*Andrezza Rodrigues é co-fundadora e CEO da startup HerMoney, contadora com especialização em planejamento estratégico e MBA em controladoria. Atuou como gestora financeira por dez anos, com foco em operações de crédito bancário.
Pode acreditar, o dado a seguir é de 2020, não de 1950: apenas 2,3% dos investimentos de venture capital foram destinados para startups com pelo menos uma fundadora. O número do Crunchbase escancara a gritante desigualdade de gênero no mundo do empreendedorismo.
O problema é de duas pontas. Poucas mulheres recebem investimento. E poucas mulheres têm o poder de decidir onde o capital será investido. Por exemplo, nos Estados Unidos, as mulheres que tomam decisões representam cerca de 12% dos investidores de venture capital.
Esses dados ficam ainda mais revoltantes quando colocados ao lado dos que demonstram a eficiência das mulheres empreendedoras. Startups lideradas por mulheres performam melhor financeiramente do que aquelas lideradas exclusivamente por homens, gerando 10% mais receita e 63% mais retorno, segundo dados da BCG e da HBR. Números da International Finance Corporation mapearam que 8% dos fundos de private equity e venture capital têm mulheres na liderança.
Desdobrando o problema, podemos fazer alguns diagnósticos. Do lado da empreendedoras falta: conhecimento sobre o processo de levantar capital, exemplos de mulheres fundadoras que conseguiram captar, networking e acesso aos investidores, confiança no relacionamento com os investidores após a captação e formação esperada pelo mercado.
Já quando são investidoras, o problema é a menor disponibilidade de capital disponível e falta de tempo para busca de oportunidades. Além disso, o ambiente é hostil, já que apenas 2% dos investidores anjo no Brasil são mulheres, segundo a HBR.
A solução vem de entender que existe esse problema e fazer um movimento coletivo para que isso seja mudado. Hubs de investimentos atuam nas duas pontas, assessorando quem quer investimento e quem investe, com foco na presença da mulher em ambos os locais.
Isso inverte o ciclo de vicioso para virtuoso. Pois quando começam a surgir exemplos de mulheres que receberam investimento ou que fizeram investimento, outras começam a entender que este é um espaço que pode ser ocupado.
Eu estou em uma das pontas. A HerMoney, startup da qual sou fundadora, recebeu investimento em uma rodada organizada por um hub feito apenas por mulheres e para mulheres. A notícia começou a se espalhar com reportagens, entrevistas e eu já sinto no dia a dia a diferença, com uma quantidade enorme de empreendedoras vindo me perguntar como aconteceu, como fazer, onde buscar ajuda.
O futuro passa pela equidade de gênero em todos os ambientes. E o setor financeiro, mais especificamente das startups, tem um longo caminho para percorrer. Então vamos começar já. Mão na massa!
Jornalista com mais de 15 anos de experiência acompanhando os mundos da tecnologia e da inovação, com passagens pelo DCI, Sebrae-SP, IT Mídia e Valor Econômico. Fundador e Editor-Chefe do Startups.com.br.