*Debora Ferrari é sócia e diretora de produto e tecnologia no Doutor123
A integração eficaz de tecnologias digitais no setor da saúde é uma necessidade imperativa, impulsionada pela busca incessante por uma prestação de cuidados mais eficiente, integrada e personalizada, visando o empoderamento dos pacientes.
Muito se fala sobre o impacto financeiro causado às operadoras de planos de saúde devido ao ineficiente armazenamento, análise e gestão de dados, mas qual o impacto para os pacientes? A dor mais imediata, com certeza, é a da repetição de informações, acarretando jornadas muito mais longas e exaustivas. Mas existem outros impactos ainda mais preocupantes, como diagnósticos imprecisos e tratamentos menos eficientes.
A manipulação de dados de saúde é uma questão delicada, especialmente à luz da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A importância de garantir a segurança e privacidade dos dados dos pacientes é crucial e deve ser cuidadosamente considerada em todas as iniciativas de integração e compartilhamento de informações.
Ainda assim, é necessário que o paciente seja dono de seus dados e possa utilizá-los ao seu favor, administrando sua jornada de cuidado com a saúde. Com um histórico de saúde centralizado, os pacientes podem visualizar seus atendimentos, prescrições, tratamentos, exames e alergias, simplificando o acompanhamento e garantindo um cuidado mais informado e abrangente.
De acordo com pesquisas realizadas pela Research Center, núcleo de pesquisa da Afya, mais de 75% dos consultórios e clínicas médicas utilizam sistemas de prontuário eletrônico e gestão do consultório, sendo essa adoção ainda mais expressiva nos hospitais. Se mais de três quartos das instituições estão no ambiente digital, o que falta para que as informações sejam registradas e compartilhadas de forma segura?
A união das healthtechs, somada à compreensão da relevância da centralização das informações do paciente, tem sido o primeiro passo nessa direção. Juntos, podemos oferecer uma experiência otimizada de centralização de dados e gestão de permissões de acesso, garantindo segurança e eficiência no ecossistema de saúde.
Porém, para um sistema de saúde realmente conectado, é essencial a integração de dados do SUS (Sistema Único de Saúde) e das grandes instituições de saúde. É nesse contexto que o OpenHealth, modelo de digitalização e compartilhamento seguro de dados de saúde que vem sendo estudado pelo Ministério da Saúde, pode desempenhar um papel fundamental na evolução do tema, oferecendo aos pacientes o acesso integral às suas informações de saúde e capacitando-os a tomar decisões mais informadas para sua jornada de cuidados.
E a inteligência artificial com isso?
A inteligência artificial (IA) surge, então, como uma poderosa aliada nesse cenário. A coleta e análise eficazes de dados são cruciais para o desenvolvimento efetivo da IA, que pode aprimorar a tomada de decisões em saúde com base em padrões complexos e probabilidades mais precisas.
A tecnologia de análise de sintomas alimentada por IA, exemplifica o potencial dessa tecnologia, como evidenciado por casos em que contribuiu para um diagnóstico mais rápido e eficiente, fornecendo aos profissionais de saúde informações valiosas para fundamentar suas análises.
Mergulhando um pouco mais na tecnologia, temos startups explorando o aprendizado de máquina, em que a tecnologia vai além da probabilidade. Nesses casos, a IA ‘aprende’ a analisar informações através de dados ou experiências anteriores.
Temos no mercado aplicativos capazes de medir sinais vitais, como batimentos cardíacos e oxigenação, através da análise de imagens faciais por meio da câmera do celular. Já para as instituições, encontram-se tecnologias que analisam exames de imagem, como radiografias, e são capazes de identificar características suspeitas e auxiliar na detecção precoce de câncer.
Mais uma vez, voltamos aos dados. Já evoluímos muito no entendimento sobre como utilizar a tecnologia para colaborar, não só com o mercado de saúde, mas com a forma de viver a saúde. Mas o desenvolvimento de soluções relevantes, como os exemplos que citamos, só será possível a partir da união entre as instituições para uma interoperabilidade de dados e maior empoderamento do paciente.
Quando o mercado chegar nesse momento, a prevenção, o diagnóstico e o tratamento serão, sem dúvida, mais assertivos, mais baratos e mais duradouros. Seguimos trabalhando diariamente para isso.