* Rafaela Frankenthal é cofundadora da SafeSpace
No mundo das startups, tem sido cada vez maior o número de casos de sucesso envolvendo mulheres empreendedoras, que vêm desenvolvendo negócios inovadores e rentáveis. Mesmo com essa evolução, é inegável que as mulheres ainda estão sub-representadas no mercado de tecnologia. Hoje, elas precisam superar obstáculos grandes para navegar nesse universo que ainda é predominantemente masculino.
De acordo com uma pesquisa do Crunchbase, que analisou o crescimento das startups entre 2010 e 2019, o número de empreendimentos criados por mulheres avançou muito, sim, aumentando oito vezes nos últimos 10 anos. Mesmo assim, startups lideradas só por mulheres receberam 2.3% dos recursos investidos no mercado em 2020. Já as empresas fundadas por times mistos, receberam 12% em 2020. Diante deste cenário de desigualdades estruturais, o questionamento que fica é: o que os homens podem fazer para diminuir essa lacuna?
Como uma mulher criada em um contexto de muito privilégio, tive acesso a todas as oportunidades de formação possíveis e cresci rodeada de referências de sucesso profissional. Mas hoje, como empreendedora, percebo que existe uma diferença grande entre as referências que servem de exemplos, figuras que concretizam um ideal, e as pessoas que, de fato, oferecem suporte, recursos e respostas que vão te ajudar a vencer desafios e crescer rápido. Ter exemplos e referências é muito importante para ajudar a direcionar a sua carreira, para mostrar que aquele caminho é possível, mas quando estamos falando de uma trajetória tão difícil como a do empreendedorismo, ter pessoas mentoras pode ser um fator determinante para atingir o sucesso.
Apesar de diversos estudos já terem comprovado que ter mentores aumenta a chance de uma pessoa ser bem sucedida na carreira, é um fato que hoje as mulheres têm menos acesso a essa rede de apoio do que os homens. Segundo informações do Harvard Business Review, as mulheres têm 54% menos chances de ter um mentor do que os homens. Precisamos mudar este paradigma e criar uma realidade em que os homens estejam dispostos a se destacar e apoiar as mulheres e as mulheres estejam dispostas a aceitar esse apoio.
Como os homens podem ajudar?
Os homens devem dar um passo à frente para apoiar as mulheres e ajudá-las a progredir em suas carreiras. E a melhor maneira de fazer isso é se tornar um mentor. E isso não significa só assumir um papel de aconselhar e estimular. É importante que os homens consigam ir além e consigam passar a promovê-las e advogar por elas.
Ninguém questiona o valor de mentoras para as mulheres na tecnologia. Seus movimentos na carreira e sua perspectiva pessoal são necessários para inspirar e educar um número ainda relativamente pequeno de mulheres no setor. Mas para construirmos um mercado mais inclusivo, precisamos ter tanto homens quanto mulheres envolvidos no avanço da liderança feminina.
Embora muitas organizações tenham tentado combater o preconceito de gênero, focando nas mulheres – oferecendo programas de treinamento ou grupos de trabalho em rede especificamente para elas – para fechar a lacuna de gênero precisamos entender que qualquer solução que envolva apenas parte das pessoas têm probabilidade de ter sucesso limitado. O reconhecimento do papel crucial que os homens podem desempenhar na criação da igualdade de gênero no trabalho é necessário para, realmente, envolver toda a força de trabalho em conversas em torno da equidade no trabalho.
Para quem quiser se aprofundar mais no assunto, recomendo o livro “Brotopia”, da jornalista Emily Chang, que ilustra muito bem como é desigualdade de gênero é reproduzida no Vale do Silício e como os desafios que elas enfrentam nesse universo podem ser muito diferentes daqueles apresentados aos homens.