Nos últimos anos, a economia circular – modelo que desafia o tradicional paradigma linear de extração, transformação e descarte – tem ganhado destaque no universo empresarial. Nesse contexto, as startups de sustentabilidade (também conhecidas como greentechs) emergem como protagonistas na criação de soluções que incorporam os princípios da circularidade, promovendo o uso eficiente de recursos e minimizando resíduos por meio da reutilização e reciclagem.
Além de trazer ganhos tangíveis, como a redução de custos com matéria-prima e a geração de novas receitas a partir de subprodutos, a adoção da economia circular oferece vantagens estratégicas. Ela atrai investidores atentos a critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) e facilita o atendimento a normas ambientais. Dessa forma, a economia circular consolida-se como uma promissora oportunidade de inovação e crescimento no dinâmico cenário do empreendedorismo.
O que é economia circular?
A economia circular é um modelo de produção e de consumo que busca minimizar o desperdício e maximizar a utilização de recursos, promovendo um ciclo contínuo de uso de produtos e materiais. Ele envolve a partilha, o aluguel, a reutilização, a reparação, a renovação e a reciclagem de materiais e produtos existentes, alargando o ciclo de vida destes.
A economia circular no ordenamento jurídico brasileiro
A economia circular vem sendo gradualmente incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro, principalmente por meio de legislações voltadas à proteção ambiental. Um marco importante é a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que estabelece princípios como o desenvolvimento sustentável, o reconhecimento de resíduos sólidos reutilizáveis como bens econômicos e de valor social, a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e a cooperação entre diferentes esferas do poder público, setor empresarial e demais segmentos da sociedade (art. 6º, IV, VI, VII e VIII). Além disso, a PNRS apresenta objetivos alinhados à lógica da economia circular, como a redução, reutilização, reciclagem, tratamento e gestão integrada de resíduos, bem como a priorização de produtos reciclados ou recicláveis em aquisições governamentais (art. 7º, II, VII e XI).
O Decreto federal nº 10.936/2022, que regulamenta a PNRS, reforça esse arcabouço ao estruturar o Programa Nacional de Logística Reversa (art. 12). Sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente, o programa atua como um instrumento estratégico para a integração e coordenação dos sistemas de logística reversa no país. Esses sistemas, por sua vez, consistem em um conjunto de ações, procedimentos e recursos voltados a viabilizar a coleta e a devolução de resíduos sólidos ao setor empresarial, permitido o reaproveitamento desses materiais ou garantindo a sua destinação ambientalmente correta.
Outra contribuição significativa vem do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que editou diversas resoluções essenciais para a implementação de práticas circulares. Entre elas:
Resolução nº 307/2022: estabelece diretrizes para a gestão de resíduos da construção civil.
Resolução nº 401/2008: define critérios e padrões para descarte e reciclagem de pilhas e baterias.
Resolução nº 362/2005: regula a coleta e destinação de óleos lubrificantes usados ou contaminados.
Resolução nº 416/2009: dispõe sobre a destinação ambientalmente adequada de pneus.
Esses e outros instrumentos legais consolidam a economia circular como um princípio norteador das políticas ambientais no Brasil.
Oportunidade para as greentechs
A economia circular representa um vasto oceano de oportunidades para as greentechs, permitindo que startups criem soluções inovadoras e sustentáveis. A contribuição dessas empresas pode se dar de diversas formas, destacando-se iniciativas que aliam tecnologia, criatividade e impacto ambiental positivo.
Um campo estratégico para as greentechs é o desenvolvimento de tecnologias para otimizar a coleta, a reciclagem e o reaproveitamento de resíduos. Exemplos bem-sucedidos incluem:
- Vertown: plataforma que realiza a rastreabilidade de resíduos em toda a cadeia produtiva, fornecendo dados para medição e melhoria de indicares ESG;
- Valora Recicláveis: startup de valorização de resíduos sólidos recicláveis e sustentabilidade, que atua na coleta seletiva e projetos de sustentabilidade para empresas; e
Outra tendência é o upcycling, técnica que consiste em transformar resíduos em produtos de maior valor agregado. Um exemplo de destaque está na moda sustentável, onde startups como a Refazenda reaproveitam resíduos têxteis para criar em roupas e acessórios, conciliando criatividade e sustentabilidade.
Marketplaces de resíduos também despontam como soluções promissoras. Esses ambientes conectam geradores de resíduos a indústrias que podem reutilizá-los, gerando valor econômico e ambiental. Destaque para a Composta+, greentech que coleta resíduos orgânicos de residências e empresas, promovendo a compostagem e oferecendo benefícios aos usuários, e a Cataki, aplicativo que conecta profissionais da reciclagem a empresas e residências, funcionando como uma espécie de “Uber da reciclagem”.
Conclusão
O Brasil apresenta grande potencial para liderar o desenvolvimento de soluções em economia circular. O avanço regulatório, combinado com a crescente demanda por inovação, cria um ambiente favorável para transformar desafios ambientais em oportunidades de negócio, fortalecendo o país como um importante polo de inovação sustentável no cenário global.
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