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*Por Felipe Gutterres, economista e conselheiro da Fábrica de Startups

É impressionante como a Inovação e a Tecnologia ainda não são vistas como pilares relevantes de desenvolvimento econômico e inclusão social pela maioria dos principais candidatos a prefeito em São Paulo e no Rio de Janeiro.

As propostas para tecnologia e inovação nos planos de governo dos sete candidatos mais bem posicionados nas pesquisas para o primeiro turno das duas principais cidades do país eram, de forma geral, vagas ou inexistentes.

As experiências internacionais bem-sucedidas de países como China, EUA, Portugal e Israel mostram que as políticas públicas para a aceleração e desenvolvimento tecnológico precisam tratar invariavelmente de quatro perspectivas principais: pessoas, capital, infraestrutura e regulação.

Entre as propostas dos candidatos, cerca de 60% deles não tratavam destes quatro pilares e aproximadamente 30% não apresentavam soluções para nenhum deles.  Entre os candidatos que fizeram propostas, os temas mais levantados, mesmo que de forma incipiente, passavam por pessoas e regulação, seguidos de infraestrutura.  Quase a totalidade dos candidatos nem mencionava o acesso a capital.

Os planos de governo são um espelho da falta de profundidade do debate sobre o impacto potencial da inovação, ciência e tecnologia no desenvolvimento econômico e social no Brasil.  Se as discussões são rasas, dissonantes e não prioritárias, não há como transformá-las em políticas públicas robustas e coordenadas nas três esferas de governo.

É lamentável que num país em crise, em que tudo é urgente e escasso, faltem o planejamento e a visão de longo prazo, mas o problema fica ainda mais agudo quando não consideramos o potencial extraordinário de criação de valor econômico e social que a aceleração digital tem.

A título de comparação, as empresas de tecnologia respondem por 39% do PIB americano, na China são responsáveis por 27% e, no Brasil, apenas 2,5%.

Recentemente, chamou atenção um argumento do Professor Sanjay Sarma, do MIT.  Segundo ele, o século XXI começará em 2021 pelo poder das idéias, das capacidades tecnológicas disponíveis e da aceleração sem precedentes causada pela Covid 19.  Nesse contexto, temos uma possibilidade real de nos reposicionarmos nesse novo mundo digital.

A China forma um milhão de engenheiros por ano.  O Brasil, no entanto, terá um descompasso entre formação e demanda de 44.000 profissionais de tecnologia por ano entre 2020-2024, segundo dados da Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação).

Essa situação de desemprego estrutural (desencontro entre as competências de quem está procurando emprego e as requeridas pelos trabalhos disponíveis) limita a nossa capacidade de crescimento em tecnologia. Ao mesmo tempo, porém, torna-se uma imensa oportunidade se definirmos como prioridade a formação técnica/tecnológica através do incentivo às escolas de programação e aos alunos, se tivermos uma política tributária diferenciada para o setor e se estabelecermos zonas de desenvolvimento econômico onde academia, incubadoras, startups, talentos, corporações e investidores estejam presentes para gerar divisas e empregos qualificados. Logicamente, respeitando as vocações de cada região.

É evidente que a agenda não está parada. Temos um novo marco legal em tramitação no Congresso, as iniciativas regulatórias do Banco Central foram catalisadores da explosão de Fintechs no Brasil, o e-commerce brasileiro é pujante e apresenta grandes oportunidades, para falar de alguns marcos importantes. Além disso, o país tem atraído grandes fluxos de capital de risco estrangeiros e locais.

Mesmo considerando os avanços, o Brasil pode muito mais.  Precisamos de um plano estratégico robusto e coordenado entre governos, sociedade e iniciativa privada, assim como uma competente e disciplinada execução das ações definidas.

Para começar, temos que perguntar para os nossos condidatos a prefeitos por que a tecnologia e inovação não são pilares relevantes de seus planos de governo.

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