalha mais complexo que passa a acomodar empresas de diferentes setores munidas com a capacidade de fazer ofertas financeiras digitais a uma base própria e já estabelecida de clientes. Ao passo que essa nova reconfiguração traz elementos inéditos para as relações entre prestadores de serviços e seus clientes, gerando diversos benefícios para os consumidores, surgem também oportunidades e desafios inéditos para empresas, bancos e profissionais do mercado financeiro.
Quanto aos consumidores, trata-se de uma revolução no que se diz respeito às relações de consumo e a oportunidade de vivenciarmos serviços financeiros contextuais, ofertados dentro de nossas jornadas cotidianas em momentos críticos nos quais precisamos deles. A partir daí, será aberto espaço para novas experiências, tanto financeiras quanto não financeiras, que passam a ser ofertadas de forma conjunta e sinérgica dentro de verdadeiros ecossistemas digitais. Trata-se de uma autonomia revolucionária da qual os consumidores não abrirão mão, e cabe aos prestadores de serviços se adequarem a essa nova realidade.
Do lado das instituições financeiras, tanto bancos quanto fintechs, veremos a ampliação da atuação destes players, que deverão agregar ofertas não financeiras ao seu ecossistema ou participar como provedores de serviços financeiros em ecossistemas de terceiros. Já olhando para os profissionais do mercado, novas possibilidades deverão se abrir acompanhadas de novos requisitos técnicos que passarão a ser exigidos.
No mercado financeiro, nunca foi tão importante desenvolver a capacidade de adaptação frente às transformações como atualmente. Os ciclos de mudanças estão ficando cada vez mais curtos e rápidos, e compreender como eles estão acontecendo (e seus desdobramentos) será vital para crescermos diante da nova lógica financeira que nos está sendo apresentada.