* Diogo Catão é CEO da Dome Ventures
Algumas pesquisas de mercado mostram que no ano de 2022 houve uma redução de aportes de investimentos em startups. Isso se dá, principalmente, pelo ponto de que empresas de tecnologia agora estão listadas na bolsa de valores, afetando, assim, o valuation dessas companhias. Além disso, os investidores não notam que as organizações não estão entregando os resultados planejados e esperados. Isso resulta em menos retorno financeiro e afeta a cadeia de cima para baixo, incluindo as startups.
Apesar disso, observamos também o aumento de empreendimentos voltados à inovação, como empresas de tecnologia, venture capital, corporate venture builder, inovação aberta por meio de grandes empresas, fomentando o surgimento e fortalecimento de ideias que geram soluções tecnológicas.
Sendo assim, tenho uma visão otimista de que é tudo questão de ciclos: houve um investimento exponencial em startups, já que é um mercado frutífero, tendo em vista que muitas delas têm o potencial de replicabilidade e escalabilidade. Agora há mais critério e cuidado por parte dos investidores, que se preocupam com a capacidade do retorno financeiro.
Também observo esse movimento de cautela de forma conveniente. Isso porque, no momento, os investidores se tornam mais qualificados, antenados e em sintonia com o setor. Ou seja, o cenário de investimentos em startups agora se encontra comedido, porém continua aquecido.
É importante ressaltar que essas empresas estão fazendo a sua parte, e há muito investimento vindo do governo e da iniciativa privada, que fomenta o avanço do mercado de startups.
No período de pré-seed e seed, há diversos meios de captação de recursos: venture builders, investimento-anjo, crowdfunding, entre outros. Isso permite o amadurecimento e a expansão da solução, aproximando o investidor do tão sonhado retorno financeiro satisfatório.
Além dos investimentos diretamente financeiros, há também outras perspectivas que facilitaram o caminho, como o Marco Legal das Startups. Essa lei melhora prazos, cria métodos e assegura tanto as startups como os investidores.
Portanto, houve um boom no investimento de empresas do tipo que já passou. Mas isso não significa que o mercado anda decadente, e sim que se estabilizou. Agora temos aplicações mais estratégicas que fomentam o cenário de startups no Brasil.
Já no âmbito internacional, de acordo com relatórios de 2022, é possível perceber que a questão de funding caiu cerca de 23% no segundo trimestre deste ano. Também é notável que existe uma diminuição na taxa de deals ou fechamento de investimentos entre startups.
Porém, essa queda foi muito proporcional ao que vem acontecendo no Brasil. Sendo assim, nosso país reflete o movimento mundial, em que há um entendimento financeiro da velocidade de entrega de cada startup. Entretanto, vejo tudo isso de forma positiva, já que esse movimento qualifica melhor a captação de investimentos e desenvolvimento dessas empresas.
É preciso destacar que há mercado para todas as startups. O setor ainda tem muito a oferecer; é um oceano azul para os empreendedores. A concorrência existe, mas também é possível construir seu diferencial.
Mercado a ser explorado
No Brasil, o cenário a ser explorado é gigantesco e ainda há muito para ser descoberto, porém, assim como em qualquer negócio, existem diversos meios para se destacar.
O mercado govtech, por exemplo, ainda é pouco explorado – um caminho que pode ser seguido. No entanto, é importante conhecer o poder público, que integra clientes peculiares, compreender a importância da transformação digital e se atentar para a busca de soluções que entreguem a esse setor uma gestão ágil, flexível e com benefícios para a sociedade.
Para as startups, é preciso desenvolver um modelo de negócio e precificação adequados, principalmente quando diz respeito ao mercado govtech, que difere de um B2B; é mais complexo, pois lida com o dinheiro público. Esse é um setor em crescimento que busca novas soluções tecnológicas para melhorar a qualidade de vida da população.
Minha dica para as companhias é que tenham capacidade de replicar suas soluções de forma ágil. Essa é uma maneira positiva de conquistar destaque, avaliando que se trata de uma dificuldade enfrentada por diversos negócios, incluindo as govtechs. Muitas soluções se perdem, mesmo as boas, devido ao problema de replicá-las para outros estados e prefeituras.
Ainda falando de govtechs, mas incluindo outras startups, indico que se obtenha uma solução de rápida replicabilidade, assim é possível se diferenciar e atingir com mais impacto o ecossistema.
Voltando para os investidores, acredito que precisam ter uma carteira com vários aportes e diferentes ativos. Minha dica é que, entre eles, tenham também startups, já que o setor está aquecido e existem diversas soluções que precisam de investimentos para deslancharem. Trata-se de ótima opção a médio e longo prazo.
Ainda falando de investimentos em startups, é possível segmentá-los de acordo com o perfil de cada investidor, tendo em vista que existem empresas de diversos segmentos. Assim, conseguimos diversificar os aportes de acordo com o critério de cada um.
Por exemplo, é possível criar um portfólio de investimentos em startups e diversificar a carteira, gerando possibilidades em setores variados. Além de investir em mercados diversos, é possível segmentar também o portfólio, de acordo com o nível de maturidade da empresa, balanceando os investimentos. Isso auxilia ainda o investidor no gerenciamento de risco, porque é possível diversificar o capital.
Quando se trata de startups, o principal risco é perder o capital investido. Agora uma companhia em estágio inicial, o risco é maior, pois há diversos fatores que precisam ser calculados: capacidade de entrega, risco de falência, retorno de patrimônio tardio (já que o empreendedor não consegue precisar o retorno da sua solução), liquidez, diluição, entre outros.
Em relação aos riscos que envolvem as mais maduras, e que também podem afetar as empresas em estágio inicial, são algumas ameaças inerentes como: atividades administrativas, ineficiência em alcançar receita, financiamentos, questões tributárias, riscos relacionados a fraudes, competição de mercado e outros.
Sendo assim, repito a recomendação de uma diversificação na carteira de investimentos. O investidor deve manter contato com uma equipe qualificada para cuidar do seu aporte, com empreendedores com track record positivo e com capacidade de entrega.
Uma boa ajuda nesse cenário são os benefícios oferecidos pela colaboração com empresas, que podem diminuir consideravelmente os riscos já citados. Por meio dessa parceria, é possível ter orientação profissional, trocar competição por uma estrutura colaborativa, aumento da demanda de mercado, contato com outros players, entre outras vantagens. Assim, consegue-se maximizar a performance comercial da startup investida.
Com auxílio profissional, você diminui consideravelmente os riscos do seu investimento, já que os responsáveis dessas empresas contam com experiências que colaboram com o desenvolvimento das startups e, consequentemente, do seu aporte.
Essa diminuição dos riscos está associada também ao nível de maturidade dessas empresas, que certamente já estão em um patamar mais elevado do que as startups. Dito isso, conseguimos afirmar que os desafios enfrentados pelos empreendedores seguramente já foram superados pela empresa em questão. Essa colaboração pode ser encarada como uma redução de danos e riscos.