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Da Barsa ao ChatGPT: a pesquisa através das gerações

Evolução das ferramentas de pesquisa oferece insights interessantes sobre as gerações. Saiba mais

Foto: Canva
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*Andréa Migliori é CEO da Workhub

Se você é um Baby Boomer ou pertence à Geração X — ou seja, tem mais de 40 anos —, é possível que conheça a Barsa: uma enciclopédia em vários volumes que foi muito popular entre os anos 60 e 90. Agora, caso seja mais novo, pode nunca ter ouvido falar sobre isso e o que você certamente conhece como fonte de pesquisa é o Google e possivelmente o ChatGPT, ou até mesmo o TikTok, já que cada vez mais pessoas estão usando a rede social para esse fim.

É o caso especialmente da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010). Segundo uma pesquisa da Her Campus Media: mais da metade deles escolhe o TikTok ao invés do Google na hora de pesquisar alguma informação.

Essa diferença entre as ferramentas oferece insights muito interessantes sobre as gerações e sobre o modo como o mundo e a tecnologia vem evoluindo até chegarmos ao ChatGPT. Vamos considerar a linha do tempo: com a Barsa, era preciso ter em mente exatamente o que queria. Saber o que procurar, ter as palavras certas para encontrar as respostas ou até mesmo para chegar no volume e na seção correta da enciclopédia. Por mais que fosse um facilitador, uma vez que reunia vários dados em um só lugar, ainda era necessário manejar a ferramenta.

Então veio o Google e tudo ficou bem mais simples. Com apenas uma ou duas palavras, o site encontra o que você precisa. É claro que em alguns casos é preciso elaborar mais, mas o buscador continuou aprimorando seu serviço e exigindo cada vez menos esforço para o usuário. Então chegamos ao ChatGPT e o uso de inteligência artificial. Apesar de ser um avanço tecnológico, ele retomou algo lá de trás: a necessidade de saber manusear. Neste caso, fazer perguntas com as diretrizes apropriadas é o que vai fazer com que a IA responda.

As particularidades de cada ferramenta


Para quem cresceu conferindo uma enciclopédia manual, fazer perguntas a um robô talvez não seja tão difícil. Já para quem só usava palavras-chaves no Google, pode ocorrer o contrário. E isso sugere uma diferença entre as gerações que muitos não imaginam: os mais velhos podem ter vantagens em algumas das transformações digitais que estão acontecendo agora, incluindo o chatbot desenvolvido pela OpenAI.

Porém a pesquisa não acaba quando um resultado aparece na tela. A apuração da informação é uma questão mais relevante do que nunca, e nisso todas as gerações podem tropeçar. A Barsa era considerada inteiramente confiável; se estava lá, era verdade. Contudo, sendo uma série de livros, é preciso considerar que as atualizações demoravam mais a chegar nas lojas e nas mãos do público. Já o Google trabalha constantemente contra as fakenews, ainda que enfrentando várias dificuldades ao longo dos anos. De qualquer forma, quem pesquisa precisa verificar outras fontes ou sites oficiais para ter certeza do que está consumindo.

O ChatGPT pode ser ainda mais complicado nesse quesito. Para apurar os dados, é preciso sair da plataforma — provavelmente indo até o Google, veja só — para encontrar as fontes. E quem não faz isso arrisca bastante. Foi o caso do advogado Steven A. Schwartz, dos Estados Unidos, que usou a ferramenta para coletar informações sobre casos jurídicos e os apresentou a um juiz sem conferi-los. No fim, eram casos inexistentes, e o profissional precisou pagar uma multa de US$ 5 mil por apresentar dados falsos na corte.

O fato é que toda ferramenta de pesquisa requer cuidado. O TikTok, por exemplo, não foi criado para isso, mas serve como uma forma de encontrar opiniões e resenhas de milhares de pessoas sobre produtos e serviços, ou para descobrir mais sobre algo que está ganhando atenção. Produtores de conteúdo precisam ter ciência de sua responsabilidade nesse sentido, assim como usuários também devem cuidar para não confiar inteiramente em tudo que veem.

Dá para começar a usar o ChatGPT desde bem cedo! (Foto: Freepik)
Dá para começar a usar o ChatGPT desde bem cedo! (Foto: Freepik)

Do mais novo ao mais antigo

Ainda engatinhando nesta linha do tempo, mas nem tanto nos meios digitais, estão os Alphas, que nasceram depois de 2010 e são crianças e adolescentes tão completamente imersos na tecnologia que pode parecer que eles conseguem dominar qualquer dispositivo, programa ou recurso. Será que é verdade?

Acredito que, na prática, todas as gerações precisam se dispor a aprender. O mundo muda muito mais rapidamente agora do que antes, e para acompanhar é necessário querer acompanhar. Isso vale para todos os aspectos da vida: social, profissional, cultural, nas relações de consumo e também no lazer. O mercado de trabalho, aliás, é onde mais se cobra esse tipo de atualização. Ainda que você prefira o Google, é bom começar a testar o ChatGPT, mesmo que para outras funcionalidades.

E se você está sempre pulando para a última tendência e desinstalando os apps antigos, saiba que o passado também ensina muitas habilidades valiosas. Vasculhe, estude, pesquise. Dos 5 aos 95 anos, aprender é sempre uma boa ideia.