*Yannie Zanuto é analista de marketing da Invenis
Foi-se o tempo em que os assuntos estratégicos das empresas eram uma demanda que cabia de forma única e exclusiva aos gestores e líderes. Com o avanço da cultura da inovação, empregada principalmente pelas startups, e a exigência cada vez mais intensa por parte da concorrência e dos próprios clientes, as companhias estão passando, pouco a pouco, a olhar com mais atenção para o engajamento e a motivação de sua equipe, sempre buscando encontrar formas de aproveitar os talentos não só para garantir produtividade, mas para colaborar ativamente com o seu plano de crescimento.
Diante desse cenário, um novo sistema de gestão de trabalho vem ganhando força no Brasil e no mundo. É a chamada gestão descentralizada, ou gestão sem chefe, estrutura na qual as responsabilidades e as tomadas de decisões são atribuídas diretamente para as mãos dos funcionários. Atuo com essa forma de gestão há um ano e já consigo perceber meu desenvolvimento profissional.
Isso porque tenho autonomia para decidir o que é melhor para cada situação, podendo resolver questões mais urgentes e prioritárias, sem ter que consultar os líderes a cada demanda.
Quando almejamos algo maior para a nossa carreira, como consequência a essa extinção da pirâmide hierárquica tradicional, temos o prazer de fazer acontecer. Trabalhar com esse modelo de gestão nos faz sentirmos, de fato, donos da nossa área de atuação. Nos comprometemos muito mais, uma vez que poder colher os frutos do seu trabalho e esforço é muito gratificante.
Somado a isso, há o clima organizacional mais cooperativo, uma vez que com esse modelo de gestão, trabalhamos em busca de um mesmo propósito, o que resulta na diminuição da pressão exercida nos colaboradores e na rapidez sobre o alcance de objetivos e metas.
Demandas e sacrifícios
Porém, diante da minha experiência nesse modelo, preciso deixar claro também que a opção por uma gestão sem chefe exige algumas demandas e sacrifícios bem distintos comparado ao modelo tradicional. É necessário ter em mente, principalmente, que várias das características que são normalmente apontadas como diferenciais importantes de mercado, como a questão de proatividade, autonomia, espírito de equipe e de liderança, por exemplo, passam a ser atributos indispensáveis.
Até porque, se por um lado a gestão descentralizada concede maiores poderes e liberdade, por outro também exige uma maior eficiência na sua autogestão, além de maior grau de criatividade e responsabilidade. É como diz o ditado: “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”.
Em contrapartida, posso atestar que todas essas condições mais complexas impostas em uma gestão sem chefe, acabam por gerar um sentimento satisfatório muito mais profundo. Isso porque, se o encargo das tomadas de decisões e resoluções de problemas se torna um compromisso exclusivamente nosso, o reconhecimento dessas atribuições também acaba direcionado para a gente. Como resultado, a sensação é de que o modelo contribui para que a relação entre empresa e funcionário se torne muito mais justa e transparente.
Mesmo que os resultados dependam do colaborador, que ganha a missão de executar as tarefas e tomar as decisões, avalio que a companhia também tem um papel fundamental nesse processo. Buscar promover mudanças, além de avaliar novos mecanismos de motivação são ações importantes que ajudam a prover um ambiente de trabalho, despertando ainda mais o interesse do profissional no desenvolvimento de suas funções.
Costumo dizer que aplicar o modelo de gestão descentralizada é um divisor de águas, uma vez que não serão todos os profissionais que conseguirão se adaptar facilmente a uma gestão sem chefe e está tudo bem. Antes de qualquer coisa, é necessário uma autoavaliação sobre a existência ou não de um fit cultural entre as próprias características pessoais e os requisitos exigidos pelo modelo descentralizado para que não haja frustrações de ambas as partes.
Com todos os pontos expostos, avalio que a experiência de atuar em uma cultura sem chefe está sendo fundamental para a minha trajetória profissional. A Yannie que começou lá atrás, não é a mesma de hoje. Assumir um cargo sem ter uma liderança como guia foi um desafio e tanto no começo, mas atualmente sinto que sou uma colaboradora muito mais autônoma e evoluída quanto às minhas decisões. Vivenciar essa jornada tem sido uma experiência extremamente enriquecedora.