* Breno Barros é CTO e head de transformação da Falconi
Depois de bater à porta por tanto tempo, o 5G finalmente chegou ao país. A internet móvel de quinta geração iniciou sua operação ainda em julho, nas cidades de Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre e João Pessoa. Em agosto, chegou a vez da megalópole São Paulo – à espreita, Goiânia, Salvador, Curitiba e Rio de Janeiro já estão na fila esperando a sua vez. Neste momento, algumas das maiores capitais do Brasil estão se abrindo para o que muitos especialistas consideram um novo capítulo da revolução digital, marcando a entrada no país da rede mais rápida para o tráfego de dados aplicada em larga escala.
E se, como todos sabem, os dados são o novo petróleo, o mundo também aprendeu que a inteligência artificial é a sua principal energia. Só que, para produzi-la de forma sustentável para os negócios (“limpa”, se nos atermos aos novos códigos), uma outra antiga nova palavra terá de ganhar força: o blockchain. Se conceitualmente (e é sempre bom relembrar) ela permite que transmissões de dados sejam realizadas de forma confiável e colaborativa, sem a presença de um agente centralizador, a tecnologia terá um papel fundamental na era do 5G.
A sua chegada no país (programada para se estender até 2028 em todo o território nacional) gerou expectativas altíssimas, principalmente no que tange o IoT (Internet das Coisas). Com bilhões de dispositivos, como eletrodomésticos inteligentes, aparelhos de monitoramento de saúde e segurança, sensores de linha de produção e muito mais, o volume de dados irá aumentar de maneira inimaginável. Segundo a Cisco, a expectativa é que 12,5 bilhões de dispositivos de IoT estejam ativos no mundo ainda este ano, movimentando quase US$ 19 trilhões. Ou seja: o 5G trará consigo uma revolução daquelas.
É justamente neste ponto que o blockchain ganha forças. Antes ainda do 5G, compreender o volume de dados já era um exercício complexo (arquitetura e governança de dados, por exemplo) e custoso (infraestrutura de processamento de dados). Depois de sua chegada, o cenário fica ainda mais complexo.
Com a expansão da transmissão da malha de rede e dos equipamentos dedicados, será natural o aumento da demanda por soluções especialistas de IA analisando tudo de forma confiável e descentralizada. É aqui que entre o blockchain. Se não soubermos lidar com esse volume massivo, não tendo as tecnologias certas, os campos de dados e IA serão ainda mais complexos e altamente custosos.
O blockchain atua diretamente em dois dos cinco “Vs” do Big Data, justamente em complemento aos outros três amplificados pelo 5G. Do lado da internet móvel, estão velocidade, volume e variedade – enquanto o blockchain ataca os pontos “veracidade” e “valor”. Mas por quê?
A tecnologia de criptografia traz segurança no sentido da confiabilidade e imutabilidade dos dados em sua arquitetura descentralizada, permitindo ter diversas cópias dos dados. E quanto maior a rede, mais cópias e, consequentemente, menores as chances de adulteração. Do lado do valor, o blockchain entra na questão da habilitação da cultura de dados, extraindo justamente valor das tecnologias por meio de informações para tomada de decisões em tempo real, confiáveis e com custo marginal zero.
Entender essas relações será papel não somente das grandes empresas, mas certamente das startups, agentes que costumam ajudar os incumbentes nas suas mudanças bruscas de rota. Aquelas que trabalham com blockchain, então, poderão agora atingir seu potencial máximo, ganhando ampliação com a força brutal e altamente escalável do 5G, ajudando seus clientes a aumentar os limites de análise de dados dos seus negócios e redução de custos – fatores que costumam ser bem-vindos em momentos de desafio econômico, tal qual nosso cenário global. Será que enfim veremos a real transformação do blockchain?