* Alana Azevedo é Chief of People & Culture da Flash Benefícios
Lugar de mulher é onde ela quiser. Em tempos em que os debates sobre a nossa posição na sociedade ganham notoriedade, esta frase não poderia ser mais verdadeira. Na realidade, o lugar de qualquer ser humano é onde suas convicções e vontades o levarem. Mas, dito isto, evoco outra famosa expressão, que trará novos elementos para considerarmos aqui.
Uma reflexão paralela, com contrapontos importantes para entendermos o atual cenário do lugar ocupado pelas mulheres na sociedade: “querer não é poder”. Isso, infelizmente, ainda é bem representativo se analisada a realidade feminina na sociedade, desde o seu papel até o lugar que ocupa.
Em um retrospecto da formação da sociedade como a conhecemos, nós quase sempre tivemos um papel centrado em cuidar – não em prover. Isso até vem passando por alterações nos últimos anos, ainda que lentamente. Até os idos do período Paleolítico, aos homens cabia a caça e o provento. À mulher, o cuidado com a casa, com a família, com a culinária… enfim, a garantia de que, enquanto os homens estavam fora e asseguravam a subsistência do grupo, tudo no lar estava em perfeito funcionamento.
Mas já no período Neolítico, com a construção das moradias em locais fixos, o que culminou na formação de cidades e países, cada vez menos o uso da força passou a ser um diferencial na forma de organização social. Contudo, a estrutura outrora estabelecida foi mantida. Os homens dependem tanto quanto nós de um ambiente bem estruturado para viver. Então por que exatamente eles não estão inseridos nessa lógica de cuidar de um lar?
A conclusão é que, de forma velada, ainda que historicamente tenham existido oportunidades para uma mudança e equidade de papéis, os avanços ocorreram a duras penas. Não à toa, a história nos traz efemérides emblemáticas relativas a conquistas femininas. E quando uso o termo conquistas, é o mais adequado.
Não que façanha, proeza e bravura não possam ser usadas em contextos como o episódio que marcou o que se definiu posteriormente como o Dia das Mulheres, em que operárias foram queimadas dentro de uma fábrica como repressão às greves e bandeiras que levantavam, de igualdade de salário e de condições de trabalho em relação aos homens. E temos outros episódios emblemáticos, como o direito ao voto, estudo e da profissão.
Queria não ter tido fatos e argumentos para serem abordados aqui. Afinal, ao evocarmos o senso crítico, eles não fazem absolutamente o menor sentido. De maneira objetiva, nenhum homem vai admitir o machismo velado que ainda dita os rumos e papéis definidos para cada gênero em nossa sociedade.
Disruptura de padrões
Historicamente, a disruptura de padrões surge “de dentro para fora”. Ou seja, os grupos submetidos a algum tipo de injustiça, por conhecerem por dentro a engrenagem que lhes traz determinados empecilhos, são os mais capazes de contribuírem para uma reconstrução de cenário. Desta forma, nós, mulheres, temos, aos poucos, conseguido chamar a atenção para o nosso lugar na sociedade. Apesar de sermos a personificação do “querer não é poder”, como já devo ter deixado claro até aqui.
Romper barreiras leva tempo. Se os acontecimentos factuais são importantes como justificativa para a disrupção, a construção de uma agenda, com diálogos e ações que realmente mudam um cenário, deve ser cotidiana.
Todos os dias, devemos, sim, lembrar a toda a sociedade que é dever de todos cuidar da casa e das tarefas domésticas. Que cabe a cada um prover. Que as mulheres podem tanto quanto os homens ter uma carreira futebolística. Que os homens podem sim ter a profissão que bem entenderem, assim como as mulheres. Que eles podem tanto quanto elas, desde cedo, brincar de casinha, de comidinha. Que elas, tanto quanto eles, podem brincar de carrinho ou videogame.
Que as mulheres são extremamente capazes como engenheiras, como CEOs, como diretoras. Que eles podem estar também nestes cargos. E que todos merecem salários de acordo com suas funções e não em decorrência de seus gêneros.
Toda essa conscientização é o que vai mudar o conceito do papel feminino para esta e próximas gerações. Até que isso seja uma agenda além da perspectiva feminina e seja um ideal também masculino. E para que isso ocorra, não há outra forma: mulheres, uni-vos! Perseverem, façam a diferença junto aos homens e mulheres de suas vidas dia após dia. Juntas, somos mais fortes! Quem ganha não somos nós. É a sociedade.