* Felipe Ladislau é sócio da Organica
Desde maio tem se falado sobre as startups que estão demitindo em massa após terem se tornado unicórnios, ou seja, atingirem um valuation igual ou maior que US$ 1 bilhão. Esse movimento é, na verdade, reflexo de um contexto que vem se alterando nos últimos meses, como já apontado em um relatório da CB Insights sobre a perspectiva dos investimentos em startups estarem cada vez mais concentrados. Com isso, menos empresas conseguem aportes – ainda que a média dos investimentos tenha sido maior.
Quando é dada muita luz às demissões que ocorrem nos unicórnios não é falado que, mundialmente, existem pouco mais de 1.000 empresas que se enquadram nesse critério. O que estamos vendo são marcas fazendo adequações nas suas teses estratégicas para acompanhar o novo cenário e, por isso, as medidas mais drásticas. No entanto, existe um universo muito maior de startups em outros estágios de crescimento e com grande potencial. Essas startups mais jovens e menos alavancadas farão suas adequações com menor impacto..
Um outro relatório da CB Insights apresenta a tendência que os investimentos em startups continuem diminuindo, o que no primeiro trimestre de 2022 significou uma diminuição para pouco mais de 140 bilhões de dólares e 20% a menos em relação ao período anterior. E o mesmo patamar de retração é esperado para o segundo trimestre do ano.
Sem desespero
Até então o mercado de venture capital se mostrava abundante e extremamente líquido. Com essa nova perspectiva, é hora de mudar de rota, mas isso não significa desespero. Minha recomendação para fundadoras e fundadores, sobretudo de startups early stage, é de que prestem a atenção para que suas estratégias levem em consideração um cenário que irá favorecer a qualidade e estruturas financeiras mais saudáveis.
Como alternativa, há oportunidades de aquisições e fusões, além de um processo mais sólido de planejamento. Precisamos levar em consideração que tempos de maior cautela levarão a processos de captação mais alongados. Portanto, a sabedoria com a gestão do caixa é fundamental.
Os movimentos de layoffs que temos visto nos fazem refletir sobre a importância de um valuation consistente. Nesse sentido, o importante não é nascer com o objetivo de conseguir um status de unicórnio, mas sim com o objetivo de crescer de forma sólida. Afinal, rótulos e modismos passam, mas uma empresa bem estruturada sobrevive melhor ao teste do tempo.
Podemos observar, por exemplo, o caso da maior startup da Europa que possuía um valuation de US$ 45,6 bi, desligou 10% da sua força de trabalho no início do ano e, segundo matéria recente publicada pela Bloomberg, está vendo seu valuation reduzir para apenas US$ 6 bi.
Um caso mais próximo ao contexto brasileiro é o da Loft, unicórnio que na sua segunda rodada de demissões desligou 12% da folha. A empresa cujo o último valuation foi de US$ 2,9 bi também corre risco de passar por down-rounds no futuro próximo.
Com esses exemplos fica mais que evidente que as nomenclaturas do mercado de inovação são voláteis e quando os ventos não estão favoráveis a responsabilidade final ainda recai sobre os ombros dos empreendedores.