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Dicas de leitura para inspirar a condução do seu negócio

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* Juliano Braz é sócio-diretor da Take Blip

Ler está entre as atividades que mais gosto de fazer. Falando do mundo dos negócios, independentemente do que é prazeroso para cada pessoa, alguns livros são leituras quase obrigatórias para quem quer entender o seu lugar no ecossistema e onde pretende chegar. 

Na verdade, muitas perguntas fundamentais encontram respostas na experiência de erros e acertos compartilhados por outras pessoas e autores. Sempre entendendo que os livros não trazem uma receita mágica, mas sim várias experiências e insights valiosos. A cultura da Netflix, por exemplo, é emblemática no universo da inovação; e dessa história, podemos vislumbrar alguns nortes. Já faz alguns anos que li o livro No Rules Rules, que tem a versão em português, A regra é não ter regras

O contexto mudou. A Netflix já foi o único grande player mundial e, hoje, divide o mercado com diversas plataformas de streaming de filmes, mas alguns fundamentos criados pelo pioneiro permanecem. Por exemplo, podemos pensar na liberdade consequente da ausência de regras no jeito de funcionar da Netflix. A regra de ouro explicada pelo autor, Reed Hastings, co-fundador e CEO da Netflix, é o conceito de densidade de talentos.

Em outras palavras, você trabalha com pessoas que têm muita maturidade e experiência no que fazem. Não é preciso criar muitas regras para essas pessoas, porque elas sabem o que precisam fazer. São independentes e, principalmente, gostam do que fazem, por isso, querem sempre fazer o que for melhor para os clientes, para a empresa e para elas mesmas. Elas formam um time de alta performance. Claro que você não pode pensar em fazer como a Netflix e simplesmente abolir regras sem antes se perguntar se na sua empresa há um time com esse tipo de densidade de talentos.

Chegar ao mundo ideal em que o funcionário tem a consciência de tirar férias de modo ponderado ou de usar os recursos da empresa da mesma forma que gere os próprios recursos é uma construção. Há um caminho para chegar a esse patamar, que propõe a competição saudável e a camaradagem entre as pessoas. Na nossa empresa, trabalhamos com o conceito do infinity learning, ou seja, estamos sempre aprendendo. E mais, assim como discutido no livro, estamos abertos ao feedback irrestrito, e todos têm espaço para contribuir, ainda que não sejam experts numa determinada posição. Este pode ser um ponto de partida. 

Leitura obrigatória

Na minha estante de livros tem lugar para outras obras, que considero fundamentais para nós, que estamos à frente de empresas com essência digital. Se você ainda não leu Blitzscaling, de Reid Hoffman, fundador do LinkedIn, vale a pena colocar na sua lista de leitura. Embora a primeira publicação tenha sido em 2018, o livro é muito atual. Em resumo, o autor diz que durante a fase em que sua empresa entra num crescimento exponencial, blitzscaling, a velocidade se torna mais importante que a eficiência.

Hoffman utiliza o termo escape velocity e é genial para se fazer entender. O conceito se refere à velocidade que um foguete precisa atingir para sair do campo gravitacional da Terra. Há riscos e incertezas quando sua empresa escala em alta velocidade? Sim, claro que há. Mas são riscos controlados por meio de testes. Não é qualquer empresa que se pode propor a essa ideia. Uma empresa de grande porte e mais madura teria que entender se o conceito de blitzscaling poderia ser aplicado, por exemplo, num laboratório de inovação ou mesmo numa spin-off. Por outro lado, uma startup deveria pensar nesse conceito até como uma questão de sobrevivência.

Uma vez que esse crescimento acelerado te garanta uma posição de destaque no mercado, que te separa dos outros competidores, é hora de você ajustar e investir em processos e eficiência para ganhar dinheiro. Lembra de como começou o Dropbox? Eles ofereciam recompensa em bites em troca de recomendação de usuários. Quer outros grandes exemplos? LinkedIn e TikTok — este último, em três anos, ultrapassou a marca de 1 bilhão de usuários ativos mensais. 

