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Do MVP ao IPO: o erro das startups que tratam design como detalhe

Design é mais do que forma, é linguagem. É o que estrutura o produto para ser compreendido e usado. Saiba mais

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Design | Foto: Canva

*Por Guilherme Ferreira, CEO e fundador da Atomsix

Muitos fundadores ainda caem na armadilha de enxergar o design como um “acabamento” visual que só entra em cena depois que o produto estiver de pé. O resultado dessa mentalidade? Produtos mal compreendidos, experiências truncadas e, em muitos casos, negócios promissores que morrem antes mesmo de ganhar tração. O design precisa ser bem aplicado desde o início, porque não só organiza a casa, como define o sucesso de uma startup.

Essa não é uma afirmação vazia. Basta observar o que diferencia startups que escalam daquelas que patinam: a clareza de proposta, a fluidez da experiência, a capacidade de traduzir valor com simplicidade. E tudo isso passa, inevitavelmente, pelo design.

Quando falamos de MVP (Mínimo Produto Viável), estamos falando de um momento decisivo: o teste de uma ideia no mundo. É o estágio em que a startup precisa validar hipóteses com agilidade, gastar pouco, aprender rápido e evoluir. Só que muitos fundadores cometem o erro de achar que “design bonito” é dispensável nesse momento quando, na verdade, o design funcional é a única ponte entre o que está na cabeça dos criadores e a percepção do usuário.

Nesse contexto, o design é mais do que forma, é linguagem. É o que estrutura o produto para ser compreendido e usado. Quando ele falha, a startup não aprende com o usuário. Quando acerta, o aprendizado é mais rápido e confiável, o que economiza tempo, recursos e evita retrabalho.

Startups que não investem em UX desde o início muitas vezes se veem presas em ciclos de reformulações intermináveis. Aplicativos com tutoriais longos, interfaces genéricas, funcionalidades que competem entre si por atenção e isso afasta usuários e espanta investidores. Mesmo boas ideias não sobrevivem a experiências ruins.

Por outro lado, quando o design é parte da mentalidade fundadora, se torna uma ferramenta estratégica. Startups que integram design, produto e dados, desde o começo tendem a apresentar indicadores melhores de ativação, retenção e indicação. Esses sinais não passam despercebidos pelo mercado.

Design é o pitch silencioso de uma startup

Muitos acreditam que branding, UX e consistência visual são temas para depois da rodada de investimento. Isso é um equívoco. Investidores experientes sabem que design é parte do processo. Quando enxergam um produto que comunica bem seu valor, transmite confiança e oferece uma experiência fluida, eles entendem que há uma equipe preocupada com a execução. E execução é o que mais pesa no cheque.

O design bem feito comunica visão. E visão bem executada comunica maturidade. Mesmo empresas que detêm a melhor tecnologia do mundo, como a OpenAI, entenderam isso: ao adquirir uma startup de Jony Ive (o designer do iPhone), elas estão dizendo que a experiência é o que define a adoção. E sem adoção, não há crescimento.

O erro, portanto, não está na falta de orçamento, mas na ausência de prioridade. Um designer experiente envolvido desde o início, mesmo que como parceiro externo, pode evitar uma série de escolhas equivocadas. O segredo está em prototipar, testar, ouvir e refinar, sempre com foco no que o usuário sente e não apenas no que o time técnico projeta.

Design é o pitch silencioso de uma startup. Mesmo sem dizer uma palavra, ele comunica como a empresa enxerga o problema que quer resolver, o valor que entrega e a forma como respeita o tempo, a atenção e a confiança do usuário.

Em um mercado competitivo e saturado, onde todo detalhe importa, ignorar o design é abrir mão de vantagem competitiva. E para quem está tentando atravessar o vale da morte do MVP até o IPO, isso pode custar caro ou ser fatal.