*Eduardo Vils é cofundador da fintech Justa
Você deve conhecer essa expressão “a emenda é pior que o soneto”, né? Que nada mais é do que fazer algo, muitas vezes com boa intenção, como é o caso do fim do parcelamento sem juros, mas que pode gerar impactos piores do que ação. Em suma, ao tentar arrumar algo, piora-se o que existia!
Como sabemos, todas ações geram reações, sendo assim importante entender os custos e os benefícios. Portanto, como qualquer remédio, que tem a finalidade de resolver uma dor, é preciso ter conhecimento profundo dela e colocar na balança os efeitos colaterais do tratamento.
Na discussão sobre o fim do parcelamento sem juros (PSJ), a ideia básica é resolver a dor gerada pelos juros do rotativo dos cartões, e, para tanto, a proposta seria equilibrar essa balança extinguindo os parcelamentos das compras sem juros!
Mas cá para nós, a pessoa que está no rotativo do cartão, não está nele em razão de o parcelamento ter sido feito sem juros, mas, sim, pelo gasto ter sido maior que a capacidade de pagamento da pessoa. Bem, aí, começa a bola de neve.
Eu, como crítico do ‘status quo’ do mercado, sócio fundador da fintech Justa, que é uma referência no segmento de pequenas e médias empresas, reforço que sempre apoiei “iniciativas ou decisões que ofereçam condições para tornar o mercado mais justo, para os consumidores e varejistas”, mas reitero que “a questão não é se terá fim do parcelamento sem juros ou não, mas sim a importância de haver transparência sobre o preço e taxas/juros embutidas ou não em cada modalidade de venda.
Formas justas de vender e comprar
Sendo evidente que o mercado e os preços se adaptarão— como sempre ocorreu —, pois como, via de regra, acontece atualmente nos parcelamentos sem juros, esses já estão com os juros embutidos, de fato majorando os valores à vista. A decisão de vender com ou sem juros, deve ser, na minha opinião, do estabelecimento comercial, deixando claro aos seus “fregueses” os descontos para pagamento à vista, débito e pix, por exemplo, e se há ou não diferença nos valores a prazo. Sempre informando a taxa de juros reais para cada modalidade. Deixando assim a decisão sobre a modalidade de pagamento desejado para o cliente.
Um exemplo clássico de interpretação: “Ao entrar numa loja, você se depara com um cartaz com o preço à vista de R$ 1.000,00 e ou em 10x sem juros (parcelas de R$ 100,00). Se fosse uma aula de português, onde estaria o sujeito (juros) oculto? Eu responderia, no valor à vista! Afinal, se à vista e a prazo os preços são iguais, o valor à vista está com os juros (sujeito) ocultos.
Para mim, esta questão passa pela educação financeira que devemos levar ao mercado, tanto para quem vende quanto para quem compra. Fazendo com que possam tomar a melhor decisão. Não é à toa que a fintech Justa tem como um de seus principais pilares a preocupação de levar, de forma simples e fácil, o conhecimento sobre finanças para seus clientes (estabelecimentos comerciais) para que possam tornar mais eficientes os seus negócios.
Reforço que o que está em jogo não são os parcelamentos com ou sem juros, mas sim formas justas de se vender e comprar, em que as partes envolvidas (lojas e consumidores) têm as informações necessárias para tomar decisões inteligentes e justas para suas vidas e negócios.
Em vez de pôr fim ao parcelamento sem juros, apoio que pessoas e negócios possam realizar suas operações de compra e venda com várias possibilidades, modalidades, meios e sempre de forma justa para todas as partes.
Aproveito para lembrar que “é o limite de crédito (dado pelo banco) que limita (teto) o rotativo e não a oferta do PSJ (pelo comerciante)”.
Abraço e ótimas vendas à vista ou prazo.