*Diogo Catão é CEO da Dome Ventures
Dados recentes do Distrito referentes ao primeiro trimestre de 2023 mostram que houve queda de 86% nos investimentos em startups no Brasil, em relação ao mesmo período de 2022. O ano passado mobilizou US$ 1,7 bilhões de investimentos e até o momento tivemos US$ 247 milhões captados, o que acendeu uma luz de alerta no setor de inovação.
Essa queda é relacionada a investimentos em médio prazo, institucionais, que estão cada vez mais rigorosos. Entretanto, para startups nos estágios de ideação e validação, pré-seed e seed, os aportes continuam quentes. Isso porque os investimentos são em médio e longo prazo.
Atualmente, o cenário é de cautela, porém sem pausa nas atividades. Os investidores estão atentos aos riscos e tomando mais cuidado ao investir. Por um lado, a pandemia acelerou a produção de tecnologia, criando oportunidades para empresas que desenvolvem soluções inovadoras. O volume de investimentos na etapa inicial foi grande. Por outro, as startups agora enfrentam sistemas mais rigorosos para tirarem a ideia do papel com os recursos necessários.
A redução nesse primeiro trimestre está relacionada à alta da taxa de juros. Logo, alguns investidores aplicaram dinheiro em renda fixa por causa do menor risco. No entanto, trata-se de uma fase transitória. É preciso ficar atento às mudanças do mercado que podem transformar esse momento em uma etapa mais positiva. As tensões comerciais entre países e a economia, por exemplo, são variáveis que alteram cenários. Por isso, é necessário sempre observar essas questões.
Iniciativas continuam, com mais estratégia
Tudo isso não significa que os investimentos diminuíram; as iniciativas continuam, só que de forma mais estratégica. Nesse sentido, é importante analisar o mercado em que a startup está inserida, averiguar se o setor está aquecido economicamente, ponderar a capacitação do time à frente da solução e a perspectiva de crescimento.
Tarefas difíceis, diga-se de passagem. Por isso, os investidores hoje buscam as CVBs para diversificarem suas apostas. Isso porque as corporate venture builders já fazem todo esse trabalho, além disso, minimizam riscos e aumentam as chances de retorno financeiro, até mesmo mais do que uma renda fixa pode proporcionar.
Também não destaco apenas o aspecto financeiro. Afinal, há muitas startups que promovem o desenvolvimento social com suas propostas. Então, sugiro que, diante de uma análise, o investidor considere a linha de propósito para seu investimento, porque pode se deparar com uma oportunidade de alavancar o desenvolvimento do país.
Com o decréscimo de investimentos em startups no Brasil, não dá para dizer que o inverno já passou. Entretanto, é preciso olhar para novas perspectivas.
O cenário econômico varia de setor conforme o mercado em que a startup atua. Ainda há desafios a serem superados, considerando os resquícios da pandemia e outros fatores externos que são um calo no sapato dos empreendedores. Dessa maneira, é importante focar na geração de valor para os clientes, com a finalidade de fechar novas notas fiscais.
Para as startups, o conselho é monitorar o mercado e criar estratégias para garantir a sustentabilidade e o desenvolvimento do negócio em longo prazo. Observando mais de perto dados que já foram abordados anteriormente, as fintechs, seguidas do setor de supply chain e as startups com soluções de energia foram os segmentos que mais receberam investimentos de venture capital.
Novamente, destaco: o inverno ainda não passou, mas com foco e determinação é possível superá-lo.