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Artigo: Open banking e a reprecificação de ativos na indústria financeira

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*Vinicius Aloe, diretor de Produtos e Open Banking do Agi

O open banking está sendo implementado no Brasil de forma gradual ao longo de 2021 e 2022. Ao fim deste processo, clientes de qualquer instituição financeira poderão optar por compartilhar com outra instituição seu histórico de pagamentos, movimentação de conta corrente, contratação de produtos financeiros, dados cadastrais, investimentos, destinação de despesas e outros dados que indicam muito sobre seu perfil demográfico, social, econômico e de propensão ao consumo.

Historicamente e ainda nos dias de hoje, uma das grandes vantagens competitivas de um banco ou financeira é exatamente ter acesso exclusivo às informações acumuladas sobre sua base de clientes. No momento de conceder um empréstimo, definir taxas ou oferecer um seguro ou investimento, é essencial estimar corretamente a capacidade de pagamento e necessidades de uma pessoa, assim como identificar possíveis fraudadores e maus pagadores, para oferecer boas condições comerciais ao cliente e que façam sentido do ponto de vista de rentabilidade para a empresa.

Em contrapartida, uma das maiores barreiras para novos competidores é exatamente a incapacidade de conhecer tão bem um cliente quanto a instituição na qual o consumidor já concentra relacionamento. O novo entrante possui acesso apenas às informações públicas, autodeclaradas ou comercializadas por bureaus de informação, segmentando os clientes com menos precisão e resultando em condições comerciais menos competitivas, menor conversão e consequentemente custos relativos maiores do que a instituição que possui acesso a informações de comportamento efetivo do cliente.

Se, por um lado, houve investimento por parte das empresas já estabelecidas para conquistar e manter sua base de clientes, por outro, a propriedade sobre os dados individuais de cada um de nós que podem nos trazer benefícios é também individual. Essa assimetria no acesso às informações, que resulta em capacidades muito distintas de oferecer as melhores ofertas para cada cliente, pode afetar o poder de escolha do cliente pelo competidor que oferece o melhor atendimento ou experiência. O open banking irá empoderar o consumidor final nesse sentido.

Mercado brasileiro

Quando analisamos o mercado brasileiro, há grande concentração de depósitos e empréstimos em poucas instituições. De acordo com o Banco Central, em setembro de 2021 as cinco maiores instituições financeiras do país representaram 77% do total do crédito destinado a pessoas físicas, por exemplo. Por outro lado, quando observamos alguns países onde o open banking já foi implementado, observamos uma descentralização acelerada. Nos Estados Unidos, segundo dados da Transunion, os empréstimos pessoais concedidos por fintechs passaram de 5% em 2013 para 38% em 2018. Na mesma base de comparação, os bancos, cooperativas e financeiras caíram de 95% para 62% do total. É possível que no Brasil também ocorram mudanças de concentração ao longo dos próximos anos.

Do ponto de vista de precificação dos ativos e valor das empresas, alguns atributos de negócio podem ganhar relevância, enquanto outros tornam-se menos importantes. Perde espaço o status quo e o porte já alcançado para avaliar valor futuro das empresas. Ganha espaço a capacidade de entender e entregar os melhores produtos e experiência ao cliente. Ganham espaço também modelos de negócio mais eficientes, escaláveis e adaptáveis, pois um ambiente competitivo com acesso mais simétrico às informações, uma estrutura de custos mais leve e flexível pode ser fator-chave para repassar mais valor ao consumidor final com mais rapidez. É possível que parte do mercado também esteja fazendo essa leitura, pois quando analisamos valor de mercado e resultado dos “challengers”, percebemos que eles representam menos de 10% do pool de lucro do sistema financeiro, porém uma porção muito maior da capitalização de mercado do segmento.

Bom para o cliente que poderá comparar e experimentar com mais facilidade. Bom para as empresas que genuinamente enxergam o cliente no centro do seu modelo de negócio.

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