*Por Simone Lettieri, diretora de Digital da Meta
Fui a única mulher ou uma das poucas em ambientes tradicionalmente ocupados por homens durante boa parte da minha jornada acadêmica e profissional. Comecei estudando Física, passei para a Comunicação e, retornei à Física, movida pela curiosidade em uma época de expansão do mundo digital. O lado esquerdo do cérebro é associado ao pensamento lógico e analítico, o direito é ligado à criatividade e a intuição. Minha formação, além de me permitir transitar entre as áreas de humanas e exatas e utilizar diariamente os dois lados do cérebro, ampliou minha visão sobre a importância da diversidade.
Com resiliência e determinação, me apoiei nessa complementaridade de olhares e nas redes de amparo às mulheres na tecnologia para romper estereótipos e superar o gargalo estreito do setor e ascender, mesmo em um ambiente em que mulheres precisam enfrentar desconfianças, bullying e assédios de todo tipo, além de sermos pressionadas a reafirmar nossa competência o tempo inteiro.
O mundo mudou, embora ainda tenhamos um longo caminho pela frente. Sinto que o trajeto que percorri valeu a pena e hoje me dedico a contribuir para avanços no setor de tecnologia, liderando times em uma empresa que realmente reconhece a importância da diversidade em todos os aspectos da vida e, especialmente, no meio corporativo, em que a diversidade agrega ao negócio criatividade e inovação pela soma da multiplicidade de visões e experiências individuais.
Me orgulho ainda ao constatar que a política interna da companhia da qual faço parte vai muito além da questão de gênero, foca nas habilidades essenciais, como capacidade de memória e aptidão para cálculos matemáticos. Inclui pessoas negras, pessoas com deficiência, neurodiversas (autismo, TDAH e dislexia, por exemplo), LGBTQIAPN+, de qualquer faixa etária, origem cultural, étnica e socioeconômica, não só na minha diretoria, mas na empresa como um todo.
Acolher, treinar, fomentar uma rede de networking e capacitar pessoas com suas diferenças, como fazemos internamente, é uma necessidade que continuará viva enquanto a sociedade não estiver representada nas empresas pelos méritos pessoais de cada um, pelo talento e pelo que têm a contribuir, independentemente de quem sejam. Conciliar essas particularidades, muitas delas potencializadas pela chegada ao mercado de gerações impactadas pelas novas tecnologias e por uma visão muito peculiar do mundo, é o desafio cotidiano de todo líder.
A desigualdade de gênero representa apenas uma parte do problema, mas a realidade é desafiadora:
- Há mais mulheres hoje indo para STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) do que quando comecei no setor. Globalmente, segundo dados da Unesco, o percentual é de 35%. No Brasil, 22% dos formandos na área são mulheres.
- Embora representem 45% do total de trabalhadores formais no Brasil, as mulheres respondem por apenas 26% dos empregos em STEM.
- O percentual de mulheres que evoluem na carreira é ainda menor: globalmente, estima-se que cerca de 28% das posições de liderança em empresas de tecnologia sejam ocupadas por mulheres. No Brasil, o percentual raramente ultrapassa 20%, segundo diferentes pesquisas.
- Dar às mulheres as mesmas oportunidades econômicas que os homens poderia adicionar cerca de US$ 12 trilhões ao PIB global até 2025. Isso representa um aumento de 11%, mostrando como a igualdade de gênero tem o poder de impulsionar economias inteiras é o que mostra um estudo da McKinsey Global Institute.
Todos perdem com essa sub-diversidade. A pluralidade no meio corporativo não é apenas uma questão de justiça social, mas de vantagens competitivas para os negócios:
- Quanto mais diversidade, mais ricos são os olhares sobre os desafios, e maior é a atração e retenção de talentos. Isso leva a soluções mais criativas e inovadoras.
- Empresas com equipes diversas têm 35% mais chances de obter retornos financeiros acima da média do setor, segundo cálculos da McKinsey.
Ao democratizar o acesso à tecnologia, a Inteligência Artificial ajuda a abrir novas possibilidades de trabalho, fazendo com que os processos se tornem mais simples e acessíveis, especialmente para as novas gerações – Y e Z. Minha trajetória de vida, desde cedo, me ensinou que educação, tanto em casa quanto na escola, é fundamental para formar pessoas mais inclusivas e abertas à diversidade, sem estereótipos.
A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas são as pessoas, em toda a sua diversidade, que fazem a diferença. A mudança começa com uma educação que valorize tanto as exatas quanto as humanas, e com empresas que abracem a diversidade como um motor permanente de inovação. Pessoalmente, torço para que o futuro da tecnologia seja construído com equidade, em que as pessoas trabalhem em conjunto, compartilhando talentos e pensamentos, para desafiar juntos os limites e alcançar novos horizontes. Juntos!