Daniel Ibri
co-fundador e sócio-gestor da Mindset Ventures
Quando iniciei a captação de meu primeiro fundo, a Grid Investimentos, há mais de 8 anos, tive que “educar” os investidores sobre venture capital, seus riscos, prazos, racional de investimentos e muitas coisas mais. Não foram poucas as vezes em que fui questionado de o porquê não deixar o capital rendendo na renda fixa e “ficar tomando água de coco na praia”. Atualmente, os investidores já conhecem o mercado, sabem suas nuances e reconhecem que excelentes retornos de longo prazo podem ser gerados por esses ativos. Alguns fundos soberanos e endowments internacionais de grande sucesso já fazem investimentos significativos em venture capital há muito tempo – talvez o mais reconhecido deles seja o endowment da Universidade Yale, que em 2019 já alocava mais de 20% de seus Ativos totais em fundos de venture capital – uma fatia muito significativa para qualquer parâmetro de mercado.
E a pandemia de Covid-19 pode ter atrapalhado essas captações? A resposta é simples: muito pouco! Por um lado, principalmente durante os meses de março a julho, a grande incerteza no mercado levou investidores a segurarem novos investimentos e buscarem ativos mais seguros, muitas vezes vinculados ao dólar, o que explica o volume menor de capital investido em startups neste primeiro semestre. Mas, por outro lado, a pandemia enfatizou ainda mais a importância que a tecnologia passou a ter em nossas vidas e quanto este é, de fato, o futuro.
Admito que apresentar um fundo de venture capital por videoconferência, muitas vezes concorrendo com inúmeras distrações a que o investidor potencial está exposto, não é fácil. Assim como não é fácil fazer reunião presencial com vários “mascarados”, sentados longe uns aos outros, sem ao menos entender direito o que está sendo questionado. Mas, mesmo assim, me surpreendeu como o movimento continua acontecendo e os investidores mais interessados do que nunca.
As captações continuam a todo vapor e cada vez mais investidores se interessam pelo tema e percebem que não podem ficar de fora – principalmente se algum investidor “conhecido” passou a fazer parte de seu fundo, já que o efeito manada entre os investidores continua surpreendendo até os mais experientes nesse mercado.
O brasileiro está aprendendo a investir em ativos alternativos e ilíquidos, algo pouco imaginável há alguns anos, quando uma aplicação de renda fixa rendia facilmente 14% ao ano. Mas, além de aprender a investir, os investidores pegaram gosto também pelas startups e tecnologia, percebendo nessas não apenas uma grande oportunidades de rentabilizar (e, quem sabe, até multiplicar) seu capital, mas também de conhecer assuntos novos, estar exposto a novas formas de gerenciar negócios e a tendências tecnológicas que vão diretamente impactar seu dia a dia.
Os investidores estão buscando cada vez mais novas oportunidades de investimento no setor, seja diretamente, como em plataformas de equity crowdfunding e investimentos anjo, ou indiretamente por meio de Fundos constituídos no Brasil ou exterior. O número crescente e expressivo de fundos – segundo levantamento do Sling Hub, já são impressionantes 220 atuando no Brasil, um cenário bem diferente de 2012, quando o número de gestores ativos cabia facilmente em duas mãos – demonstra o grande interesse desses investidores, muitas vezes famílias com patrimônio de milhões e até bilhões de dólares, no mercado crescente.
As reuniões presenciais deram lugar ao Zoom, mas, mesmo com toda a turbulência em que vivemos hoje, posso afirmar que o setor continua avançando. E rápido. Assim como os demais avanços da tecnologia, o trabalho remoto também passou a fazer parte de nosso dia a dia. E, apesar de cansativo para muitos, está funcionando, trazendo mais efetividade às reuniões e mais receptividade por parte dos investidores.
Novas tecnologias permitiram com que parte da produção, distribuição e consumo, dos mais variados bens e serviços, se mantivessem. Novas tecnologias permitiram também que as crianças passassem rapidamente para a educação online. E não esqueçamos – o desenvolvimento extremamente rápido de novas vacinas e medicamentos também só é possível por conta do avanço tecnológico. A tecnologia vai ter um papel cada vez mais importante em nossas vidas e os investidores sabem disso! Não à toa, muitos investidores apostaram, e ganharam, com a grande valorização das FAAMG (sigla utilizada para Facebook, Amazon, Apple, Microsoft e Google) ao longo deste ano.
Estou confiante que nosso ecossistema continuará florescendo, dos investidores às startups, e Covid nenhum será forte o suficiente para parar essa onda.