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ETF de Bitcoin nos EUA: potencial ciclo de alta e credibilidade como ativo

Com a entrada da BlackRock no circuito, a aprovação de ETFs pode ser o catalisador do ciclo de alta mais importante do Bitcoin até aqui

Foto: Canva
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*Luiz Parreira é fundador e CEO da Bipa

A Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês) tem onze pedidos de ETF (Exchange Traded Fund) ligados ao preço de varejo do Bitcoin (BTC) sob análise. Embora a história do regulador estadunidense com esses ETFs tenha começado em 2013, eles nunca foram aprovados.

Agora, no entanto, as chances são maiores do que nunca. Com a entrada da BlackRock no circuito e a decisão favorável à Grayscale em um processo contra SEC, a aprovação desses ETFs pode ser o catalisador do ciclo de alta mais importante do Bitcoin até aqui.


Os ETFs de Bitcoin e a SEC antes

Já existem ETFs de Bitcoin sendo negociados nos EUA. Esses instrumentos de investimento, porém, são ligados às cotações de contratos futuros do BTC. A expressão “ETF de Bitcoin”, portanto, se refere aos fundos ligados ao preço de varejo do criptoativo.

Um ETF é um fundo cujas cotas são negociadas em bolsa. Ou seja: investidores que ainda não possuem exposição ao Bitcoin poderiam adquirir o ativo através de cotas de fundos, o que justifica a importância que o mercado dá para esses ETFs.

Nos últimos dez anos, contudo, a SEC se recusa a aprovar um ETF de Bitcoin, alegando uma suposta facilidade na manipulação do mercado de BTC através destes fundos. Essa foi a mesma justificativa utilizada para recusar todos os pedidos feitos até então.

Mas as coisas podem não ser assim para os onze ETFs de Bitcoin aguardando aprovação da SEC atualmente.

O cenário atual

O movimento pela aprovação do primeiro ETF de Bitcoin nos Estados Unidos ganhou força quando, em junho deste ano, a BlackRock entrou com o pedido de seu próprio fundo ligado ao preço de varejo do BTC.

Além de ser a maior gestora do mundo, com US$ 8,5 trilhões em ativos sob gestão, a BlackRock tem um histórico extremamente vitorioso em seus pedidos de ETF: são 575 aprovações contra apenas uma rejeição.

A entrada da BlackRock foi o suficiente para que os analistas de ETF da Bloomberg, James Seyffart e Eric Balchunas, afirmassem que as chances para aprovação desse instrumento de investimento com exposição ao BTC em 2023 subiu de 50% para 65%.

Outro ponto positivo decorrente da entrada da BlackRock na corrida por um ETF de Bitcoin foi o crescimento na confiança das gestoras. Entre julho e setembro, sete pedidos foram feitos à SEC além daquele feito pela maior gestora de ativos do mundo.

Prazos para aprovação dos onze pedidos de ETF (Foto: James Seyffart/Twitter)

A imagem acima mostra quatro prazos diferentes para a SEC decidir sobre os diferentes pedidos de ETF. O prazo ‘real’ é aquele marcado como Final Deadline, onde o regulador deve decidir definitivamente sobre os pedidos. Nos outros prazos, porém, a SEC também precisa se posicionar, ainda que seja apenas para prorrogar a decisão dos ETFs para o prazo seguinte.

Embora oito pedidos tenham prazos para outubro, a expectativa é que a SEC se decida somente no primeiro trimestre de 2024. E é nesse período que, caso o regulador recuse os pedidos, conheceremos sua próxima justificativa para não aceitar um ETF de Bitcoin.

Isso porque, em 29 de agosto, uma juíza da Corte de Apelações dos EUA decidiu favoravelmente à Grayscale em seu processo contra a SEC. Agora, para recusar um pedido de ETF e não motivar mais apelações bem-sucedidas, a SEC deverá usar outro argumento que não seja uma suposta manipulação de mercado.

As mudanças nos ciclos

Durante o ciclo de alta exibido pelo Bitcoin em 2017, os investidores institucionais ainda estavam em fase de descrença.

O ciclo de alta de 2021, porém, foi bem diferente. Pouco se falava em ETF, mas empresas de capital aberto, como MicroStrategy e Tesla, acrescentaram Bitcoin às suas tesourarias, JP Morgan, em novembro de 2022, negociou dólares singapurianos tokenizados por ienes tokenizados em sua primeira transação com ativos digitais.

Mas a entrada institucional ainda é tímida, e isso pode mudar com a aprovação dos ETFs de Bitcoin até o primeiro trimestre de 2024.
Os impactos positivos

O primeiro impacto positivo para o Bitcoin trazido pela aprovação do primeiro ETF nos Estados Unidos é o reconhecimento incontestável de seu valor como ativo. Um aval da SEC dirá aos gigantes de Wall Street que o mercado é confiável e o criptoativo pode ser mantido no balanço sem grandes preocupações.

E é por isso que acredito que o próximo ciclo de alta do Bitcoin, caso aconteça com esses ETFs aprovados, pode ser o mais importante até aqui: ele coloca um ponto final na discussão sobre a validade do BTC como ativo. É a catapulta que a maior criptomoeda em valor de mercado precisa para chegar, definitivamente, no seio das finanças tradicionais. E é lá de dentro que a revolução começa, mas isso é papo para outro dia.

Essa valorização dos fundamentos do Bitcoin impactará, consequentemente, no seu preço, já que as gestoras precisarão adquirir BTC para lastrear as cotas dos fundos. A título de exemplo, a Grayscale tem US$ 50 bilhões em ativos sob gestão, e conta com 643.572 BTC no seu fundo Grayscale Bitcoin Trust.

Em uma análise conservadora, o ETF da BlackRock deve adquirir metade, pelo menos, de todo o saldo em BTC que a Grayscale possui. E isso já considerando que a BlackRock tem alguma exposição prévia ao Bitcoin.

Essa pressão de compra pode impulsionar significativamente o preço do Bitcoin, criando grandes chances para a criptomoeda romper sua máxima histórica em US$ 69 mil.

É possível notar, portanto, que a aprovação do primeiro ETF de Bitcoin nos Estados Unidos poderá causar impactos muito positivos no mercado de criptomoedas, tanto no preço quanto nos fundamentos.

Veja detalhes sobre as decisões da SEC e seus impactos nos ETFs aqui.