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Fusões e aquisições e seu papel econômico-social no cenário brasileiro

M&As
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*Alexandre Borborema é diretor executivo de Investment Banking na Apex Partners

Afetado por incertezas políticas e econômicas e pela alta dos juros, o número de fusões e aquisições em 2023 foi 21% menor do que em 2021, ano recorde com cerca de 1.900 transações concretizadas no país. Com a melhora do cenário nacional e a redução dos juros, ainda que modesta, 2024 começa com boas perspectivas para o mercado de M&A.

Em função das grandes cifras e da relevância dos nomes envolvidos, transações de M&A frequentemente viram notícias que basicamente aprofundam as motivações por trás da operação, do ponto de vista de compradores e vendedores. No entanto, raramente se comenta sobre o efeito mais amplo das transações de compra e venda de participações em empresas.

Como as fusões e aquisições afetam a sociedade em geral? Logo após o anúncio da venda de uma empresa ou de uma fusão, a atenção pública inicialmente busca compreender seus potenciais impactos negativos, como demissões, substituição de fornecedores locais, prejuízos ao grau de concorrência e riscos de redução da qualidade dos produtos e serviços da empresa adquirida. Apesar destes questionamentos tocarem em preocupações válidas, as operações de M&A apresentam também muitos benefícios, que nem sempre são evidentes.

O mercado de fusões e aquisições desempenha importantes papéis para o bom funcionamento da economia e da sociedade. Dentre eles, a criação de liquidez para a participação em empresas de capital fechado merece destaque. Como parte dos recursos da venda são reinvestidos pelos vendedores em novos negócios, empreendimentos e projetos sociais, as fusões e aquisições contribuem para movimentar a roda do capital, gerando empregos e desenvolvimento econômico.

Outro papel importante do M&A é a salvação de empresas insolventes ou pré-insolventes. Afinal, a venda de uma empresa em dificuldade financeira para um grupo mais forte pode livrar o negócio do pesadelo de um processo de falência, salvar empregos diretos e indiretos e preservar a cadeia de fornecedores. Do ponto de vista do consumidor final, essas transações podem também ser benéficas, graças ao potencial de redução do preço de produtos e serviços, resultantes de ganhos de eficiência ou de escala, a serem capturados pelas empresas envolvidas.

Uma função não tão evidente do M&A é sua contribuição direta para a democratização de inovações. Ao serem adquiridas por grupos maiores ou receberem injeção de capital de investidores, estas inovações podem então ser aprimoradas, disponibilizadas em grande escala e até cruzar fronteiras, elevando o padrão de vida e bem-estar da população em diferentes países do mundo.

Adicionalmente, as fusões e aquisições promovem oportunidades de qualificação profissional aos funcionários das empresas envolvidas. Como resultado de uma transação, os colaboradores podem se beneficiar da exposição a novos estilos de gestão, de maior mobilidade de carreira e possibilidade de intercâmbio dentro e fora do país, além do compartilhamento de melhores práticas e know-how entre as empresas.

Maturidade do mercado

A maturidade do mercado de fusões e aquisições também está diretamente ligada à atividade empreendedora de um país. Afinal, ao saber que podem vender suas participações no futuro, as pessoas sentem-se mais propensas a encarar os desafios, incertezas e investimentos de empreender. Em um mercado ativo, as chances de recompensa à frente aumentam, o que eleva o apetite ao risco de dedicar anos à construção de um negócio.

Em mercados de M&A não desenvolvidos, as opções de saída são mais limitadas, o que naturalmente desincentiva o empreendedorismo. Diante destes importantes papéis desempenhados pelas fusões e aquisições, o desenvolvimento de um mercado de M&A forte e funcional mostra-se como um grande impulsionador econômico e social.

Em linha com esses papéis, a expansão do ângulo de análise sobre as aquisições vem sendo defendida por profissionais do mercado e acadêmicos nos últimos anos, de forma a levar em conta a agenda de todos os atores envolvidos e não somente dos acionistas. Além de socialmente responsável, esse olhar mais amplo sobre os efeitos das fusões e aquisições para a comunidade, consumidores, fornecedores, meio ambiente e mercado de trabalho, é também do interesse das empresas, pois aumenta a chance de sucesso em suas transações.

Essa abordagem reconhece a inegável ligação entre M&A e Responsabilidade Social Corporativa, diminuindo as chances de problemas que possam afetar ou comprometer uma fusão ou aquisição. Que essa tendência ganhe força ano após ano, fortalecendo ainda mais a sociedade brasileira, suas empresas e seus mercados.

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