Foto: Canva
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*Escrito por Renan Conde, CEO Brasil da Factorial

O ano de 2026 deve marcar uma consolidação importante para o setor de gestão de pessoas no Brasil. Depois de um ciclo de experimentações com Inteligência Artificial (IA) e automação, as empresas começam a encarar a tecnologia não apenas como ferramenta, mas como estrutura estratégica para organizar processos, gerar eficiência e apoiar decisões de negócio.

Levantamentos recentes mostram que a adoção da IA no RH avança rapidamente, mas ainda sem maturidade plena. Segundo dados apresentados durante o evento Tendências de RH 2026, organizado pela Factorial e pela Edix, 75% das empresas afirmam usar IA no RH há ao menos seis meses, enquanto 78% dos profissionais dizem utilizar IA no trabalho — sendo que 83% recorrem principalmente ao ChatGPT.

Apesar da alta adoção, o uso permanece majoritariamente pontual. 61% das organizações não monitoram métricas de impacto, ética ou privacidade, e 46% ainda não possuem um plano formal de implementação. O resultado é um cenário no qual a tecnologia existe, mas não necessariamente transforma.

IA cresce, mas governança ainda é o principal gargalo

Embora a IA já esteja inserida nas rotinas de RH, a falta de governança e de integração com dados internos é apontada como o maior obstáculo para sua evolução. Segundo o estudo “AI For HR”, feito pela Distrito, em empresas de menor porte, apenas 25% dos times de RH têm autonomia nas decisões relacionadas à tecnologia, o que reforça a fragmentação operacional.

Especialistas ressaltam que, nos últimos dois anos, o movimento predominante foi o uso de modelos de linguagem — como chatbots — voltados a tarefas isoladas, sem conexão com o contexto ou com as necessidades específicas da organização. Ferramentas generalistas conseguem responder, mas não compreendem a cultura, os indicadores ou os históricos da empresa.

O próximo passo é a transição para soluções capazes de operar com contexto real, integradas aos dados corporativos e preparadas para apoiar decisões estratégicas.

2026 deve marcar a consolidação de um RH mais digital e centralizado

As tendências para 2026 apontam para uma área de Recursos Humanos mais organizada, centralizada e orientada por dados. O avanço da automação promete reduzir tarefas operacionais, permitindo que profissionais de gestão de pessoas direcionem esforços a temas de maior impacto organizacional, como:

  • Desenho de estratégias de talento;
  • Análise de dados de força de trabalho;
  • Aprimoramento da experiência do colaborador;
  • Suporte à liderança com informações preditivas.

Especialistas destacam que o RH passa a atuar como “intérprete” entre a tecnologia e as pessoas, equilibrando precisão analítica e sensibilidade humana.

Oportunidades: transformar a IA em competência estratégica

Com a tecnologia já incorporada ao cotidiano das empresas, os próximos anos devem colocar em pauta a construção de estruturas de governança e mensuração. Entre as oportunidades apontadas estão:

  • Criação de frameworks de ética, privacidade e compliance voltados para IA;
  • Definição de métricas padronizadas para avaliar impacto e eficiência;
  • Desenvolvimento da IA como competência central da área de gestão de pessoas;
  • Ampliação da participação do RH nas decisões de tecnologia.

A competitividade das organizações dependerá menos do volume de tecnologia adotado e mais da capacidade de integrá-la de forma estratégica aos processos.

Perspectivas até 2035: IA deve ocupar funções hoje atribuídas à alta gestão

As projeções até 2035 indicam mudanças mais profundas no trabalho, especialmente na alta gestão. A Inteligência Artificial deve assumir parte das funções hoje realizadas por líderes seniores — como o acompanhamento de indicadores, análises financeiras e operacionais, recomendações para decisões críticas e avaliação contínua de desempenho. Esse avanço não significa que a IA vai “roubar empregos”, mas sim que ela tende a substituir apenas quem não se adequar ao seu uso. Na prática, a tecnologia assume tarefas repetitivas e analíticas, permitindo que profissionais se concentrem no que realmente importa: estratégia, liderança e impacto humano.

Em pequenas e médias empresas, esse movimento deve ser ainda mais rápido, já que a automação eleva a eficiência, fortalece a tomada de decisão e amplia a capacidade de gestão sem aumentar custos.

Um novo capítulo para a área de gestão de pessoas

O setor de Recursos Humanos entra em 2026 diante de uma oportunidade histórica: transformar a tecnologia em impulsionadora de eficiência e de impacto humano. A área passa a operar na interseção entre automação, estratégia e cultura organizacional — e esse novo equilíbrio definirá quais empresas estarão preparadas para a próxima década.