*Tatiana Pimenta é CEO da Vittude
Essa simples pergunta enviada pelo personagem Elmo, da Vila Sésamo, em sua conta no X (antigo Twitter), alcançou incríveis 210 milhões de visualizações até o momento, e recebeu mais de 20 mil respostas de pessoas que compartilharam suas dores e ansiedades na manhã de uma segunda-feira de janeiro. Como qualquer mensagem que viraliza, não é possível saber o gatilho desse processo. A primeira resposta de dor enviada por um seguidor pode levar outra pessoa a compartilhar o mesmo e assim sucessivamente.
Mas o fato é que o conteúdo dos textos deu vazão aos milhares de usuários da rede social que utilizaram o local para compartilhar seu sofrimento. O acontecimento chamou até a atenção do presidente dos EUA, Joe Biden, sobre a necessidade de se falar com maior frequência sobre saúde mental.
Cuidar da saúde mental e integral é urgente. Infelizmente ainda existe muita desinformação sobre o tema, que vem carregado de estigmas. Mas os transtornos estão aí, na vida das pessoas, e posts como o do Elmo servem como um alerta vermelho de que é preciso um movimento ainda mais amplo, com políticas públicas de saúde, além de apoio da sociedade e da iniciativa privada.
E, como os indivíduos não são “um no trabalho e outro em casa”, também nas organizações o tema é urgente e crítico, não só pelo impacto na saúde mental que atinge parte dos trabalhadores, como pelos custos para as empresas. Absenteísmo, aumento do turnover voluntário e da sinistralidade, levando a altos índices de reajuste nos planos de saúde são apenas alguns dos indicadores que podem ser medidos para avaliar o impacto financeiro na companhia.
Dados do Ministério da Previdência Social revelam que os afastamentos por transtornos de saúde mental cresceram 38% em 2023 em relação ao ano anterior, período em que foram concedidos 288.865 benefícios. Por isso, a saúde mental precisa mais do que nunca fazer parte da estratégia corporativa.
As empresas que não se posicionam sobre essa questão estão apenas tapando o sol com a peneira. É questão de tempo: o desengajamento aumenta, as metas não são atingidas e problemas no clima organizacional impedem o crescimento do negócio.
Elmo e o importante papel dos líderes
Antes de empreender, trabalhei no mercado corporativo, atuando como Engenheira Civil e depois como Gerente de Vendas nesse setor. Durante esse período, tive três experiências que demonstram a importância que um líder tem para seus liderados e, consequentemente, para o engajamento dos times e o atingimento das metas.
Um deles foi o meu gestor na Arauco, multinacional chilena da área florestal que no Brasil produz painéis de madeira para a indústria moveleira. Trabalhávamos juntos em 2012, um ano muito tumultuado e sofrido para mim.
Passei por questões pessoais desafiadoras, incluindo um episódio de violência doméstica e um diagnóstico de depressão. A habilidade dele em reconhecer os sinais de que algo não estava bem e oferecer ajuda foi crucial para que eu buscasse ajuda profissional. Um gestor acolhedor, empático, que enxergava as pessoas e as apoiava. Quando saí da Arauco para uma nova oportunidade profissional, o mais difícil foi me despedir dele e desse ambiente absolutamente acolhedor.
Três anos depois, em 2015, a Hilti estava passando por um processo de reestruturação e, mesmo estando dentro das metas e entregando um bom trabalho, fui desligada da empresa devido a uma mudança estratégica da companhia e ao cenário econômico. A experiência daria uma aula de tudo o que um líder não pode fazer em um processo de demissão.
Era uma sexta-feira, dia em que fui convocada para uma reunião emergencial que aconteceria na segunda-feira pela manhã. Minha intuição já dizia que algo estava errado. Quando perguntei sobre a pauta, meu chefe foi lacônico e seco, dizendo que não era necessário nenhum preparo. Estranhei.
Quando chegou o dia, fui chamada até sua sala e a demissão foi curta e rápida. Muito diferente da demissão humanizada que vivi na Votorantim, também por contextos de mercado, alguns anos antes. Meu líder foi me procurar na minha sala, me levou para tomar um café e se mostrou absolutamente sensível e empático em um momento tão desafiador como o de uma demissão.
Como estão todos?
Essa pergunta, quando é feita de forma genuína por um líder, faz toda a diferença na experiência do colaborador e em seu bem-estar na organização. Ela constrói um ambiente de segurança psicológica, em que as pessoas se sentem mais confortáveis em serem quem são, sem medo de críticas ou julgamentos.
As relações de trabalho se tornam mais saudáveis e os colaboradores se sentem mais valorizados. Os resultados? Maior senso de pertencimento, dedicação e, certamente, aumento da produtividade, com menos ausências relacionadas a questões de saúde mental.
Assim como Elmo perguntou numa manhã de segunda-feira a seus seguidores no X, desejo que essa simples e poderosa pergunta seja catalisadora de relações mais humanas e de uma escuta atenta nas organizações. E, se ela receber o mesmo nível de respostas de dor e desabafo que o personagem teve em sua rede, aproveite isso para olhar o copo meio cheio da situação.