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* Dario Perez é sócio da Hyper

Caro empreendedor, você pode até estranhar um pouco mas me confesso entusiasmado ao analisar o mercado nos tempos atuais. Isso pode te surpreender, mas garanto que não acredito em conto de fadas. Eu me defino como um realista esperançoso. Por isso, digo desde já: ainda há muito espaço para boas ideias no reino encantado da inovação.

Vocês devem lembrar que em 2011, quando Marc Andreessen escreveu no Wall Street Journal sobre o ‘software estar engolindo o mundo’, prevendo que as empresas de software assumiriam grandes setores da economia, ele não utilizou o termo SaaS (Software as a Service), mas já notava que o mundo estava se preparando para consumir esse modelo de negócio, escalável e lucrativo para empresas, que entregam produtos e serviços, por meio de software, a milhares de pessoas com acesso a internet.

Lá se vai mais de uma década do famoso editorial. Aqui no Brasil, o Startup Summit 2022, em Floripa, confirmou essa tendência.

Diante de um mercado que movimenta bilhões, com estimativas de gastos globais em crescimento, ainda neste ano, as empresas SaaS seguem em franca expansão no Brasil. Além de avançarem mais rápido do que startups com foco em B2C, negócios nesse segmento começam por uma jornada bootstrap, isto é, sem investimento de capital de risco, o que sinaliza uma grande chance de serem sustentáveis, com possibilidades futuras de lucro.

No Startup Summit, o que mais se via nos estandes eram exemplos de SaaS. As pessoas buscando modelos de negócios com recorrências. Por mais inusitado que pareça à primeira vista, há cada vez mais empresas SaaS contratando outras empresas SaaS!

Aqui mesmo, tenho projetos em que contrato uma empresa SaaS para gerenciar. Acho muito interessante pelo fato de que o modelo de recorrência, sem dúvida, é um dos mais rentáveis. O único cuidado é exigir muito capex ou um fôlego grande para um cash burn alto.

Vejo que tem bastante empresa achando isso fácil, muita ideia legal, muito empreendedor falando que quer fazer SaaS. Mas chamo atenção para um ponto. Normalmente, o SaaS tem uma barreira grande no início, porque exige capital para poder crescer e aí demanda vários rounds até se desenvolver. A galera está pensando que é tranquilo… Percebo ainda, e acho bem coerente com o momento atual do mercado, o investidor bem mais consciente.

Ainda vale uma ideia na cabeça e um PPT na mão?

Se você me perguntar quando vale a pena investir nas soluções oferecidas pelo mercado SaaS, diria que praticamente todas as indústrias podem se beneficiar de um serviço de na nuvem, independente do porte ou segmento de atuação.

No entanto, tenho notado algo que ficou ainda mais claro no evento de Floripa. Não vi nenhum investidor prometendo financiar um negócio com zero de faturamento. Hoje, quem circula pelo universo das startups sabe que só um ppt na mão não convence mais. Gente querendo captar com um negócio sem faturamento, sem um produto pronto ou pelo menos um MVP fica no vácuo.

Claramente, o mercado não está querendo comprar negócios estruturados só no campo das ideias. O mercado hoje espera da empresa pelo menos seus R$ 20 mil de faturamento mensal, isso para um investimento inicial, no mínimo. E para chegar nesses 20 mil, o empreendedor precisa de investimento. Se ele não conseguir montar uma equipe muito à frente de equity, que vai trabalhar pro bono, vai ter que investir, muitas vezes, fazer um investimento muito alto ou, até consegue um investimento mais baixo, só que perdendo equity.

A última alternativa é acreditar em um milagre, em que pessoas dediquem horas de seus dias para receber só através de equity. E, isso, para poder fazer essa primeira versão e conseguir rodar para captar investimentos.

Você argumenta, com certa razão, que isso sempre aconteceu. Essa ‘barriga inicial’ ficou mais evidente agora. Não acho que seja um obstáculo intransponível para o empreendedor, mas é um momento em que o cara não vai conseguir bater na porta dos investidores só com um PPT e esperar que vá rolar grana.

Para empresas com o ticket mais baixo, por ganhar no volume, eu diria que vai depender muito de quanto ela consegue se estabelecer e crescer. Naturalmente, o primeiro MVP acaba passando cerca de um ano em uma barreira mais doída para chegar, por exemplo, aí nos R$ 20 mil de faturamento, porque o cara tem o ticket muito baixo, de R$  50-100-200-300-400 reais. Para chegar nos R$ 20 mil, tem uma estrada, precisa pelo menos de 20, 30, 40, 50, 100 clientes, no momento inicial. E, nesse momento em que se tem pouca atração e pouco investimento, fica mais difícil buscar isso.

É tempo de SaaS

O mercado de startups, apesar de ter sofrido um baque no primeiro semestre de 2022, ainda tem muita gente com fôlego, querendo trabalhar, e muito negócio dando certo, isso é legal.

Quem esteve no Summit viu pouco varejo, praticamente nenhum produto. O que se viu foi uma Americanas, por exemplo, com a AME.

Escolhi justamente esse ambiente para lançar a Hyper, uma empresa que nasce com uma proposta disruptiva, extremamente alinhada a essa tendência SaaS do mercado. Vivemos um modelo revolucionário, em que as pessoas mudaram a forma de trabalhar e o software segue como solução estratégica, principalmente pela sua natureza flexível e ágil.

Entretanto… Sempre tem um entretanto! Não quero finalizar essa carta, caro empreendedor, dando a impressão de que eu não tenho consciência dos desafios, entre eles, a legislação brasileira. Sei que muitos modelos inovadores não se encaixam em certas regras atuais. Mas, neste e em outros casos, assim como em várias questões da vida que impõem obstáculos, fazendo ajustes, (re)alinhando a rota e aproveitando a jornada, a hora da conquista chega.

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