*Isabela Corrêa é CEO e cofundadora da B.NOUS
Desde o fim de 2022, o assunto mais falado em qualquer mídia ou roda de conversa é o ChatGPT e tudo o que ele traz de inédito e instantâneo de mudanças para os diversos setores da economia. Em especial, no ambiente corporativo o uso de soluções de AI não foi a novidade, muitas empresas já investem há tempos nessa tecnologia, por exemplo, para otimizar processos e aumentar a eficiência operacional.
O que realmente o ChatGPT transformou, e que por isso foi tão impactante, foi o usuário em si, que agora passa a usar uma ferramenta de AI com inúmeras aplicações. Isso aconteceu na medida em que a OpenAI, empresa que lançou a ferramenta, criou uma interface tão simples e acessível permitindo que qualquer indivíduo pudesse usá-la quase que de forma, a princípio, intuitiva e no seu próprio dispositivo.
Agora, não apenas engenheiros, cientistas de dados e programadores com computadores super potentes têm acesso à inteligência artificial, mas qualquer um de nós, meros mortais. Com isso, as possibilidades de aplicação da AI crescem exponencialmente, chegando em incontáveis atividades do cotidiano de trabalho de uma empresa. Desde, criar conteúdo, coletar feedbacks dos clientes sobre produtos e serviços e identificar tendências de mercado, até ser usado para fornecer insights e análises financeiras em tempo real, ajudando as equipes financeiras a tomar decisões mais informadas e precisas.
No entanto, a implementação de soluções de AI no ambiente corporativo traz desafios e impactos significativos. Um dos principais desafios é garantir que a AI seja usada de forma ética e responsável, evitando preconceitos e discriminações e protegendo a privacidade dos colaboradores. Talvez seja nessa hora que entra a regulação. Nesse contexto, Yuval Harari trouxe recentemente em uma entrevista ao apresentador e jornalista britânico Piers Morgan a seguinte comparação: uma indústria farmacêutica não pode fabricar remédios sem pesquisa e sair por aí vendendo remédio para as pessoas.
Então, por que uma empresa poderia fazer isso com a inteligência artificial? Certamente ainda tem muita “água para rolar” nessa discussão. Mas, de toda forma, é fundamental que as empresas adotem uma abordagem consciente e estratégica em relação à AI, buscando equilibrar os benefícios e os riscos e promovendo uma cultura de inovação responsável e inclusiva.
É preciso habilidade
Outro grande desafio é que, diferente dos profissionais da área de tecnologia, as pessoas em sua maioria ainda não sabem usar o ChatGPT de forma correta. Muitas acham que é como o Google, uma ferramenta de busca, ou como um simples chatbot baseado em uma árvore de decisão finita. E não se trata aqui de conhecimento técnico para usar da melhor forma, mas principalmente de habilidades socioemocionais, as famosas soft skills.
Ao usar o ChatGPT no ambiente corporativo, o profissional precisa de habilidades como pensamento crítico, boa comunicação, escrita, saber fazer boas colocações e perguntas certas. Tratam-se de skills fundamentais para se aproveitar ao máximo o potencial do ChatGPT. Com toda a arquitetura por trás desta ferramenta, quanto mais humanos e efetivos na conversa e na troca o colaborador for, mais a máquina, no caso o ChatGPT, vai aprender sobre o contexto e as necessidades do usuário.
Por isso, no mundo corporativo, para garantir o sucesso do uso do ChatGPT na empresa, é fundamental desenvolver na equipe este tipo de habilidade em primeiro lugar. Do contrário, a ferramenta não fará mágica e trará resultados ruins para o negócio, inclusive.
Em resumo, o uso do ChatGPT na empresa pode trazer muitos benefícios, mas é importante seguir um processo estruturado e bem planejado para garantir que a implementação seja bem-sucedida, ética e atinja os objetivos desejados. Não se trata de ser vilão ou mocinho, o uso do ChatGPT, como toda tecnologia e nova ferramenta, vai depender de quem e de como está sendo aplicado. O caminho é muito promissor. Como diria Kai-Fu-Lee, cientista da computação, empresário taiwanês e autor do livro AI Super-Powers, basta que a gente “deixe as máquinas serem máquinas e humanos serem humanos”.