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Artigo: O que esperar da segunda geração de fintechs?

Estamos diante de um marco na história da revolução bancária, uma oportunidade única de usar a tecnologia para incorporar cuidado financeiro à vida das pessoas

Artigo: O que esperar da segunda geração de fintechs?

*Eduardo Prota é presidente da N26 Brasil

Um estudo realizado pela Oracle com consultoria da Workplace Intelligence identificou que impressionantes 95% dos brasileiros querem que a tecnologia ajude a definir seu futuro. Descobrir como dar essa “mãozinha” que as pessoas estão buscando – e ainda agregar valor a esse serviço a ponto de alguém querer pagar por isso – é uma das (muitas) perguntas que valem um unicórnio para as fintechs.

Vejo essa questão como mais do que um desafio – é um divisor geracional. Estamos diante de um marco na história da revolução bancária, uma oportunidade única de usar a tecnologia para incorporar cuidado financeiro à vida real das pessoas. Por isso, acreditamos que o país está preparado para uma nova categoria: fincare. Explico.

As fintechs nasceram com o propósito de diminuir burocracias, eliminar taxas e aumentar a competitividade no setor financeiro, além de incentivar a inclusão bancária. Essa geração de empresas que uniam tecnologia e finanças surgiu na última década e apresentou um mundo mais fácil para quem queria ter uma conta, um cartão e algum crédito na praça. 

Muitas dessas fintechs viraram parte do nosso dia a dia. Hoje, temos mais controle sobre nossas faturas e boletos. E mesmo assim o estudo da Oracle aponta que 84% das pessoas se consideram “presas” a seus cotidianos, enquanto 47% estão ansiosas sobre o futuro. Por quê? Talvez a resposta mais direta seja dinheiro, essa eterna preocupação. 

Quase 70% dos brasileiros gastam tudo ou mais do que ganham no mês, segundo o Índice de Saúde Financeira do Brasileiro (I-SFB), do Banco Central (BC) e Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Olhando para esse dado, dá para dizer que, apesar do maior acesso a produtos financeiros, nossa relação com o dinheiro não melhorou nos últimos tempos. E isso está se refletindo nas pessoas e no mercado.

Segundo o Bank of America, 7 dos 10 maiores bancos digitais brasileiros registraram uma queda na base de usuários em setembro deste ano – o que não acontecia desde 2015. O dado é interessante e, considerando o contexto, deixa no ar uma pergunta: será que precisamos de mais produtos ou tomar melhores decisões para nos sentirmos mais confortáveis ao mexer com dinheiro – e, consequentemente, no controle de nossas vidas?

Nova geração de fintechs

Aposto na segunda opção. E é aí que entra a segunda geração de fintechs. Afinal, melhorar a nossa relação com o dinheiro passa por termos melhores escolhas financeiras. Para chegar lá, as mesmas ferramentas, planilhas, conteúdos e apps de sempre já não dão conta. Precisamos de um sistema que se encaixe nas nossas vidas e nos ajude a acessar as ferramentas e recursos na hora certa, de acordo com nossa necessidade e sem ter que ficar pensando naquilo o tempo todo.

Vamos pensar, por exemplo, em educação financeira. Normalmente, “se educar” significa ver vídeos, cursos, seguir influenciadores e tentar replicar isso de alguma forma nas próprias contas. Só que é muita informação disponível e pouco tempo para absorvê-la. E parece tudo tão difícil de usar que várias pessoas nem tentam. Não à toa, um quinto dos brasileiros nem mexe na conta bancária – segundo a pesquisa do Instituto Locomotiva em parceria com a TecBan

Falta alguma coisa aí. Aprender a cuidar de dinheiro não tem que ser assim.

Imagine deixar esse processo menos individual e mais coletivo. Em vez de aprender sozinha, a pessoa não precisa começar do zero. Muitas fintechs já estão pensando em algo nessa linha. E, claro, em como ganhar dinheiro com isso. Em vez de só dar cartão de graça e ganhar dinheiro com crédito, cobrar por um serviço que realmente mude algo na vida do cliente é um passo natural a ser dado em breve.

Segundo especialistas, isso tende a reduzir o número de concorrentes na jogada. Quem pode sair na frente (ou sobreviver) nessa brincadeira são as fintechs que perceberem primeiro que aumentar o número de bancarizados já não é o maior desafio. Investir nesse senso de comunidade parece ser uma saída.

Mas não só. É preciso regenerar a relação das pessoas com o dinheiro. Fazer a gente finalmente estar no controle e se sentir bem com isso, com ajuda de sistemas eficientes para cuidar da nossa grana por conta própria. É nesse sentido que falamos de fincare também como uma rotina de autocuidado e bem-estar. É cuidar do seu dinheiro e de você, ao mesmo tempo.