Crescimento assim, tenha certeza, só é possível com muita experimentação. E esses experimentos, mais uma vez, precisam ser feitos com velocidade e sem medo de errar. Sobre esse tema, aliás, muito se tem falado — e é muito importante que se fale! 

Outro livro que recomendo é o The infinite game, escrito por Simon Sinek. O autor discute o conceito de dois tipos de jogos que ocorrem no mercado. O jogo finito no qual empresas tentam ser as “vencedoras” segundo seus próprios critérios e acabar com competidores, que são considerados seus inimigos. No outro extremo, o jogo infinito onde as empresas se preocupam com seu propósito e no valor que geram para seus clientes. No jogo infinito não há regras acordadas de como definir um vencedor, as empresas rivais não são inimigas e sim coexistem cada uma em busca do seu próprio objetivo. 

Vale a pena, aqui, incluir também o Antifragile, obra de Nassin Taleb. Mesmo tendo sido lançado há 10 anos, esse livro não tem prazo de validade. Ele aborda justamente a necessidade da adaptação aos imprevistos. Taleb é categórico: empresas vencedoras não têm medo de mudança, experimentar e encarar os desafios como motivadores. Sem medo de mudar e cometer erros. 

O normal de toda empresa é reagir à mudança e buscar estabilidade. Para Taleb, e eu concordo plenamente, quem faz mais experimentações que outras empresas, está evoluindo mais e estará na frente. A mudança tem que te deixar mais forte. Na pandemia, a nossa empresa cresceu dez vezes. Por quê? Um pouquinho de sorte, talvez, mas eu diria competência também. A gente nunca teve medo da mudança e já reinventou a empresa mais de uma vez.

Para fechar a seleção de leituras inspiradoras e, em alguma medida, provocadoras, trago o Zero to One. Se você já leu faz tempo, reler pode trazer uma nova luz ao seu entendimento. Agora, se ainda não teve essa oportunidade, não será perda de tempo. Ao contrário, Peter Thiel, que lançou o livro em 2014, fala sobre o poder do “monopólio” do mercado. Não o monopólio no sentido literal — e ilegal — de controlar de modo desleal um mercado. Mas definir qual é o seu nicho e ser o melhor nele, ainda que esse nicho cresça. Se você faz o que nunca foi feito e pode fazê-lo melhor do que ninguém, você tem um monopólio – e todo negócio é bem-sucedido exatamente na medida em que detém o monopólio dentro do seu segmento de mercado.

Acontece que, quanto mais você compete, mais você se torna semelhante a todos os outros. E, como ser o melhor? A resposta de Thiel está na ponta da língua: a regra do dez. Você tem que ser, pelo menos, dez vezes melhor. Exemplos: oferecer um produto dez vezes mais eficiente do que o do concorrente ou ter o licenciamento do produto dez vezes mais barato do que a concorrência, e assim por diante. 

Temos muito a aprender com esses autores. Uma curiosa coincidência é que dois autores dos livros citados, Peter Thiel e Reid Hoffman trabalharam juntos no começo de suas carreiras. Ambos fizeram parte do que se conhece como “PayPal Mafia”, como se tornou conhecido o time do PayPal que reuniu algumas das mais geniais cabeças do Vale do Silício.

De modo algum o objetivo desse artigo é substituir a leitura dos livros mencionados, muito pelo contrário. O maior propósito deste artigo é instigar o interesse a leitura de alguma dessas obras. Aliás, de mais de uma obra, se possível, já que uma das coisas mais interessantes é que várias obras acabam convergindo em vários insights importantes. 

Eu destacaria três temas que são citados em alguns desses livros: a importância de se buscar o propósito da sua empresa além de resultados financeiros. A busca incessante da melhoria da experiência dos seus clientes através da experimentação e sem medo de errar! E por último, a pedra fundamental de uma empresa é sua densidade de talentos, pois nada supera um time de alta performance!

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