Sustentabilidade
Sustentabilidade (Foto: Canva)

*Por Amure Pinho, fundador do Investidores.vc

Nos próximos meses, o Brasil será vitrine para o mundo quando se fala em clima, inovação e impacto. A COP 30, marcada para novembro de 2025, em Belém (PA), reacende os holofotes sobre um tema que deixou de ser tendência e virou urgência: sustentabilidade como alavanca de inovação e investimento.

Com a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas se aproximando, cresce a expectativa em torno das startups de sustentabilidade e sua capacidade de oferecer soluções que dialoguem com os principais eixos da conferência: mitigação, adaptação, natureza e financiamento climático.

O Brasil entra nesse cenário com protagonismo, reforçado pela Amazônia, pela recente queda do desmatamento (65,8% nas áreas queimadas e 46,4% nos focos de calor no primeiro semestre de 2025 em comparação com 2024, segundo o MMA), e pela criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), instituído pela Lei 15.042 de 2024. O novo marco regulatório transforma promessas em exigências concretas: setores emissores precisarão comprovar reduções, usar créditos de carbono de alta integridade e adotar metodologias de mensuração e verificação reconhecidas.

Outro vetor essencial é a regulação sobre a disclosure. A Comissão de Valores Mobiliários incorporou as normas internacionais S1 e S2 do ISSB ao padrão brasileiro por meio da Resolução 193, estabelecendo um calendário de adoção obrigatória para companhias abertas. Paralelamente, o TNFD consolidou recomendações sobre riscos relacionados à natureza, alinhadas ao marco global de biodiversidade. Esses avanços pressionam a cadeia de fornecedores e startups a entregar dados auditáveis, métricas de emissões em diferentes escopos e governança de riscos físicos e de transição. Startups com infraestrutura de monitoramento, MRV digital e soluções de rastreabilidade ganham vantagem competitiva nesse cenário.

O pano de fundo global também favorece esse movimento. A Agência Internacional de Energia projeta investimentos de US$3,3 trilhões em energia em 2025, sendo US$2,2 trilhões em renováveis, redes, eletrificação e nuclear — mais que o dobro do destinado a combustíveis fósseis. Já o venture capital em climate tech atravessa uma fase seletiva: foram US$30 bilhões investidos em 2024, queda de 14% frente a 2023, mas com crescimento acelerado em soluções baseadas em inteligência artificial, que captaram cerca de US$6 bilhões nos três primeiros trimestres de 2024. O recado é claro: há liquidez e demanda, mas investidores buscam modelos que demonstrem tração, custos competitivos e rotas tecnológicas claras.

No Brasil, a COP 30 amplia o foco na bioeconomia amazônica, onde há potencial bilionário de geração de valor, empregos e exportações ligados a cadeias da sociobiodiversidade. O Pará, sede da conferência, já anuncia centros de inovação e programas de estímulo a startups do setor. O investidor, porém, precisa avaliar com rigor riscos fundiários, adicionalidade e repartição de benefícios com comunidades tradicionais, já que integridade socioambiental será um dos pontos mais observados em Belém.

Diante desse quadro, a avaliação de startups de sustentabilidade deve se apoiar em cinco critérios centrais:

  1. Materialidade do impacto alinhada a lacunas de investimento global;
  2. Aderência regulatória ao SBCE e às normas de reporte;
  3. Métricas econômicas sólidas, com viabilidade financeira;
  4. Riscos de execução bem mapeados e mitigáveis;
  5. Tração comercial comprovada por contratos ou parcerias estratégicas.

Startups que conseguem aliar ciência, dados auditáveis, governança e modelos de negócios escaláveis estarão melhor posicionadas para captar recursos e consolidar espaço.

A COP 30 será um marco para a reputação climática do Brasil — e também uma oportunidade de ouro para investidores atentos ao futuro. O momento de se posicionar é agora.