* Carolina Madureira é CEO da Bluy
Se há algo que os últimos anos nos ensinaram é que aquele ambiente lúdico dentro das empresas, que mistura cores e objetos divertidos com freezers recheados de cervejas e outros agrados, não é sinônimo de cuidados com o colaborador. Não se trata de simplesmente jogar fora o que construímos ao longo da última década, quando nosso ecossistema de startups se formou e consolidou.
Claro que, tornar o local de trabalho um espaço de convivência mais agradável e inspirador para o desenvolvimento do colaborador é importante. Mas isso é só um detalhe. Vamos pensar juntos sobre o que é primordial para atrair e reter talentos? Isso, sim, dará a musculatura necessária que os negócios precisam para serem sustentáveis.
A pandemia representou uma ruptura da sensação de controle sobre as coisas. Ela nos enfiou goela abaixo o medo, a insegurança e, principalmente, o imponderável. Não é pouco. Em cada pessoa, esses sentimentos reverberaram de um jeito diferente. Na ponta do iceberg estão os transtornos mentais, como ansiedade e depressão, que aumentaram 25%, desde 2020, de acordo com um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ninguém saiu ileso da crise que levou gente dos quatro hemisférios do planeta ao isolamento social. E viva a tecnologia, que tornou possível a comunicação entre equipes e a produção nas empresas de forma remota. O mundo não parou! Mas, nem mesmo os SaaS e a inteligência reunidos conseguiram evitar que muitas pessoas perdessem o sentido de ser parte de um todo.
Uma pesquisa do instituto Gallup, feita nos Estados Unidos, aponta que apenas 33% dos funcionários americanos estão engajados em seus empregos. Isso acende uma luz e a pergunta do momento para os gestores é: “E agora? O que de fato faz sentido para o futuro do trabalho?”.
O novo contexto já demandou algumas mudanças significativas, como modelo de trabalho remoto ou híbrido, deu-se mais enfoque à saúde mental e ações voltadas à qualidade de vida dos colaboradores. Isso já é realidade, o que é ótimo – não estamos na estaca zero. Por outro lado, também mostra que a construção é longa.
A mesma pesquisa do Gallup, que mencionei acima, mostra que o quiet quitting – em tradução livre significa desistência silenciosa – ganhou força na pandemia. Faz todo sentido, pois as pessoas passaram a repensar seu tempo e buscar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Mais de 50% estão aderindo ao quiet quitting. Só no Brasil, até agosto de 2022, tivemos mais de 600 milhões de pedidos de demissões.
Estamos sendo desafiados a pensar se estamos prontos, de fato, para liderar um time e entregar resultados com base na confiança e responsabilidade. Dar flexibilidade, autonomia e garantir um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal perpassa pela premissa de que meu time está ali junto comigo para alcançar juntos os objetivos desenhados. E a base de tudo isso se dá pela comunicação transparente, gestão próxima, valores bem definidos e um propósito claro. Uma cultura fortalecida e real vai ser o princípio e a base de toda mudança.
O que a pandemia escancarou ganhou cores fortes com a presença instigante das gerações Y, ou Millenial, e Z no mercado de trabalho. Ainda que todas as outras gerações sigam se movimentando com fervor e sejam peças essenciais dessa engrenagem, são as novas gerações que estão ditando o tom do mercado de trabalho. São eles os agentes da mudança, que construirão cada novo passo da sociedade e garantirão que o que já foi construído se mantenha firme e forte.
Se engana quem ainda pensa que os jovens serão seduzidos com uma colorida piscina de bolinhas. Vivemos uma onda de empresas com benefícios aparentemente atrativos, como comes e bebes e happy hours semanais, mas continuaram cobrando e mensurando resultados pelo relógio de ponto, presença no escritório e microgerenciamento de tarefas. O que funcionava antes, não funciona mais. Os jovens querem muito mais. Muito, mesmo; e isso inclui estarem vinculados a empresas que se preocupam com a sociedade e o meio ambiente, entre outros valores.
O que atrai e retém essa nova força de trabalho, tão questionadora e adepta a mudanças?
A nova geração está em busca de propósito, flexibilidade, uma vida pessoal e profissional equilibradas e, ao contrário das gerações anteriores, não têm grandes ambições quanto a estabilidade e cargos renomados.
Acima de tudo, precisamos construir uma cultura que realmente se importe com gente, que vivencia o que fala. As pessoas não vão mais trabalhar para você e sim junto com você, em busca de um objetivo maior. Quando isso se tornar real, o engajamento e a produtividade serão decorrência natural.