*Por Roberto Pinheiro, CEO e cofundador da MyDoor
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, em setembro, por unanimidade, manter a taxa básica de juros em 15% ao ano. O Brasil continua a conviver com um cenário de juros elevados nos últimos meses. A Selic alcançou esse nível em junho de 2025, o mais alto em quase duas décadas. Essa elevação, motivada por pressões inflacionárias e instabilidade macroeconômica, reacendeu o alerta em diversos setores da economia, em especial no mercado imobiliário.
O impacto dos juros altos é amplo. O crédito encarece, o investidor busca opções mais conservadoras e a tomada de decisão se torna mais cautelosa. Ainda que o segmento de imóveis de alto padrão tradicionalmente dependa menos de financiamento, ele também sente os reflexos desse contexto, pela mudança de percepção dos consumidores e pela necessidade de maior racionalidade nas decisões de aquisição.
Mesmo com o aperto monetário, o setor de alto padrão demonstra resiliência. Em 2024, o mercado imobiliário de alto luxo movimentou 38 bilhões de reais em Valor Geral de Vendas (VGV) no Brasil, uma alta de 46,1% em relação ao ano anterior, segundo levantamento da Brain Inteligência Estratégica. Ou seja, a demanda persiste, mas com consumidores mais seletivos e atentos ao cenário econômico.
A segunda residência diante da Selic alta
A sociedade imobiliária surge como uma alternativa para quem deseja ter uma segunda residência sem mobilizar grandes volumes de capital. O modelo, já consolidado nos Estados Unidos e na Europa, permite que até oito investidores sejam sócios de uma SPE (Sociedade de Propósito Específico), cujo ativo é um imóvel de alto padrão. Cada sócio tem direito de uso proporcional à sua participação, com gestão profissional do bem, sem abrir mão de conforto e segurança. Além disso, o formato reduz custos operacionais e evita a ociosidade típica de propriedades de campo ou de praia.
Segundo a pesquisa Raio-X FipeZAP (1º trimestre de 2025), apenas 31% dos compradores adquiriram imóveis com objetivo de investimento, o menor índice histórico da série. Isso indica um mercado mais voltado para moradia ou uso pessoal. Entre os investidores ativos, 67% priorizam a geração de renda via aluguel, enquanto apenas 33% têm foco em revenda.
E há razões claras para esse movimento. De acordo com o Índice FipeZAP, o valor médio da locação residencial no Brasil subiu 13,5% em 2024. Em São Paulo, a alta foi de 11,51%. Ou seja, imóveis de alto padrão passaram a representar também uma fonte de renda passiva para quem possui liquidez e visão de longo prazo.
Um novo jeito de investir em imóveis de luxo
Em tempos de Selic a 15% ao ano, imóveis de luxo se tornam ainda mais uma decisão de uso e de gestão de ativos pessoais e menos uma aposta em revenda de curto prazo. Além de abrir espaço para modelos inovadores e mais eficientes, o mercado vem olhando para além da posse integral como padrão, migrando para formatos híbridos e flexíveis que combinam experiência e eficiência, como as sociedades imobiliárias de alto padrão.
Com mais de 20 anos no setor, posso afirmar que modelos mais eficientes, como as sociedades imobiliárias, representam o futuro da segunda residência no Brasil. Porque reduz custos e está em sintonia com os novos valores do consumidor contemporâneo, que prioriza praticidade, propósito e retorno inteligente sobre o patrimônio.