*Robson Del Fiol, sócio-diretor líder de Emerging Giants da KPMG no Brasil
Neste momento histórico que estamos vivendo, muitas empresas estão se sobressaindo e outras estão perecendo, um fato indelével registrado nas estatísticas de mortalidade. De acordo com a pesquisa “Pulso Empresa”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 716 mil empresas já fecharam em 2020. O mesmo conteúdo revelou que 33,5% das empresas reportaram efeitos negativos com a pandemia. Outros 28,6%, porém, reportaram efeitos positivos.
Por que muitas empresas sofrem impactos negativos e, para outras, os efeitos são positivos? Uma análise mais profunda da pesquisa do IBGE evidencia que os efeitos são sentidos nos mesmos segmentos de mercado, então não é só uma questão externa (ambiente de negócios), mas também uma questão interna (gestão). Nenhum gestor estava preparado para essa pandemia, até por ter sido a primeira vez que uma crise dessas aconteceu na história recente. Mas é diferente a forma como cada um aprendeu sobre a crise, os possíveis impactos e a consequente adaptação aos novos tempos.
Empresas dependem de seus empresários e empreendedores na condução do caminho de adaptação às condições ambientais e para a descoberta de oportunidades que normalmente se escondem nas crises sistêmicas como esta. Além disso, dentre todas as características que compõem a forma de pensar dos empreendedores de sucesso, verifica-se a existência da antifragilidade ao invés da resiliência.
O conceito de antifrágil foi apresentado por Nassim Nicholas Taleb no livro “Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos”, de 2012. Nesta obra, ele critica os conceitos associados à resiliência, ou seja, critica o fato de quem é capaz de suportar situações extremas sem alterar suas características. Segundo ele, estas pessoas não se beneficiam do caos. Por outro lado, se a postura da pessoa for antifrágil, lidará com os eventos adversos e caóticos e buscará se aperfeiçoar com eles. Assim, a pessoa crescerá muito por não evitar o caos, mas por buscar tirar proveito do mesmo.
Esta atitude de antifragilidade no fundo está muito relacionada com a capacidade de lidar com as incertezas e os riscos que incorremos, o que pode ajudar o empreendedor a aceitar que existem muitas variáveis incontroláveis e inesperadas. Encarar estes fatos com maturidade e naturalidade é benéfico se ele conseguir se aperfeiçoar e apostar na crise sabendo que tipo de riscos está correndo e o porquê.
Os empreendedores que aceitaram que há uma crise sem proporções e que precisam transformar seus negócios para prosperarem já estão de certa forma com a mentalidade antifrágil. Em contrapartida, o outro grupo de empreendedores que fizeram de tudo para se manterem como eram, ou seja, preservarem seus negócios como estavam, estão na verdade adotando uma postura rígida, e que, por consequência, não será benéfica para eles próprios e para os negócios.