
*Por Tatiana Pimenta, CEO da Vittude
Empreender sendo mulher nunca foi simples. E, na maioria das vezes, também nunca foi planejado. Muitas de nós começamos por necessidade, por inquietação, por acreditar que dava para fazer diferente (e melhor). Quando fundei a Vittude em 2016, eu não tinha mapa, manual e nem modelo. Tinha uma dor, e uma crença profunda de que cuidar da mente das pessoas precisava deixar de ser tabu. O que eu não sabia, na época, é que esse passo seria também um mergulho em mim mesma: em minhas inseguranças, na solidão da liderança e nas renúncias que ninguém conta. Empreender, afinal, é abrir caminho. E quem abre caminho precisa lidar com a poeira, o barro e os tropeços do percurso.
Costuma-se dizer que empreendedores são movidos por propósito. Mas propósito sem estrutura cansa, e coragem sem rede esgota. Nos primeiros anos, vivi o que muitas fundadoras vivem: longas jornadas, reuniões em que era a única mulher na sala e um esforço quase sobre-humano para provar que merecia estar ali.
Na prática, empreender sendo mulher é equilibrar expectativas incompatíveis. Esperam que sejamos firmes, mas empáticas. Visionárias, mas prudentes. Mães, mas disponíveis. E tudo isso, de preferência, com leveza. A leveza, aprendi, é construída, e nasce quando a gente se permite falhar, pedir ajuda e redefinir o ritmo. Foi preciso tempo e terapia para entender que não existe sucesso sustentável quando o preço é o esgotamento.
Toda mulher que empreende em um ecossistema ainda desigual carrega um fardo e uma missão — o de precisar provar o óbvio: que competência não tem gênero. E a missão de deixar o caminho um pouco mais fácil para as que virão depois. Em 2025, o empreendedorismo feminino avança, mas ainda enfrenta muros invisíveis: a falta de acesso a investimento, a sobrecarga mental e o machismo disfarçado de “preocupação com o risco”. Mesmo assim, seguimos construindo, inovando, transformando. Empreender, para mim, foi — e ainda é — um ato de fé: em uma ideia, em pessoas, e em mim mesma. E fé, acima de tudo, de que abrir caminho vale a pena, mesmo quando a estrada ainda não existe.
O futuro que começa com uma decisão
Hoje, prestes a me tornar mãe, olho para a trajetória e percebo o quanto cada escolha pavimentou o que vem pela frente. Entendo, com mais clareza, que empreender é sobre responsabilidade com a empresa, com o time, com a sociedade, e com o futuro que queremos deixar.
Cada projeto que nasce, cada mulher que ousa, cada negócio que se mantém de pé é uma semente de transformação. E o mais bonito é perceber que, quando abrimos caminho, não caminhamos sozinhas. Atrás de nós, sempre haverá outras mulheres seguindo os rastros, e criando as próprias rotas. Empreender é isso: ter a coragem de ser a primeira, sabendo que o que vem depois nunca mais será o mesmo.
Neste 19 de novembro, Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, celebro cada mulher que ousa começar, recomeçar e insistir. As que enfrentam o medo, as que conciliam sonhos e boletos, e as que lideram com alma. Que sigamos abrindo caminhos por nós, pelas que vieram antes e pelas que ainda virão.