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*Eduardo Vils é sócio fundador da fintech JUSTA

A notícia de que a adquirente Rede, empresa do grupo Itaú, passou em movimentação financeira neste 2º trimestre de 2023 a Cielo, controlada pelo BB e Bradesco, já era esperada pelos analistas e especialistas do mercado financeiro.

Fazendo uma retrospectiva, voltamos a 2010, quando ainda havia um duopólio, no qual as então Visanet (Cielo) e Redecard (Rede) dominavam o mercado. Nesse cenário, era a Cielo quem tinha uma grande margem de vantagem sobre a sua rival Rede.

Mas, com a abertura proposta pelo Banco Central, vimos a entrada de novos players, com a missão de dar mais opções de escolha aos clientes para aceitação de cartões. Assim surgiram entrantes como Getnet, Bin, Stone, PagSeguro, entre outros. Esse advento fez com que as incumbentes (Cielo e Rede) passassem a disputar com mais players, com movimentos, ofertas e tecnologias diferentes das que as duas gigantes estavam acostumadas; tendo de lidar com novos preços e margens, em condições mais justas para o cliente, pois agora este tinha mais opções de escolha.

Com o passar dos anos, alguns destes entrantes abocanharam fatias maiores do bolo e o outrora mercado concentrado em dois players passou a ser dividido entre cinco ou seis grandes participantes. Mesmo assim, a Cielo e a Rede continuavam a deter a maior parte e não mais nas mesmas participações — juntas detinham menos de 50% da movimentação dos meios de pagamentos.

O que aconteceu, na minha visão como crítico do ‘status quo’ do mercado e sócio fundador de uma fintech, é que a alternância agora de líder de mercado, o que é sempre benéfico, passando da Cielo para Rede, é mais o resultado direto da perda de participação de mercado dos incumbentes para os novos entrantes, do que somente uma disputa entre as duas líderes de mercado.

Vale lembrar que hoje temos iniciativas como as da Granito, Infinitepay, Sumup e da Justa, apenas para citar algumas, além das outras mencionadas anteriormente, que vêm ganhando espaço por suas formas de distribuição e proposta de valor percebida pelos clientes.

A Cielo perdeu mais para os novos entrantes do que a Rede, uma vez que esta, a nova líder, percebeu antes este movimento e buscou formas inteligentes para se plugar e conectar suas soluções de adquirência e de banking às fintechs, startups e software houses, que tem maior agilidade e relacionamento na ponta com os clientes; fazendo com que essas empresas passassem ser aliadas da Rede e de suas soluções.

E o vacilo?

Sobre o título deste artigo “E o Outro Vacilou”, ele é inspirado em um livro sobre a Pepsi que, em certo momento, se aproveitou de um vacilo da Coca-Cola, para ganhar espaço no mercado e passou a vender mais nos Estados Unidos.

Assim como todas as iniciativas podem dar certou ou errado, é importante estar atento às mudanças do mercado, tendências, movimentos de concorrência e, se estes estiverem indo para o lado errado, aproveitar para ganhar o seu espaço ao sol e aumentar sua participação.

Ao contrário do livro, no qual a Coca-Cola recuperou a liderança, acho pouco provável que a Cielo venha a curto ou a médio prazo retomar a liderança, pois os vacilos não foram pontuais e, ao mesmo tempo, os movimentos dos novos entrantes e da Rede são bem sustentáveis para que continuem ganhando mercado. Tudo isso, claro, na minha justa e modesta opinião.

Parabéns à Rede, por entender que o mercado é conectado, plugado e que os nós fintechs, startups e empresas de software temos muito como “competir” juntos, levando o que temos de melhor para o mercado. Seja a segurança, experiência e solidez dos incumbentes junto com a agilidade, leveza e tecnologia das entrantes.

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