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Cinco pecados na rotina do CEO

A centralização excessiva inibe a inovação e prejudica a proatividade dos colaboradores, afirma Julian Tonioli, CEO da Auddas

Adiar férias é um dos erros cometidos pelos CEOs. Foto: Canva
Adiar férias é um dos erros cometidos pelos CEOs. Foto: Canva

*Julian Tonioli é CEO da Auddas e investidor-anjo

Assoberbado por demandas operacionais, o CEO de uma startup voltada para soluções de varejo autônomo, com integração de tecnologia para aprimorar a experiência do cliente, viu sua capacidade de pensar estrategicamente perder o fôlego no dia a dia. O empresário estava insatisfeito com o ritmo da sua rotina de trabalho, dragada pelo envolvimento excessivo em questões operacionais.

A inquietação com a falta de espaço para a produtividade o levou a buscar suporte, o que me inspirou a escrever este artigo. Apesar de não abrir métricas e números nesse conteúdo de hoje, o dono dessa empresa percebeu que a eficiência e os resultados melhoraram depois do trabalho desenvolvido.

Além de mais tempo para pensar estrategicamente, ele conseguiu impulsionar a criação de uma cultura focada na busca por resultados na startup. Essas inquietações são mais comuns do que se imagina entre CEOs.

Consultorias têm sido cada vez mais acionadas para mostrar aos executivos como podem recuperar a produtividade e escapar das armadilhas das demandas operacionais. E sou taxativo quando me deparo com negócios onde a alta direção centraliza as decisões. Quando todos os temas passam pela aprovação do CEO, com certeza, os problemas chegarão. A centralização excessiva inibe a inovação e prejudica a proatividade dos colaboradores.

Nos casos em que o CEO centraliza todas as decisões, mesmo as mais operacionais, é sinal de que ele está micro gerenciando a empresa. Essa forma de administrar desacelera o processo decisório e sobrecarrega a liderança. Este profissional precisa confiar em suas equipes e delegar responsabilidades, para que decisões possam ser tomadas de forma ágil em diferentes níveis da organização.

Por isso, elaborei uma lista dos cinco pecados na rotina do CEO que não podem ser cometidos.

  • Pensar apenas internamente

Um inibidor do pensamento estratégico é focar a maior parte da agenda em questões internas. Essa prática prejudica a visão de mercado e as estratégias de expansão, sendo um indicativo de estagnação. A eficiência do CEO está diretamente relacionada à sua capacidade de enxergar tendências do mercado e criar oportunidades de negócio.

  • Não tirar férias

Adiar férias também é considerado um grande pecado. Restringir momentos de descanso e evitar se afastar da empresa por mais de uma semana indica uma estrutura mal desenhada. A empresa precisa operar de forma autônoma.

Quando existe dependência excessiva do CEO para que a engrenagem funcione, isso representa a ausência de uma liderança intermediária qualificada ou de processos bem estabelecidos. O CEO fica sobrecarregado e a empresa, sem qualquer resiliência operacional.

  • Falta de planejamento financeiro

Quando a empresa opera sem orçamento bem delineado e sem um mapa de indicadores (KPIs) bem definido, acende-se um sinal amarelo. Isso evidencia uma gestão sem visão estratégica. A falta de planejamento financeiro inibe a alocação eficiente de recursos e leva a decisões sem fundamentos. Os CEOs mais eficientes utilizam KPIs para medir o desempenho da organização, identificar problemas e encontrar soluções para ajustes estratégicos.

  • Centralização das equipes

Outro pecado recorrente é a quantidade de equipes diretamente subordinadas ao CEO. Ter um número limitado de reportes diretos, como líderes de áreas estratégicas, VPs ou diretores, é fundamental para que o CEO possa focar em temas de maior relevância.

Quando o CEO tem mais de sete reportes diretos, especialmente em níveis operacionais, a estrutura da empresa demonstra desalinhamento. Isso gera uma sobrecarga no executivo, criando um gargalo para a tomada de decisões.

  • Falta de pensamento estratégico

Por fim, o quinto pecado é o CEO que dedica 90% do tempo para resolver problemas em vez de pensar estrategicamente para se antecipar a eles. CEOs que agem de forma reativa perdem a capacidade de desenvolver estratégias e de lidar com crises. Para uma liderança eficiente, é fundamental buscar a proatividade e ter espaço para identificar riscos e oportunidades.

Depois dessas dicas que buscam libertar o CEO das armadilhas operacionais, é fundamental adotar uma abordagem estruturada que alinhe governança eficiente, delegação estratégica e planejamento de longo prazo. Apenas ao se desvencilhar das demandas operacionais, o executivo poderá concentrar-se em impulsionar o crescimento sustentável da empresa e antecipar-se, com agilidade e visão, aos desafios e oportunidades que o mercado apresenta.