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Criminosos digitais estão roubando fortunas. Como reduzir esse risco?

Cibersegurança para startups é questão de sobrevivência e melhora o valuation. Saiba como proteger sua empresa e atrair investidores

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Cibersegurança | Foto: Canva
Cibersegurança | Foto: Canva

*Por Bruno Moraes, fundador do Cyber Horizon Group

Cibersegurança é um tema urgente que deixou de ser exclusivo para grandes empresas. Enquanto dedicam energia ao crescimento acelerado, à captação de recursos e à construção de soluções tecnológicas brilhantes, muitas startups (incluindo edtechs, fintechs, healthtechs e agritechs) deixam a segurança cibernética em segundo plano.

Estamos numa escalada de ataques, em que não é mais uma questão de “se” sua startup será atacada, mas “quando”.

O problema é que essa falta de atenção tem sido explorada por criminosos digitais cada vez mais sofisticados. Mas a verdade é simples: a grande maioria das empresas, não importa o porte ou o segmento de atuação, já está na mira desses atacantes. Sem uma estratégia clara de cibersegurança, o risco digital pode custar caro para qualquer negócio, e não só do ramo financeiro.

E esse é o risco que muitos fundadores só percebem após vazamentos de dados, invasões, fraudes, sistemas criptografados ou crises reputacionais. Já presenciei uma startup que teve seu ambiente tecnológico inteiro sequestrado, enfrentando um pedido de resgate de US$ 1 milhão. Em outra startup, APIs com falhas básicas de programação segura foram exploradas para aplicar fraudes milionárias. Também já auxiliamos uma fintech que teve seu app invadido por criminosos para acessar dados de milhões de clientes, um ataque que comprometeu sua reputação e pode ter colocado em risco suas próximas rodadas de captação. 

Agora pense você como fundador de uma empresa que tem tudo para dar certo. Imagine o seu ambiente de tecnologia todo criptografado, incluindo o seu backup. Quais seriam as saídas para essa situação desesperadora? Ceder à extorsão e pagar resgate? Reconstruir tudo?

Não é à toa que, segundo a Brasscom, os investimentos em segurança digital no Brasil devem chegar a R$ 104,6 bilhões até 2028, abrangendo qualquer perfil de empresa no País, incluindo startups. Isso mostra que o tema está no centro das estratégias de negócios de todos os tamanhos.

Por que criminosos digitais visam startups?

Grupos criminosos digitais são organizações altamente especializadas, com foco em ganho financeiro e com acesso a ferramentas avançadas. Muitas vezes ligados ao crime organizado tradicional, eles operam como empresas: estudam o mercado, têm estruturas hierárquicas, investem em conhecimento, exploram vulnerabilidades e agem com agilidade.

Essas ofensivas não afetam apenas empresas que movimentam grandes volumes financeiros. Já vimos casos envolvendo startups de educação, logística e até agricultura digital. O risco estará presente sempre onde houver dados sensíveis, sistemas conectados e pouca maturidade de segurança,  perfil comum na maioria das startups, estejam elas em fase inicial ou em crescimento acelerado.

A cibersegurança também virou critério para que startups estejam aptas a fazer negócios com grandes corporações. Muitas delas já exigem comprovação de práticas mínimas de segurança antes de fechar contratos. Ignorar esse aspecto pode bloquear parcerias e isolar uma startup de oportunidades estratégicas.

Ou seja: sem um plano de cibersegurança, startups podem ter prejuízos não apenas por se tornarem ambientes ‘ideais’ para golpes silenciosos e ataques rápidos, mas também pela perda de novos negócios causada pela falta de critérios básicos de segurança digital.

Valuation e due diligence: a nova realidade do mercado

A negligência com a cibersegurança para startups também pode prejudicar a captação de investimentos. Fundos de venture capital estão incluindo avaliações de risco cibernético nas etapas iniciais de due diligence. Founders que não priorizam a proteção digital correm risco de ver seu valuation reduzido, ou até mesmo de não receber investimento algum, como já vimos em alguns casos.

Mas há também exemplos positivos: Um banco digital contratou consultoria especializada antes mesmo de lançar seus produtos no mercado, com foco em entender os modelos de fraude mais comuns no setor. O resultado é que a fintech entrou em operação já com um nível de maturidade superior à média do setor, com um histórico de ataques bem reduzido nos primeiros anos.

Como mostra esse relatório da Risk Strategies, práticas como testes de invasão periódicos, MFA (Multi-Factor Authentication), monitoramento contínuo e resposta a incidentes já são consideradas atividades “básicas” por fundos internacionais. E essa exigência está chegando com força ao ecossistema brasileiro.

