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Femtechs: Um mercado que cresce impulsionado pelo capital feminino

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* Erica Fridman, co-fundadora do Sororitê, e Marina Ratton, fundadora e CEO de Lilit & Feel

Apesar de ser um nicho ainda muito novo dentro do ecossistema de inovação, tecnologia e saúde, as femtechs, startups focadas no desenvolvimento de soluções de necessidade do universo feminino – especialmente no segmento de saúde e bem-estar –, vêm, aos poucos, ganhando espaço no país. Hoje temos no Brasil, de acordo com dados do Female Founders Report 2021, 23 empresas voltadas para essa área, o que é ainda muito pouco se comparado, por exemplo, com o mercado americano, onde o número de femtechs já ultrapassa 760. Mas, sem dúvida, é um começo. E um começo promissor, principalmente se levarmos em conta o interesse que esses novos negócios têm despertado entre as investidoras mulheres.

No universo ainda predominantemente masculino das startups, temos visto cada vez mais mulheres com reservas financeiras e experiências profissionais sólidas dispostas a encarar o desafio de apostar no mercado de risco. Embora, de acordo com levantamento da Anjos Brasil, apenas 13% do total de investidores-anjos no país seja do sexo feminino, são os aportes financeiros alavancados por elas que, até agora, têm dado sustentação para o surgimento e crescimento das femtechs brasileiras. 

Para demonstrar com um exemplo prático essa tendência, vale citar o case da Feel & Lilit, marcas voltadas para o segmento de saúde e bem-estar sexual das mulheres.  Desde que foram criadas, em 2020, nada menos do que 87% do capital recebido pelas duas marcas veio de investidores do sexo feminino. Este exemplo, aliás, ilustra bem um dado do relatório do PitchBook de 2019, que mostra que investidoras são duas vezes mais propensas a aplicar recursos em startups fundadas também por alguém do sexo feminino. Quando essa startup é liderada por uma CEO, a propensão sobe ainda mais, chegando a até três vezes.

Hoje, inclusive, despontam no Brasil grupos de investidoras-anjo, como o Sororitê, formado exclusivamente por mulheres que investem em negócios fundados ou liderados por outras mulheres. Com mais de 80 participantes, o Sororitê já captou, em menos de dois anos, mais de R$ 4 milhões em investimentos, parte deles aplicado em femtechs. Iniciativas como essas são fundamentais para diminuir o gap de gênero na indústria de Venture Capital, ainda liderada majoritariamente por homens, sendo composta hoje, de acordo com a plataforma Distrito, por 74% de fundos de investimento sem uma mulher sequer como founder.

O capital vindo de investidores do sexo feminino tem possibilitado que mais mulheres empreendedoras se aventurem pelo novo nicho das femtechs, possibilitando que mais talentos desenvolvam produtos focados em necessidades da jornada de saúde e bem-estar da mulher, posto que essas lideranças entendem e vivem na pratica o impacto destas questões em suas vidas, afinal, esse tipo de investimento e inovação impacta a saúde e, ao mesmo tempo, o mercado, uma vez que essas são as empresas responsáveis por movimentar a economia e trazer mais qualidade de vida para as mulheres. 

Para acelerar esse movimento falta, no entanto, atrair a atenção dos investidores homens, que ainda não se atentaram para todo o potencial que esse mercado representa. Por uma questão de falta de similaridade ou dificuldade de se conectar com a dor, os fundos liderados por homens seguem demonstrando pouco interesse em investir em negócios de inovação e tecnologia voltados ao universo feminino, muitas vezes deixando-os de lado em suas estratégias de portfólio.  

Agindo assim, podem estar perdendo grandes oportunidades de retorno consistente. Isso porque, no mundo, a projeção de crescimento das femtechs é altamente positiva: estimativas da Statista, esse nicho pode movimentar mais de 100 bilhões de dólares até 2030.  E no Brasil, onde temos uma população predominantemente feminina, esse mercado ganha especial visibilidade. Ainda mais se levarmos em conta que aqui, nos últimos anos, os assuntos relacionados ao universo da saúde feminina passaram a ser tratados com maior aprofundamento, trazendo a mulher para o centro do desenvolvimento de soluções que venham em seu próprio benefício. 

Perspectivas tão positivas não devem ser desprezadas. Portanto, tendo em vista que as femtechs são algo ainda muito novo, esperamos que seja apenas uma questão de tempo para que os investidores homens também descubram e apostem nesse mercado.

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