*Dan Yamamura é sócio fundador da Fuse Capital e BRX Finance
Dividir a vida entre atividades esportivas de alto rendimento e a atuação no mercado de investimento traz ensinamentos interessantes para o dia a dia de um investidor. O esporte é sábio, é o mestre dos mestres, independente da modalidade praticada. Quanto mais a gente se dedica, mais ele nos devolve. E por mais que pareça contraditório, as grandes lições não vêm das vitórias, mas sim das derrotas.
Há anos me apaixonei em desafiar os limites do corpo e nessa trajetória acumulo um Full Ironman, dois full Haute Route, mais de cinco maratonas, duas ultramaratonas e mais de uma dezena de Half Ironman. E afirmo que o peso de uma derrota depende da maneira como você encara a vida. Um ou mais fracassos – seja na vida, no mercado de investimentos ou no esporte – também são capazes de te derrubar. Mas quando você senta, reflete e entende o que aquela derrota te ensinou, você levanta a cabeça e segue para a grande vitória. Ainda assim, essa trajetória não acaba na grande vitória e tudo depende de quais são as suas ambições, que são desejos mais íntimos e muitos particulares que demandam um autoconhecimento profundo.
Para participar de uma prova de alto rendimento, é preciso meses ou até anos de preparação. São treinos específicos, alimentação voltada à atividade física, acompanhamento de um ou mais profissionais e muita dedicação – que não necessariamente se reflete em um volume de horas. A verdadeira dedicação aparece naquele treino que teve que ser feito fora do horário por causa de um compromisso com seu filho, com o seu trabalho ou com seu amigo. Aquele treino que estava chovendo, aquele que estava frio. Ou seja, aquele que você não estava a fim de fazer ou não estava na melhor condição, seja interna, como cansaço, ou externa, que pode ser o clima ou falta de um local apropriado.
E por mais que você chegue no dia da prova o mais preparado possível, muitas variáveis podem te ajudar ou prejudicar no resultado – e isso ocorre também ao realizar os investimentos. Alguns competidores vão bem em dias de clima mais amenos, mas muito mal na chuva. Às vezes, você está prestes a fazer a melhor prova da sua vida, mas pode ser prejudicado por um acidente causado por outro adversário onde não teve nenhuma culpa. Assim é a vida em todos os seus aspectos. Nem sempre justa ou planejável, mas sempre incontrolável.
Tendo vivido algumas décadas na indústria de investimentos, tenho usado o esporte como referência para as minhas decisões de investimento. Por mais que você conheça a área de atuação, converse com especialistas, tenha uma equipe dedicada e altamente qualificada, seu investimento pode ser impactado por inúmeros fatores que estão fora do seu controle. Pode ser o início de um conflito geopolítico no exterior, uma crise inesperada na empresa investida, fraude, qualquer coisa. De novo, planejável, mas incontrolável.
Exatamente a mesma situação no mercado de venture capital, o processo até o sucesso no retorno do aporte realizado também tem seus paralelos em relação à vida de um atleta. Antes de iniciar um investimento, diversas questões são analisadas em uma startup. A inovação do produto ou solução oferecida, o impacto no mercado de atuação, seu potencial no longo prazo, as pessoas envolvidas no projeto, etc. Após essa análise, o maior desafio é definir se vale o investimento, e o tamanho do aporte a ser realizado.
Independentemente da estratégia escolhida, a melhor decisão vem com o tempo, após lidar com pequenas e dolorosas derrotas ao longo do caminho. Saber a hora de aumentar o passo em uma corrida ou aportar mais ou menos capital em uma empresa é algo que aprendemos ao participar das provas, sejam elas do esporte ou do mercado de investimentos. E essa “mágica” envolvendo esporte, mercado de investimentos e vida real vem com o acúmulo de experiências. São tantas as situações que a gente já viveu que sempre dá para encontrar alguma analogia numa situação já vivida anteriormente. E muitas vezes são situações do esporte que valem para os investimentos, da vida para o esporte, dos investimentos para a vida, e assim vai. Essa relação é muito rica.
É por isso que lido com o esporte de maneira paralela com a minha carreira profissional. O esporte amador tem como objetivo ajudar a nos tornarmos um ser humano melhor. Um ser humano justo, dedicado, esforçado, resiliente, que usa derrotas para avançar, que cai e se levanta, que entende o concorrente como alguém que está ali para ajudar a arrancar de você uma força que você nem imagina que tem.