*Kim Lima é diretor Comercial e de Marketing da Evolua Energia
Além de ser o elemento químico mais abundante do universo, o hidrogênio é o elemento básico de todas e qualquer estrela. Para se ter uma ideia, ele possui três vezes mais energia do que os demais combustíveis fósseis presentes em nosso planeta. Conhecido por só liberar água, na forma de vapor, e não produzir dióxido de carbono durante a sua fabricação, a substância hoje já é vista como o combustível ideal para o futuro e uma peça fundamental no nosso processo de descarbonização do planeta.
No entanto, embora já exista há muitos anos tecnologias que permitam usar o elemento como combustível, existem algumas razões que explicam os motivos que levam o hidrogênio a ser utilizado somente em funções extremamente específicas, como, no impulsionamento de foguetes, por exemplo.
A maior e principal questão para esse cenário passa justamente pela altíssima demanda, sobretudo energética, para a produção desse combustível, processo chamado de eletrólise, quando a eletricidade realiza a divisão da molécula de água retirando o hidrogênio. Para se ter uma ideia, em termos financeiros, cada quilo do hidrogênio verde hoje custa em torno de US$ 5 para ser fabricado, sendo que 70% deste montante são de gastos com energia elétrica.
Esse fator se torna ainda mais impactante tendo em vista que para a confecção do hidrogênio verde existe a obrigatoriedade de que a energia utilizada nesse processo seja renovável, como a solar. Até existem outras formas de produzir esse combustível, mas as classificações e o impacto são diferentes, como por exemplo o hidrogênio rosa que usa eletricidade gerada por usinas nucleares para realizar a eletrólise, e o hidrogênio amarelo que usa fontes mistas, que vão desde energia renovável até combustíveis fósseis.
Porém, curiosamente, a solução para resolver o custo e a disseminação parece estar justamente inserida dentro da própria causa. Isso porque, a adoção da fonte renovável no processo pode ser apontada como uma das principais razões para que possamos indicar que a produção do hidrogênio verde seja escalável e mais acessível nos próximos anos.
A justificativa por trás dessa afirmação passa justamente pelo avanço expressivo que temos observado dentro do setor energético fotovoltaico como um todo, mas principalmente no caso da geração distribuída. Graças a uma conjuntura de fatores, que incluem o avanço tecnológico dentro da área, a redução de custo atrelada a esse progresso e os incentivos fiscais do segmento, o abastecimento solar vem apresentando índices significativos de desenvolvimento dentro do mercado de matrizes energéticas.
No Brasil, por exemplo, dados divulgados pela Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD) revelam que esse modelo de abastecimento energético atingiu 32,6 gigawatts (GW) em julho de 2023. Tal incremento representa um crescimento impressionante de 44,5% frente à potência registrada ao final do ano passado, que foi de 25,4 GW. Só para dar uma dimensão, a potência que foi incrementada em 7 meses deste ano é praticamente a mesma que foi realizada até 2020.
Combustível do futuro
Em outras palavras, o fato do desenvolvimento da geração solar estar em ritmo extremamente acelerado pode, e deve, ser o principal trunfo para que o hidrogênio verde se consolide como uma opção de combustível viável para o futuro próximo. Assim, a utilização conjunta da energia solar e hidrogênio verde pode atuar de forma interligada para tornar as fontes energéticas mais baratas e ecológicas para toda a sociedade. Não apenas como energia elétrica para indústria, varejo ou para sua casa, mas também para substituir combustíveis fósseis como gasolina e Diesel.
Diante de todo esse cenário, não é à toa que boa parte do mundo já atua de forma intensiva na busca pelo desenvolvimento de infraestrutura que viabilizem a massificação deste combustível limpo. O Brasil, inclusive, é visto hoje como uma das maiores potências globais para a produção do hidrogênio verde, devido, principalmente, à abundância energética inerente ao sol.
A busca por matrizes energéticas mais sustentáveis vem sendo o grande desafio da humanidade nos últimos anos. A procura por novas fontes tem sido incessante e parece finalmente ter encontrado uma resposta assertiva por meio do hidrogênio verde. Com a necessidade do uso de energias renováveis durante a sua produção, a expectativa é de que ele se aproprie desse mercado aquecido inicialmente, mas a esperança é de atuação mútua e conjunta entre esses dois universos nos próximos anos.
Assim, a relação entre o hidrogênio verde e a geração energética fotovoltaica tem tudo para ser um vínculo ganha-ganha para ambos os setores e a chave que precisávamos para um futuro descarbonizado, livre de emissões.