* Diogo Catão é presidente da Dome Ventures
Com o crescimento das govtechs no Brasil, considerando apenas o governo federal, em 2020 houve aumento de mais de 18% em contratos de serviços de tecnologia da informação (TI), somando o valor de R$ 2,5 bilhões, segundo dados da Effecti. No mundo, a Alemanha está injetando 500 milhões de euros para digitalizar todos os processos administrativos até o fim deste ano; já a França tem como meta digitalizar seus 250 principais processos, também até terminar 2022.
Em nível nacional, há 80 govtechs que atuam de maneira massiva junto com o governo, segundo relatório do BrazilLAB. A tendência é que essa esfera cresça cada vez mais, tendo em vista que há diversas soluções implementadas em estados e municípios que não entram nessa soma.
Uma tendência que pode ser observada é a descentralização da governança nas instituições públicas. Essa ação se revelará através de uma participação mais ativa de startups, instituições, setores e da participação pública nas tomadas de decisões.
Sendo assim, quando antes havia um veredito de uma equipe praticamente interna, a tendência é que haja progressivamente mais parcerias com outros setores. Esse movimento impacta diretamente o desenvolvimento e o futuro das cidades.
Pensando nessa propensão, novas competências vão ser exigidas para os atores desse desenvolvimento. Desta forma, cada vez mais pessoas vão adquirir mais habilidades, para que consigam atender às novas demandas de mercado.
Existe uma infinidade de ferramentas que podem alavancar esse conhecimento, algumas delas são: Cloud Computing, cibersegurança, Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial, entre outros. Nesse ponto abordamos mais termos técnicos, entretanto é preciso um conjunto de outras competências.
Nesse cenário, outros know-hows serão desenvolvidos e trabalhados de forma natural, seguindo as novas demandas que vão surgir. A tendência é que novas soluções despontem e se aperfeiçoem de acordo com o avanço tecnológico do setor público e consequentemente das cidades. Desse modo, espera-se cidades cada vez mais conectadas e inteligentes, o que pode se dar através da Internet das Coisas (IoT), além de almejar-se no futuro um governo mais distribuído, através de parcerias com startups govtech. Por isso a importância do desenvolvimento e da atualização desse setor, que deve gerar bons frutos.
Desafios para govtechs
Mas ao longo do percurso, nem tudo são flores. Nesse mercado, assim como nos demais, também existem alguns desafios que precisam ser superados. Algumas dificuldades enfrentadas são o excesso de burocracia e as formalidades em diversas organizações públicas. Essas barreiras acabam afastando empreendedores com mentes brilhantes, que preferem atender à iniciativa privada em vez da pública.
Outros tabus também são vistos no mercado govtech, como o medo de se associar à imagem de corrupção. O poder público no Brasil tem essa reputação, e ela precisa ser mais bem trabalhada. Algumas startups optam por não se envolver em negociações públicas, impossibilitando que muitas demandas que seriam importantíssimas para o governo e população existam.
Além dessa descrença em relação aos governantes, o cenário político brasileiro também é bastante instável, tornando esse ponto outro obstáculo para o desenvolvimento do segmento govtech. Exemplos disso são a crise sanitária da covid-19, o conflito entre Ucrânia e Rússia e os desdobramentos que isso pode gerar. Isso tudo sem contar as adversidades já conhecidas do cenário brasileiro, como a desigualdade econômica e social, bem como a exclusão digital.
Essas incertezas mexem com a concepção do empreendedor e o faz questionar: será que vale a pena investir no setor público? Acredito que sim! Há progresso com os avanços tecnológicos e que as govtechs chegam com o propósito de desenvolver mais a sociedade, através de cidades mais inteligentes, redução de burocracia e processos mais eficientes.
Os empecilhos e desafios estão aí para serem vencidos, e investir nas govtechs é uma das soluções, uma vez que elas visam facilitar os processos, dar mais transparência às ações do governo, gerar eficiência maior na máquina pública e impactar positivamente a sociedade. Somado a isso, a transparência e a comunicação assertiva geram melhor governança e contribuem para vencer os desafios, que é a grande virada para quem empreende.
Conforme o empreendedor de govtechs constatar que há obstruções no setor, pode propor enfrentar esses problemas, criando um campo de novas soluções e oportunidades. O ator dessas soluções deve aproveitar essa janela de oportunidade para estudar e criar soluções a fim de tornar o órgão em questão mais eficiente e, consequentemente, gerando chances otimistas de negócios.
Outro destaque são as prefeituras que publicam editais, com problemas que enfrentam, para chamada de soluções apresentadas por startups, como é o caso do “Desafio COR”, promovido pelo Centro de Operações da Prefeitura do Rio de Janeiro. É um nítido exemplo da iniciativa privada e do poder público em atuação e parceria.
Com tudo que foi exposto, é evidente que, nacional e globalmente, as govtechs têm um potencial enorme. De acordo com a consultoria McKinsey, o segmento internacional de govtechs já movimenta US$ 400 bilhões por ano, e até 2025 pode chegar a US$ 1 trilhão de faturamento. O setor é grande e ainda vai crescer, tendo em vista que há oportunidades para melhorias nos níveis municipal, estadual e federal.