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Como o cenário econômico afeta os investimentos na minha startup?

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*Renan Schaefer é fundador da ExFin e Stela Schenato é head de Produto da Media Credit

Você deve ter identificado que, desde 2023, o cenário econômico brasileiro e mundial tem passado por momentos conturbados. Desde crises no mercado de crédito, reflexo do caso das Lojas Americanas que parou o mercado de crédito nacional, até um começo de arrefecimento da inflação no Brasil e nas economias desenvolvidas, implicando diretamente na expectativa de cortes das taxas básicas de juros, que vem demorando mais do que o esperado pelo mercado, frustrando expectativas e levando à especulações de outros movimentos nas taxas de juros a nível local e global.

Acompanhar esses movimentos econômicos é relevante do ponto de vista do consumidor e ainda mais do empreendedor, pois as taxas de juros básicas das economias desempenham um papel fundamental como instrumento de política monetária para controlar a inflação.

No Brasil, temos a SELIC, enquanto nos Estados Unidos é conhecida como Fed Funds Rate, equivalente à SELIC brasileira. Isso significa que quando a atividade econômica se intensifica, os preços tendem a aumentar, levando os bancos centrais a elevarem as taxas de juros para conter a atividade econômica. Isso ocorre porque os consumidores reduzem seus gastos, e os empreendedores restringem novos investimentos produtivos, entre outros fatores, reduzindo a demanda potencial e segurando o aumento de preços.

Além dos impactos conhecidos, que afetam diretamente nosso cotidiano como o aumento dos preços de produtos de consumo, outro fator de grande relevância para o mercado é o impacto da taxa de juros nos investimentos de capital de risco e Venture Capital. Importante contextualizar que os retornos médios históricos ao longo dos últimos 30 anos destes investimentos chega próximo a 6 vezes o capital investido, mas a propensão a investir em determinados momentos do ciclo econômico é bastante diferente.

Dinâmica das taxas de juros

Taxas de juros mais altas dificultam a captação de novos recursos pelos fundos de Venture Capital. Apesar dos retornos historicamente sólidos observados nos últimos 30 anos, o risco associado a esses investimentos é igualmente significativo. Isso leva os investidores de Venture Capital a preferirem, muitas vezes, evitar riscos elevados alocando capital em outros ativos que ofereçam retornos atrativos com um nível de risco menor.

Talvez não tenha ficado evidente até o momento, mas a dinâmica das taxas de juros da economia está diretamente ligada no cálculo de precificação de empresas, o famoso Valuation. Uma das principais técnicas de precificação de startups, utilizada pelos investidores, leva em conta uma taxa livre de risco e um custo médio ponderado de capital (WACC na sigla em inglês). Quanto maior a taxa básica de juros, maior o desconto aplicado e, consequentemente, menor o preço de avaliação da startup.

Notavelmente, um aumento de juros impacta também na precificação de empresas listadas em bolsa de valores, que são muito usadas como comparativos na hora de calcular estimativas de retorno em eventuais vendas de startups no futuro. Ou seja, os fundos de Venture Capital precisam calcular os potenciais de retornos na hora de realizar ou não os investimentos, e uma das métricas de potenciais retornos está nos comparativos com empresas listadas. No final das contas, o mercado está conectado.

Em 2021 tivemos o boom de liquidez nos mercados, com taxas de juros zero nos Estados Unidos e taxas de um dígito no Brasil, as empresas de tecnologia chegaram a negociar em múltiplos acima de 14 vezes a receita projetada para os próximos 12 meses (honestamente soube de deals sendo feitos a Valuations a 100 vezes a receita, gerando uma exuberância irracional semelhante aos anos 2000 na bolha das empresas .com), enquanto a média histórica era negociar na casa de 5 vezes a receita.

Em contrapartida, na hora que os juros sobem e que a liquidez dos mercados começa a diminuir, os múltiplos negociados tendem a cair, e serem ajustados à médias históricas, reduzindo o apetite do investidor para novos aportes, explicando a queda expressiva nos volumes de investimentos em 2022 e 2023, o tão falado “inverno das startups”. Provavelmente, se a sua startup pensou, tentou ou captou investimento nos últimos dois anos experienciou esse movimento do mercado e sabe que, mesmo estabelecendo uma relação de confiança com os potenciais investidores, às vezes o mercado joga contra.

Long story, short, o mundo vive um momento conturbado, com a economia americana mostrando sinais (em alguns casos surpreendentes) de resiliência, mesmo com aumento significativo das taxas de juros, enquanto no Brasil, vivemos um momento de redução de taxa de juros, um movimento que historicamente nunca havia acontecido, dificultando projetar cenários de médio a longo prazo.

Estamos vivenciando no Brasil desafios fiscais, gastos excessivos por parte do Estado, endividamento das famílias e aumento da inadimplência, tanto das empresas como de pessoas físicas, por isso o mercado tem passado a precificar uma redução na velocidade dos cortes da taxa SELIC, o que impacta diretamente nos Valuations, volumes de investimentos em Venture Capital, dentre outros ativos de maior risco, gerando necessidade que as empresas pensem em outras alternativas de captação, além do Equity, para financiar seu crescimento, eventuais períodos de queima de caixa e a caminhada para o tão buscado (em muitos casos) breakeven.

Na era presente, em que todos os mercados estão interconectados e o cenário econômico global é altamente entrelaçado, acompanhar e entender como funcionam as variáveis que impactam a economia, é de extrema relevância para o empreendedor que deseja estar bem posicionado e aproveitando as melhores oportunidades, assim como entender formas alternativas de captar recursos para sua empresa.

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