* Andre Ghignatti é cofundador e diretor executivo da WOW Aceleradora
Já não é novidade que a pandemia causou uma grande mudança na dinâmica de trabalho daqueles profissionais que atuam no meio de tecnologia da informação. Em uma era em que, finalmente, transformação digital deixou de ser um “mantra” e passou a ser vista na prática dentro dos negócios, nunca profissionais e empresas de TI foram tão requisitados. Para se ter uma ideia, segundo levantamento feito pelo fundo de investimentos Atlantico, as empresas de tecnologia representarão 4,5% do PIB Brasileiro em 2021, ante 2,8% no ano anterior.
É natural que esse fenômeno tenha causado um desequilíbrio no mercado de trabalho, gerando falta de mão de obra para as empresas e, consequentemente, a alta no valor dos salários. Mais do que isso, a tendência do home-office tornou global o mercado de trabalho para este tipo de profissional. Com todos acostumados a trabalhar de suas próprias casas, o que impede gigantes da indústria de assediarem nossos profissionais e os contratarem de forma 100% remota, pagando salários em dólar inimagináveis para as empresas locais? Nada, e isso já está acontecendo na prática.
Se todo esse cenário criou uma situação de entrave de crescimento para as nossas empresas, o que dizer da interferência que ele pode ter na evolução e amadurecimento do ecossistema de startups brasileiro.
Inclusão de jovens no ecossistema
Com tanta oferta de emprego, com bons salários para jovens que nem saíram da faculdade, como convencê-los de que colocar uma boa ideia em prática, criar uma startup, buscar investidores, é o caminho mais gratificante? Ou mesmo, se durante o desenvolvimento de um projeto promissor aparece uma excelente proposta de emprego, como resistir?
À frente da WOW, tenho feito esta reflexão e também conversado com jovens estudantes e empreendedores a respeito. A percepção é de que se, por um lado, as universidades brasileiras ainda falham em dar a devida educação para quem quer empreender, por outro lado o ecossistema brasileiro já conta com mais de 20 “unicórnios”, ou seja, startups nascidas aqui e que já alcançaram valor de mercado superior a US$ 1 bilhão.
É inegável que nosso ambiente de negócios nascentes evoluiu muito e há provas claras: projetos mais maduros, mais capital disponível -, proveniente de investidores mais preparados-, empreendedores de sucesso dispostos a ser “role models” para aqueles que estão começando. É o ciclo natural de crescimento de um ecossistema de startups que dá certo. Ainda assim, criar uma startup é sempre um risco, nunca haverá o “certo”, apenas o “duvidoso”.
Mas voltando às tais transformações que abrem esse artigo, esperamos que os jovens talentosos as percebam mais como oportunidades para empreender do que como oportunidades de emprego. As condições favoráveis estão aí, com um ecossistema que está robusto e se realimentando: só na WOW, por exemplo, já temos 12 empreendedores que, com o sucesso de suas startups, se tornaram também nossos investidores.
Esta jornada empreendedora vai muito além do ganho financeiro – ainda que este possa ser fantástico. Ela traz um acúmulo de conhecimento e relacionamentos inalcançáveis de outra forma, que transformam definitivamente quem a trilha. Como aceleradora, temos o papel de continuar fomentando novos projetos, combatendo a burocracia e gerando novos exemplos de sucesso.
Não há dúvidas que empreender vale a pena! Pense nisso.