O papel do founder na cibersegurança para startups

O founder conhece como ninguém as engrenagens do seu próprio negócio. Por isso, é ele quem deve liderar a agenda de cibersegurança nas startups. Não se trata apenas de contratar ferramentas ou delegar para a equipe técnica. A verdadeira proteção começa com uma mudança de mentalidade. 

É fundamental que as boas práticas de cibersegurança comecem pelo número 1 da empresa (geralmente o founder e/ou o CEO), sob pena de a proteção não ser efetiva para toda a organização.  Também é importante pensar como o atacante, identificar os pontos frágeis, antecipar ameaças e preparar respostas.

Essa abordagem, chamada attacker mindset, deve ser compartilhada por toda a liderança. Startups que realizam simulações de ataque, documentam aprendizados e treinam suas equipes de forma constante estão mais preparadas para enfrentar esse cenário de ameaças.

Dez pilares para blindar sua startup

Mais do que evitar prejuízos, startups com cultura de segurança inspiram confiança, têm vantagem competitiva e ganham mais valor aos olhos do mercado. Para chegarem a esse patamar, elas podem ter como referência o que pode ser chamado aqui de dez pilares de cibersegurança para startups:

1.    Advisor de Segurança: Contrate um CISO (interno ou como serviço) ou um advisor/conselheiro para guiar sua estratégia de cibersegurança. Lembre-se que essa posição precisa de poder de fala, autonomia e muito suporte.

2.    Frameworks consolidados: Use frameworks consagrados em cibersegurança, como o NIST (estratégico) ou CIS (tático), adaptando à maturidade e tamanho da empresa.

3.    Cultura DevSecOps: Segurança deve ser parte do desenvolvimento desde o início, nas linhas de código! Muito importante abraçar essa filosofia em todas as áreas.

4.    Testes de invasão reais: Simule como hackers atacariam seus sistemas e corrija as falhas.

5.    Superfície de Ataques: Entenda que quanto mais houver API’s, sistemas, domínios, VPN e serviços expostos para a internet, maior será seu risco e mais vulnerabilidades podem ser atacadas por hackers. Procure apoio especializado para reduzir as chances de ser hackeado.

6.    Monitoramento 24/7: Criminosos não dormem. Sua capacidade de se defender também não pode dormir. Existem muitas opções de soluções pagas e open source que podem ser usadas para emitir sinais de alertas e serem monitoradas por equipes ou por consultorias durante todo o dia e noite.

7.    Backups estruturados: Backup é uma linha de defesa principal contra ataques de ransomware. Se sua startup não tem backups bem-feitos (fora do seu ambiente de tecnologia, de preferência) e testes de restore, em um eventual ataque a recuperação após um incidente pode ser impossível.

8.    Treinamento contínuo da equipe: O erro humano é uma das maiores causas de incidentes. Treine muito seu time sobre as melhores práticas de segurança, principalmente contra Engenharia Social.

9.    Gestão de identidade e acesso (IAM): MFA (Multi Factor Authentication) para todos e para tudo! Além disso, restrinja os “superpoderes” só a quem realmente precisa e com bastante controle.

10. Avaliação de terceiros: Adote um protocolo de cibersegurança robusto também para fornecedores e atividades terceirizadas, já que APIs e serviços SaaS (Software as a Service) também podem ser portas de entrada para ataques.

E a IA no meio disso tudo?

Ao passo que a inteligência artificial se torna parte da rotina cotidiana das startups, e também uma ferramenta ideal para entregar mais eficiência e produtividade do que as empresas tradicionais, ela também cresce como alvo de criminosos. Modelos de IA mal configurados podem expor dados sensíveis ou reproduzir falhas existentes.

A cibersegurança para startups que usam inteligência artificial precisa considerar a aplicação de controles de acesso aos agentes de IA, auditoria de código, proteção contra vazamentos de dados, testes de vulnerabilidades e de resistência.

Em contrapartida, a IA também pode ser uma aliada da segurança. Isso porque algoritmos de machine learning detectam padrões suspeitos, automatizam alertas e aceleram a resposta a incidentes. Várias soluções atuam assim, muitas delas de prevenção a fraudes, inclusive.

Em todo caso, fica o recado: sem segurança, a IA é uma faca de dois gumes.

Prevenir com assertividade é o único caminho para reduzir o risco digital, proteger sua reputação e a continuidade do seu negócio. Quem age agora, sai na frente. Quem ignora, assume riscos incalculáveis.