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* Fernando Dias é Managing Director da Migo Money Brasil e Founding Advisor da TNB Group

Você sabe o que é, de fato, uma startup?

Se você é pai ou mãe e tem mais de um filho sabe que a experiência da ‘primeira viagem’ costuma ser cumulativa. O que quero dizer com isso? Que exceto raras exceções, o caçula se beneficia do aprendizado e da maturidade adquiridos anteriormente. O mesmo raciocínio pode ser estendido ao mercado da inovação.

Enquanto a primeira geração de startups bilionárias no Brasil levou um tempo para comprovar o seu negócio e atrair capital, a segunda geração de unicórnios contou com founders mais experientes e formas de crescimento acelerada. Agora, a terceira geração promete ainda mais liquidez às empresas, levando em consideração a maturidade do mercado e a maior disposição dos investidores em participar de IPOs.

Cada vez mais maduras, as startups brasileiras crescem e aparecem, fortalecendo o ecossistema da inovação no país. Há menos negócios sendo fechados, porém com mais capital. Os primeiros meses de 2022 bateram recorde de investimento, recebendo aportes superiores, em comparação ao mesmo período de 2021.

Transformando, da noite para o dia, pessoas comuns em bilionárias, ser dono de uma startup virou o novo ‘sonho de consumo’ dos brasileiros. Não por acaso, ouvimos e vemos diferentes empresas, de todos os formatos e tamanhos, se autointitularem startups. Desde bancos bilionários a empresas de dois fundadores que sentam em uma mesa sem ter vendido um único produto, porém com um plano de negócios debaixo do braço.

Como pode se notar, não existe consenso sobre o que seja uma definição precisa, definitiva de startup. Tem muita gente (e muita empresa) disputando aspectos dessa definição. Por isso mesmo, vou contar o que nós, da TNB, que investimos em startups há mais de 5 anos, acreditamos.

Que não me venham com uma paródia do (cineasta) Gláuber Rocha. Não basta uma ideia na cabeça! Sobretudo se você não produziu, vendeu ou usou tempo suficiente para saber se funciona, ela é só isso mesmo: uma ideia.

Você pode ter a partir dela um plano de negócio projetando um faturamento na casa dos milhões de reais. Se ele tem mais base no seu sonho que na realidade concreta, há uma chance pra lá de razoável de as coisas não funcionarem exatamente como no seu pensamento.

Claro que esse plano pode (e deve) servir de guia, mas não o considere a tábua dos Dez Mandamentos. Parafraseando o ditado, mais vale um bom MVP na mão que ideias voando.

O que é um MVP (Minimum Viable Product)?

Prometo não soterrar você com siglas, mas essa é importante! O Produto Viável Mínimo, ou MVP na versão em inglês, é o produto (ou serviço, como uma versão beta de uma plataforma) que seja funcional o suficiente para ser comprado ou contratado para que o cliente possa experimentar.

Neste ponto, sim, use amigos e familiares de “cobaias”. Mas o teste de fogo virá de fato quando este produto ou serviço atingir clientes sem relação afetiva ou funcional com você.

E este é o momento de perceber que ter um chefe é melhor do que ter clientes. O chefe vai pensar um bocado e dificilmente será franco como um cliente sem cerimônias. No fim do dia, se o cliente se frustrou, o pagamento pode não vir. Ou vir uma vez e nunca mais.

No entanto, se você já passou entre seis meses e dois anos vendendo produtos a clientes que continuam satisfeitos, tem uma boa gestão e margem para manter a receita, ou seja, não vende a preço mais baixo só para acelerar o seu crescimento ou faz promoções sem sentido que não geram fidelidade, você é um forte candidato a ter uma startup.

Portanto, uma startup nada mais é do que uma empresa pequena – com 50 colaboradores ou menos, que precisa de investimento para acelerar o seu crescimento, sem contar o capital para pagar contas.

Este investimento, inclusive, pode ser usado para fazer uma nova plataforma, investir em mídia, melhorar o poder de compra com um fornecedor. Ou seja, o foco é no crescimento sustentável, poderia dizer também responsável. O preço do produto ou serviço precisa espelhar a sua estrutura de custos.

Viu? Não parece tão complexo afinal.

E é intencional. A definição do que é uma startup precisa ser simples e intuitiva, como ela própria é, isto é, ser absorvida por uma ou milhares de pessoas, de forma escalável. Sendo morfológico, start, up, começo, para cima. Startup é uma empresa pequena, que tem possibilidade de crescimento acelerado.

Portanto, o Nubank já deixou de desfilar na Liga das startups, porque está longe de ser uma empresa pequena que começou a operar há dois anos. Pelo menos raciocínio, o pipoqueiro da esquina também não entra nessa classificação, porque a natureza do milho não é a mesma da tecnologia, e o pipoqueiro não será uma empresa digital que pode crescer de forma acelerada e sustentável.

Olhando com mais detalhe o tal crescimento sustentável

Para nós, da The Next Billion (TNB), crescer de forma sustentável é investir em coisas que geram valor ao produto ou serviço frente ao cliente, sem destruir a margem de contribuição existente no produto para o mercado. Basicamente é isto.

Pela nossa definição, uma startup vai até a série B de investimento, no máximo. Estas empresas com um monte de colaboradores, que tem um escritório moderno, métodos inovadores de trabalho e uma gestão “em aprendizado” não são mais startups.

Quando sua empresa fatura mais de R$ 500 mil por mês, tem cerca de 150 colaboradores e contempla cargos gerenciais e direcionais, se quiser crescer, pode até pedir dinheiro para investidores, mas vai precisar de um plano de negócios sólido, além de mostrar conhecimento em gestão e provar como pretende escalar de forma responsável e, o mais importante, sem ganância, pois essa palavra o mercado conhece bem.

Hoje, dentro das startups, o mais comum é vermos três níveis de maturidade:

  1. Pré-seed: quando a startup só tem investimento dos fundadores e ainda está lutando pelo seu lugar ao sol. Ou seja, a ideia é boa, porém requer investimento – de tempo e dinheiro – para chegar lá.
  2. Seed: quando a startup recebe investimento anjo – normalmente abaixo de 500 mil reais. Com este dinheiro, o investimento geralmente é em mídia e/ou tecnologia, para alcançar um patamar superior de serviço ou produto.
  3. Série A: quando a startup já recebeu o investimento seed e cumpriu os objetivos a que se propôs. Neste ponto, está quase se tornando uma empresa e o investimento virá junto a um plano de negócios e um roadmap de execução e gestão muito mais robustos.

Por que é tão comum termos de maternidade em relação a startups como incubadoras? Porque falamos de um organismo que, se for saudável, tende a se desenvolver rapidamente.

Chega um momento em que a empresa avançou e já pode seguir sozinha, andar com as próprias pernas. Na TNB, já entregamos mais de 10 startups para seguir na Série A. Costumo dizer que trabalhamos com um guia simples, porém sólido. Ele serve para balizar aonde vamos investir e para onde estamos olhando quando conversamos com uma startup.

Ela precisa aprender “bons modos” desde o berço como, por exemplo, ter sempre em mente que o objetivo maior é aplicar todas as boas práticas de gestão para que o negócio dê certo e os investidores possam ser adequadamente remunerados pelo risco assumido.

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