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Artigo: M&A pode ser uma saída para sua startup

Transação via M&A - Fusões e Aquisições (M&A)
Transação via M&A - Foto: Startups

* Orlando Cintra é fundador e CEO do BR Angels e Agrício Neto é CEO do LACann Group

Todo mundo vive repetindo que o empreendedor tem de pensar fora da caixa. Mas quando isso se refere ao financiamento das startups parece que o mantra é esquecido.

Em geral, olha-se para a jornada comum de captação, desde o investimento-anjo ao venture capital. Mas é bom que se diga: esse caminho não é o único; há diversas outras possibilidades que podem ser mais apropriadas para o crescimento de uma startup em determinado momento.

Ter essa noção faz muito diferença num momento em que os investimentos em venture capital sofrem uma desaceleração, como tem ocorrido neste ano, devido ao cenário econômico global de alta dos juros para combater as pressões inflacionárias.

Relatório da plataforma de inovação aberta Distrito, em parceria com o Bexs Banco, aponta que, no período de janeiro a agosto deste ano, as startups brasileiras receberam US$ 3,6 bilhões, volume 45% menor em relação ao mesmo período de 2021, quando captaram US$ 6,6 bilhões.

Vale aqui a ressalva de que 2021 foi um ponto fora da curva com recorde histórico de aportes no setor. Para se ter uma ideia, o volume investido nos oito primeiros meses de 2022 já superam o total do ano de 2020, mostrando que o mercado de venture capital não está também à míngua como muitos têm vociferado.

Ainda assim, a busca por outras opções de financiar o crescimento das startups que possam ser mais vantajosas é sempre recomendável.

Uma fusão ou aquisição é uma delas e não deve deixar de ser pensada quando o objetivo for dar musculatura para que a startup cresça e ganhe mercado. Há ainda outras opções, como o venture debt, por exemplo, um crédito criado para startups que não dilui a participação acionária da empresa.

Tendência em alta

Os M&As bateram recorde no Brasil no primeiro semestre, segundo estudo da PwC Brasil, que indica ainda que a tendência deve se repetir nos 12 meses de 2022. Nos seis primeiros meses deste ano, foram 807 transações, lideradas justamente pelo setor de tecnologia. Os números ultrapassam os 706 negócios fechados no mesmo período de 2021, um ano em que houve recorde de 1.659 operações.

O setor de tecnologia, que lidera as operações de M&A há mais de dez anos, atingiu, até junho, 360 operações, representando 45,72% do total. Um dos exemplos de operação foi a unico, uma startup de biometria, que recebeu R$ 625 milhões em uma aquisição de participação feita pelo Goldman Sachs.

Outros casos do segmento de tecnologia foram startups compradas por outras startups, como  os negócios fechados entre Nvoip e Mais.im, Woof e Toup, Vuxx e Box Delivery. Além de terem realizado fusões e aquisições nos últimos meses, as startups Nvoip, Woof e Vuxx têm em comum o fato de fazerem parte do portfólio de investidas do BR Angels, que apoiou todo o processo.

Outro levantamento feito pela Sling Hub especialmente para este artigo indicou que no primeiro semestre de 2021 foram realizadas 134 operações de M&A envolvendo startups. No mesmo período deste ano, foram 124 negociações concretizadas. Na análise da empresa, a estabilidade reflete um movimento das startups de buscar novas formas de continuar crescendo mesmo em um cenário de investimentos mais retraído por parte do VCs. 

Isso mostra que as startups souberam lidar com os desafios do cenário econômico atual e aproveitar novas oportunidades para continuar se expandindo. É sinal de que as empresas estão dispostas a aprimorar seus negócios e investir o que for preciso para continuar atendendo as dores dos consumidores.

Quais são os ganhos?

Entre as vantagens do M&A para as startups está a possibilidade de fortalecer o desenvolvimento tecnológico dos serviços e soluções oferecidas. Segundo pesquisa da consultoria focada em processos de transformação organizacional Olivia, percebe-se o M&A como oportunidade de entrada em novos mercados (42%), ampliação da base de clientes (19%), incorporação de nova tecnologia (8%), know-how (8%) e talentos (2%).

É o caso da Nvoip, que adquiriu a plataforma de comunicação corporativa Mais.im, para oferecer melhorias na comunicação externa e interna dos clientes. Agora, seu SaaS baseado em comunicação por voz e APIs de inteligência de dados também vai contar com recursos de chat e mensagens via WhatsApp.

Já o marketplace de produtos pet Woof fez a aquisição da Toup focado no desenvolvimento de softwares para otimizar a jornada de compras para tutores de animais, bem como auxiliar pequenos pet shops a se digitalizarem no ecossistema da Woof. A produção de inteligência para a indústria pet com base nos dados gerados no ambiente online e nos pontos de venda físicos foi outro fator decisivo para a operação.

No caso da Vuxx, a logtech que conecta motoristas de carga profissionais com empresas que necessitam deste serviço, foi adquirida pela Box Delivery, plataforma online de intermediação de entregas. O negócio passou a compor um serviço especializado no segmento last mile de entregas.

Como podemos constatar, há um grande potencial de ganhos em se fazer um M&A. Entre eles, estão:

  • Sinergias
  • Ganhos em economia de escala
  • Vantagem competitiva no mercado
  • Acesso a talentos, como em um momento de escassez no mercado de tecnologia
  • Ganho de market share
  • Acesso a novos mercados.

É claro que um M&A tem um custo para o empreendedor, que pode perder parte ou o total controle da empresa. Entretanto, é um caminho inevitável se a startup não tiver fôlego para sobreviver à concorrência.

O fato é que não há uma solução única para o desafio de financiar o crescimento das startups. O que não pode é o empreendedor não pensar nas outras possibilidades e ficar obcecado com uma jornada tradicional, que pode vir a não se realizar como ele sonhou.

Às vezes, para encontrar a melhor solução, é preciso pensar SIM fora da caixa. Nem que seja da caixa registradora!