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Artigo: Sem uma cultura de inovação, não há sociedade inovadora

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*Leo Soltz é CEO da One Big Media Group

Desde o início do século 21, a inovação e a tecnologia estão presentes em nossas vidas quase que diariamente. Aliás, podemos afirmar que nos dias de hoje, a inovação faz parte do nosso cotidiano, querendo ou não. A todo momento surge um novo aplicativo ou uma tecnologia que promete transformar o modo como nós interagimos com o mundo, e os números mostram isso: ano passado, os consumidores ficaram mais de 3,8 trilhões de horas em dispositivos móveis, de acordo com o relatório State of Mobile 2022, da App Annie.

O impacto da tecnologia em nosso dia a dia é tão forte, que é comum vermos hoje pessoas sentadas lado a lado, mas conversando pela tela do celular. E isso reflete em tudo que fazemos, desde agendar uma reunião de trabalho virtual, participar de uma entrevista de emprego no metaverso, até comprar o lanche das crianças na cantina da escola pelo aplicativo.

Temos, hoje, avanços significativos nas áreas da saúde, com cirurgias robóticas sendo realizadas à distância e telemedicina, em mobilidade urbana temos carros autônomos já fazendo parte do nosso cotidiano, em IoT os relógios smart vem salvando vidas (e isso não é um exagero), no varejo há lojas 100% automatizadas onde o consumidor faz tudo sozinho – não há funcionários na loja – ou seja, a inovação é o novo marco industrial deste século.

Mas de onde vem tanta criatividade para desenvolver tecnologias quase que diariamente? Como funciona esse ecossistema que impacta as nossas vidas todos os dias? O que faz uma pessoa ou um povo ser criativo? A resposta é muito simples: tudo começa na educação.

Nesse sentido, o Brasil está muito atrasado. A educação é a base da construção de uma sociedade, e não há sociedade evoluída sem uma base educacional sólida, madura, aberta ao novo e integrada com o mundo. Não podemos mais viver em uma bolha com metodologias de ensino do passado, que foram muito efetivas para o Brasil no século 20, mas que hoje é totalmente incompatível com o mundo globalizado em que vivemos.

Na prática, quero dizer que nossas crianças e jovens não são incentivados a desenvolverem a criatividade na escola, tampouco na universidade. Não temos uma integração das disciplinas ensinadas hoje com o que é praticado no mercado, muito menos uma cultura de exercitar a inovação em tudo aquilo que fazemos, seja nos trabalhos escolares, nos projetos de iniciação científica ou até mesmo em casa, no núcleo familiar. O desfecho que temos são profissionais ou empreendedores cada vez mais defasados em relação ao resto do mundo.

Exemplos a seguir

Israel e China são exemplos de países que revolucionaram a educação no final do século passado e estão colhendo os frutos hoje. Israel, por exemplo, entendeu que o futuro do mundo passa obrigatoriamente pela inovação e a tecnologia, e integrou institutos de pesquisa a escolas e universidades.

O governo criou também um programa dentro das Forças Armadas que incentiva a pesquisa tecnológica e adapta projetos militares para fins comerciais. Além disso, 5% do PIB do país é investido em pesquisa e desenvolvimento (P&D). O resultado é que mais de 10% dos unicórnios globais (startups com valuation igual ou maior que US$ 1 bilhão) são de Israel.

Na China, o sistema educacional valoriza a criatividade e a resolução de problemas. Por lá, as escolas trabalham o aprendizado e desenvolvimento de soft skills e hard skills. No soft skills, a criatividade e o senso de empreendedorismo são incentivados por meio de projetos em grupo, enquanto no hard skills, o ensino mais técnico como programação e conceitos de engenharia são ensinados para a resolução de problemas.

Em comum, o que China e Israel têm para nos ensinar? Eles pegaram o melhor das pessoas, utilizaram os melhores instrumentos, professores, mestres, doutores para pensar fora da caixa. Eles não buscam a formação tradicional de engenheiros, advogados, administradores e demais profissões, o foco está na criatividade, em desenvolver uma cultura de inovação para ser aplicada no empreendedorismo.

Outro ótimo exemplo está na Estônia, o país mais digital do mundo. A educação tecnológica é aplicada desde o ensino infantil, com investimento pesado na educação pública. Em 2019, o governo da Estônia investiu cerca de R$ 30 mil por aluno, três vezes mais do que o Brasil investiu em seus estudantes no mesmo período.

Além disso, o incentivo ao empreendedorismo é a base da economia do país – o empreendedor pode abrir a sua empresa pela internet em 15 minutos e realizar pagamento de impostos em 3 – com um programa de governo para pessoas de todo o mundo abrirem a sua startup. Resultado: 30% das startups são estabelecidas por e-residents, ou seja, empreendedores globais que não são residentes físicos no país.

Temos excelentes exemplos para, pelo menos, começar uma discussão de como podemos mudar a metodologia de ensino no Brasil. No âmbito governamental, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) precisa ser revista para iniciar esse processo de mudança. Já na sociedade civil organizada, precisamos criar grupos de trabalho regionais com a participação de pais, escolas, universidades, movimentos de incentivo ao empreendedorismo e empresários para desenhar um projeto nacional, com o objetivo de colocar a educação brasileira em sintonia com o mercado e com o mundo.

Temos que integrar nosso modelo educacional aos ecossistemas tecnológicos que já começam a brotar em nosso país, como no Sul e no Nordeste. O governo e a iniciativa privada devem investir em P&D e incorporar as instituições de pesquisa com escolas e empresas.

A inovação começa pela educação. Somente uma mudança estrutural que rompa com o passado permitirá que nossas crianças cresçam cercadas por um ambiente mais criativo e mais transformacional, promovendo uma verdadeira revolução com foco no futuro.

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