* Diogo Catão é presidente da Dome Ventures
As instituições públicas do país ainda são muito discrepantes em termos de inovação: algumas são muito desenvolvidas, outras não. No entanto, elas convergem sobre a percepção da importância da inovação para que haja a tão falada transformação digital e um desenvolvimento sustentável das cidades.
Nesse contexto, há caminhos a serem percorridos que podem variar a depender do porte da cidade, recursos financeiros e, principalmente, do perfil do gestor. Mas é notória a cobrança da população, em esfera global, para que os gestores pensem e busquem soluções para o futuro dos governos nos próximos anos. A inovação é parte essencial nesse processo pelo qual passam as instituições públicas no Brasil.
É importante frisar que a responsabilidade de inovar e construir o futuro de uma cidade não está apenas nas mãos das instituições públicas. Cidadãos, empresas e as ascendentes startups govtech presentes no país podem e devem fazer sua parte por cidades melhores, seja cobrando ações de seus governantes, seja contribuindo individualmente para o desenvolvimento delas.
O papel das govtechs
Entrando na questão das govtechs, e colocando-as em perspectiva, em curto e médio prazo elas podem prestar cada vez mais serviços para os governos no desenvolvimento de tecnologias e soluções digitais, o que tem sido muito bem aceito pelas instituições e pela população. Para ilustrar, cada vez mais as cidades estão focadas na promoção do desenvolvimento de baixo carbono e economia urbana verde, com fontes de energia renovável e sustentável, por exemplo.
Em longo prazo, espera-se que todas as instituições públicas possam oferecer seus serviços de forma digital; cidades mais inteligentes que visem resolver problemas socioambientais, de impacto climático, corrupção; que busquem mais eficiência fiscal, maior transparência, o protagonismo dos governos locais e fortes transformações urbanísticas sustentáveis e tecnológicas. Diante desse cenário, muitas oportunidades surgirão para que as govtechs auxiliem os gestores públicos nessa perspectiva futura.
O poder público cada vez mais tende a compreender a importância da transformação digital, atinando que esse é o caminho para uma administração mais ágil, flexível e inovadora. O papel das govtechs é tornar esse processo realidade, facilitando os processos de administração governamental e trazendo novas soluções para o setor público.
Hoje já se aplicam diversas ferramentas, softwares, aplicativos e outras tecnologias que atendem às demandas de uma sociedade mais atenta e exigente. Ainda assim, há muito a ser feito, e inúmeras outras melhorias que podem ser implementadas com o auxílio de govtechs.
Muitas soluções provocam um alto impacto social, pois reformulam dinâmicas que precisam de melhorias e estabelecem uma nova forma de viver em coletividade, como aplicativos onde por meio de um botão, a possível vítima alerta familiares, amigos, conhecidos e autoridades, em casos de emergência, como a violência doméstica.
O Brasil chegou a registrar um feminicídio a cada 6 horas e meia, em 2020, no auge do isolamento social. Problemas como esses precisam de soluções inovadoras e eficientes, e contar com a tecnologia pode ser uma forma de resolução que os governos não conseguiriam alcançar.
No outro lado da balança temos a iniciativa privada. Percebe-se uma crescente no nível de parcerias entre poder público e privado, principalmente em áreas nas quais não há expertise, agilidade e disponibilidade das instituições públicas. Nesse caso, busca-se uma forma de complementar essas ofertas, tendo a contribuição da iniciativa privada de forma a potencializar a escalabilidade das soluções para outras cidades.
Iniciativa privada
A iniciativa privada ajuda criando e fornecendo soluções inovadoras que possam otimizar e automatizar todo e qualquer processo nos seus serviços. A necessidade de desburocratização do setor público é um fato bem presente atualmente, principalmente depois da pandemia da Covid-19, visto que várias organizações precisaram oferecer serviços e produtos digitais para uma população que não podia sair de casa. Nesse caminho, o poder público não fica de fora e tem aumentado sua busca por ferramentas, softwares, aplicativos e soluções digitais para dar vazão ao volume de demandas da sociedade.
Buscando vislumbrar o melhor dos mundos, o ideal seria que todas as instituições públicas acreditassem no valor que tem em otimizar seus processos e serviços a partir de inovação e tecnologia. Ainda há um longo e árduo trabalho de educação pela frente, porém promissor. Cada vez mais percebemos abertura para as questões de inovação junto às instituições públicas.
Perceber essa importância é essencial para que haja busca por melhorias. O número de govtechs no Brasil tem crescido e elas criam soluções pensadas para resolver os problemas das instituições públicas na entrega de seus serviços para os cidadãos. Melhorar essa ponta com certeza vai provocar melhorias na vida de quem está do outro lado, necessitando das instituições públicas para suas questões de vida civil: a população. Pensar numa forma de enxergar essa conexão como um propósito maior, que traz benefícios para toda a sociedade, também é um cenário que consideramos como meta a se alcançar. E, mais do que tudo, direcionar o olhar para as pessoas.