*Marcos Aurélio Pedroso é gerente de parcerias e inovação aberta da TecBan
Temos discutido há algum tempo sobre a potência de inovação e tecnologia do Brasil, que tem provado estar à frente de outros países neste assunto. E quando conectamos inovação a startups, vale destacar a influência do Corporate Venture Builder (CVB), um modelo usado por empresas já consolidadas para investir em inovação e, desta forma, desempenharem importante papel no desenvolvimento e renovação do mercado.
Prova disso é o movimento bilionário junto às startups brasileiras, que somente entre 2019 e 2023 receberam US$ 21,9 bilhões em investimentos, cerca de R$ 108,4 bilhões. Esse número levou o país ao topo do ranking da América Latina tanto em recursos, quanto em rodadas de investimento: das 5.155 registradas, o Brasil foi responsável por 3.340, quase 65% do total naquele período.
Nesse contexto, o Corporate Venture Builder (CVB) é o modelo que viabiliza a colaboração entre empresas e corporações já consolidadas com startups. Como fruto da colaboração, os resultados tendem a ser benéficos para os dois lados, com o principal objetivo do modelo sendo a transformação das corporações por meio da inovação. As empresas buscam formas de se manterem vivas e competitivas no mercado. Isso impacta a forma como se encara o presente e como se planeja sustentar o futuro.
Como funciona o CVB
O CVB faz com que esses negócios se aproximem das startups por outro caminho, que não os tradicionais programas de aceleração corporativa, labs, Venture Capital ou Venture Client. Vale dizer que estas também são boas alternativas, mas podem apresentar um resultado não satisfatório se as startups e corporações envolvidas apresentarem incompatibilidades, como objetivos divergentes, exposição ao risco, definições quanto a propriedade intelectual ou modelo de negócios.
Uma das grandes características positivas das startups está atrelada ao olhar às práticas disruptivas. Já na realidade das corporações, o caminho é oposto, é fácil compreender a dificuldade na implementação de grandes mudanças quando se tem muitos processos definidos e uma cadeia de valor, que pode ser uma grande cauda a ser afetada de forma homogênea pela nova proposta. Por isso é mais fácil que essas empresas inovem no que diz respeito a otimização de modelos de negócios.
As CVBs podem ser entendidas como um terceiro ator: resultado da junção entre startup e corporação. Elas surgem quando uma empresa deseja descobrir novos produtos ou criar novos mercados e busca por uma startup com solução para determinados desafios, fundindo-se após o alinhamento de objetivos. A CVB é a responsável por realizar curadoria das startups que estejam alinhadas a tese de inovação da corporação e levar tais soluções para o mercado.
Um bom exemplo é o que ocorre na ATMosfera Ventures, CVB da TecBan criada em parceria com a FCJ Ventures, para desenvolver negócios multissetoriais que possam contribuir para as transformações do ecossistema financeiro brasileiro. Em linha com a atuação da companhia, só em 2023 interagiu com mais de 130 startups e iniciamos 2024 com 9 startups, buscando cocriar negócios escaláveis com as que oferecem soluções digitais focadas no varejo e mercado financeiro, com compromisso de curto, médio e longo prazo, podendo direcionar frentes para expectativas de retorno financeiro ou retorno estratégico.
Como exemplo desse segundo retorno, temos a parceria com a fintech QuickDigital, que é focada no pequeno e médio lojista com oferta de serviços digitais e financeiros, onde utilizamos a distribuição de nossa nova solução de saque no varejo a partir do canal e equipamentos da QuickDigital.
Assim, o modelo CVB permite uma sustentabilidade de co-criação para colaboração entre os lados interessados de modo a acelerar o crescimento da startup e gerar benefícios aos negócios das corporações. É dessa forma que é possível uma integração entre elas que, inclusive, garante às empresas consolidadas a manutenção da sua imagem inovadora.
Além disso, há de se considerar também, pelo lado das companhias, o custo mais acessível e velocidade de comercialização das startups que o modelo permite. Entre todas as definições que podem ser atribuídas ao CVB e todas as diferentes estruturas de modelo a serem descritas a partir dele, o ponto comum se concentra no alinhamento de incentivos entre corporações, Corporate Venture Builder e startup. É isso o que o torna previsivelmente positivo, estratégico, vantajoso e uma fonte de benefícios para os envolvidos se feito da maneira correta.