* Eduardo Vils é CEO da fintech Justa
Estamos carecas de saber que errar faz parte, mas só poucos admitem. Se o Bezos que é o Bezos admite seus erros, quem sou eu, ou melhor, quem somos nós empreendedores e “fintecheiros” para não fazermos o mesmo?
Em suas lendárias cartas ao mercado, Jeff Bezos cita alguns erros e desafios ao longo da jornada da Amazon, como por exemplo:
1- A visão de longo prazo faz toda a diferença;
2 – “Timing” é fundamental;
3 – Risco e Inovação andam juntos.
Pensando e pegando carona nestes pontos, vejo como é difícil para nós empreendedores, em especial do mercado financeiro e tecnologia, como Fintech que somos, ter uma visão de longo prazo em um país com tantas imprevisibilidades econômicas, tanto de regulações e questões políticas. Como fazer um plano de cinco ou mais anos, se as incertezas e oscilações a curto prazo nos afetam tanto?
E de fato reconheço que mesmo sabendo que é essencial olhar e ter esta visão de mais longo prazo, perdemos e investimos ainda muito tempo no curto prazo. E como forma de equacionar isso, vejo muitos líderes desafiando seus times para que desenvolvam produtos e serviços financeiros não só para uma dor do mercado atual, mas sim que sejam pensados para a evolução do mercado.
Não obstante, entendemos que ações de curto prazo são necessárias, mas elas não devem nortear sua empresa ou seu negócio.
Já sobre “Timing” ser algo fundamental, concordo plenamente com a visão do “B” (para os íntimos) que esta é uma variável que poucos gestores e fundadores falam sobre, mas que faz muita diferença.
Como sabemos, o “B”*, decidiu começar a Amazon quando viu o crescimento exponencial daquela nova “coisa” chamada internet. E o fato de estar no início da ascensão da internet fez muita diferença para o crescimento da Amazon e ele nunca negou isso, inclusive, disse na época, na já lendária carta de 1999:
“A atual experiência de compras online é a pior que já existiu. Hoje é boa o suficiente para atrair 17 milhões de clientes, mas ficará muito melhor. O crescimento da banda larga resultará em visualizações de página mais rápidas e conteúdo mais rico. Outras melhorias levarão a um “acesso sempre ativo” (o que espero que seja um forte impulso para as compras online) e veremos um crescimento significativo da navegação em dispositivos móveis e acesso sem fio. Além disso, é ótimo participar de um mercado global multibilionário, no qual somos muito, muito pequenos. Somos duplamente abençoados. Temos uma oportunidade irrestrita do tamanho do mercado em uma área na qual a tecnologia que empregamos melhora a cada dia. Isso não é normal.”
E na visão de lançamentos de produtos e serviços como seria? Sem dúvida, desde o 1º protótipo do Ford Modelo T, passando pelo primeiro voo do 14 Bis de Santos Dumont, até as experiências de contas Digitais, todos foram piores do que os feitos dali para frente.
Em relação às contas digitais, mesmo com todos os problemas, mais de 190 milhões de contas foram baixadas nas maiores fintechs. O que é ótimo para entendermos o tamanho da oportunidade de participar de um mercado em transformação, com tanto potencial, na qual a maioria dos competidores é muito, muito pequena. São assim duplamente abençoadas, por este potencial e pelo acesso e avanço da tecnologia empregada.
Em relação a Risco e Inovação que andam juntas, a Amazon é conhecida por admitir erros que custaram centenas de milhões e até bilhões de dólares, como o smartphone da empresa, o Fire, uma das falhas mais retumbantes da companhia sob a direção do meu amigo.
Tanto ele, quanto eu, conversamos no nosso dia a dia com diversos gestores que querem que suas empresas sejam mais inovadoras, mas que fogem do risco como o diabo foge da cruz.
Que fique claro que não estou defendendo aqui jogar tudo para cima e mudar o modelo de negócio de uma hora para outra.
Ou que devemos investir milhões de dólares como a Amazon (afinal a grande maioria de nós não tem caixa o suficiente para fazer isso).
Mas o que todos nós sabemos é que não existe inovação sem risco, e que boa parte das ideias de inovação irão falhar. E isso é faz parte do jogo. O quanto antes você se acostumar e entender isso, melhor.
E ainda segundo Bezos: “Contabilizei fracassos na Amazon.com na ordem dos bilhões de dólares. Literalmente bilhões de dólares. Devem lembrar da Pets.com ou da Kosmo.com? Foi como fazer um tratamento de canal sem anestesia. E não é nada divertido. Mas também pouco importa”.
Aprendendo com os erros
E nas conversas com empreendedores das fintechs, a grande maioria contabilizou em suas jornadas inúmeros erros, sorte que não foram bilhões, mas se pensarmos em movimentações (TPV – total payment volume), foram com certeza bilhões que migraram ou desapareceram.
Muitos afirmam que tiveram planos e execuções não alinhados, ou insistência com pessoas erradas, perdas de talentos com a nova realidade do mercado, escolhas equivocadas no que fazer, projetos sem ‘acabativas,’ sem terem certeza de que eram ruins de fato ou não.
Mas e o lado bom de tudo isso, para as fintechs que conseguiram passar pelo seu Cabo Horn*, que seria ultrapassar os momentos mais hostis, com maior competitividade, crises e seus primeiros ano de vida? Estas agora têm a chance que muitas outras não tiveram, por terem naufragado, de reescrever as suas trajetórias e histórias, reforçando e a aprimorando o que fizeram de certo, usando os erros como aprendizados e fortalezas para que os novos planos sejam executados com muito mais qualidade e com resultados extraordinários!
E, como dizem: “os inteligentes aprendem com os próprios erros e os sábios com erros dos outros”. E você tem tudo para ser um sábio, basta aprender com os erros e com os muitos acertos do Bezos e do Vils.
“2023 Just the Beginning for us, Fintechs, for Justa, #tamojusto”
*“B” – Brinquei que sou amigo do Bezos, apenas por admirar e desejar isto de fato.
*Cabo de Horn fica numa das rotas marítimas mais perigosas do mundo. As condições extremas de navegação, que normalmente caracterizam as águas do oceano nesta latitude, a geografia da passagem sul do Cabo de Horn e a latitude extrema sul de Cabo de Horn.